26 de janeiro de 1943
25 de março de 2017
Podemos dizer que seu Quirino era um alfredense com uma das memórias mais privilegiadas de município. Com mais de sete décadas de existência, ele foi espectador de muitas das mudanças que ocorreram no desenvolvimento de nossa cidade. Um amante de história que ao longo de sua vida foi um bom ouvinte e relatou muitos fatos históricos de nossa cidade para todos que tivessem interesse.
Uma verdadeira fonte histórica e com uma inteligência singular, ele adorava falar sobre a história de nossa cidade, fornecer fontes, datas e fatos sobre nosso passado e era muito generoso acerca de seu conhecimento, adorava repassá-lo através de longas e prazerosas conversas.
Eu passei algumas horas de minha vida conversando com ele e aprendi muito. Munido de documentos, fotos e de sua memória, ele respondia qualquer pergunta e ainda fazia ligações entre nossa história local com fatos da história mundial que estavam acontecendo na mesma época, um verdadeiro professor.
Quirino era filho caçula de Evaldo Iung e Alvina Wagner Iung e nasceu em 26 de janeiro de 1943. Seus pais haviam se casado em 1928. Evaldo era filho de imigrantes alemães vindos de Rancho Queimado e ela moradora da Lomba Alta, filha do patrono da cidade, Alfredo Wagner. Além de Quirino, o casal tinha mais dois filhos, Ivone e Arno.
Quirino nasceu e cresceu no barracão, seus pais tinham um terreno que mantinham gado, cavalo, mulas e burros, que seu pai Evaldo comercializava, sendo tropeiro, trazia tropas do Rio Grande do Sul para Santa Catarina. Em 1953, seu pai parou a vida de tropeiro e trocou seu terreno pela casa e comércio que passou a ser a Casa Iung. Desde seus dez anos de idade até sua morte, teve sua vida sempre vinculada ao comércio. Quirino sempre contava dos brinquedos que ganhava de seus pais, os quais gostava de dividir com amigos, brincava muito de carrinho de madeira de descer morro, descendo o morro da Santa Bárbara. Ele também tinha uma bonita bicicleta, na qual adorava brincar e também a usava para buscar farinha de milho nas atafonas.
Quando criança, à noite se sentavam todos na varanda da casa para conversarem, as crianças sempre ficavam junto, pois não tinha luz elétrica, então sempre contavam fatos da vida, do Brasil, histórias e lendas. Quirino, como um bom ouvinte, sempre sabia de todos os fatos da época. As notícias também chegavam através do rádio.
Gostava de ler a todo momento. Tinha sua coleção “Meu amiguinho”, que seus pais assinavam. Estudou no Grupo Escolar Silva Jardim quando pequeno, era aluno aplicado, estudioso. Nessa época, também gostava muito de ir para a Lomba Alta com sua mãe Alvina, brincar com os primos e tomar café na vó Júlia Wagner.
Aos 14 anos, foi para o internato, Escola Dom Bosco em Rio do Sul e depois foi estudar no Colégio Catarinense em Florianópolis.
Ele conhecia Selma de Aquino Alberton, sua futura esposa, desde pequeno, pois moravam na mesma cidade. Selma morava nas Águas Frias perto do Gentil Farias, um de seus tios.
Alvina e Evaldo, os pais de Quirino, sempre elogiavam Selma para o filho por ser uma moça trabalhadora e responsável. Num baile de Páscoa, começaram a namorar. Namoravam já por três anos, quando faleceu a Alvina e após apenas cinco meses, Evaldo. Quirino ficou sozinho para continuar tocando os negócios de seus pais. Então, foi o momento de pedir Selma em casamento. Para isso ele pediu a mão da moça para os pais Primio e Maria, que concederam. Ficaram noivos e marcaram a data do casamento para o dia 20 de julho de 1969. O casal teve três filhos: Maria Alvina, Quirino — Quirininho — e Camila.
Depois de casado, ainda ia para Bom Retiro para estudar o curso Normal Superior.
Na vida adulta, Quirino seguiu os passos de seu pai. A Casa Iung é uma das mais antigas casas comerciais de Alfredo Wagner ainda em atividade. Foi fundada em 1953 pelos pais de Quirino. Após a morte dos fundadores, o negócio passou a ser gerido pelo filho Quirino Iung e pela nora Selma de Aquino Iung, que é a atual proprietária.
Profundo conhecedor da história da imigração alemã em Alfredo Wagner, ele tentava também transmitir o conhecimento para suas netas desde cedo. A seguir, parte do texto que ele escreveu para a neta Marcela, em uma gincana escolar: “Esta Bíblia de bolso é da Religião Luterana, datada em 1863 e escrita em alemão — visto que os imigrantes só falavam seu idioma nativo. As bíblias eram trazidas pelos pastores e pelas próprias famílias e eram usadas em cultos e em suas leituras diárias aqui no Brasil. Este volume pertencia aos meus avós paternos Jacó e Catarina Guckert, que residiam em Rancho Queimado. Naquele tempo, na igreja e escola o idioma falado e escrito era Alemão”.
O deslocamento era feito no lombo do cavalo, enfrentando chuvas, trovoadas, rios cheios e mais os índios. As despesas eram mantidas pelo imperador Kaiser Guilherme II da Alemanha, até 1918 quando mudou a lei do ensino no Brasil. O meu pai Evaldo Iung estudou e falava apenas alemão, nunca teve aula em português, depois foi aprendendo o nosso idioma.”
É muito comum também encontrar matérias em jornais e redes sociais que citam o nome de seu Quirino, tendo falando a respeito de revoluções, colocando final em dilemas históricos como “Porque o nome estreito?” ou contando banalidades como por exemplo, qual teria sido a reação das pessoas ao verem a primeira bicicleta no Barracão. Além disso, seu Quirino tinha um grande gosto por fotografia e possuía um enorme acervo, que por si só conta um pouco da nossa história.
Outro de seus grandes prazeres era a caça. Ele e seus amigos se reuniam para caçar pombinha e perdizes, tinham um carro que chamavam de “Fubica” e usavam para isso.
Ele participava de todos os bailes da sociedade, dos carnavais, chegando a ser o Rei Momo.
Sempre contribuiu muito para a sociedade alfredense: foi sócio do União Club, Sócio Fundador Lions Club. Participou da Política de Alfredo Wagner, mas nunca aceitou ser candidato. Fundador do Sindicato Rural, do Hospital, teve cartório, por muitos anos foi escrivão. Participou de conselhos de município e comunidade.
“O Sr. Quirino sempre esteve conosco, em reuniões e participações constantes, não se furtava de enriquecer os encontros com histórias, contos e sua experiência de vida e são esses passos nesta terra que fizeram dele um alfredense digno de ser lembrado neste momento”, diz Valneide Terezinha da Cunha Campos, Secretária Municipal da Educação.
Como pai de família, ele queria que todos estudassem, que fizessem faculdade, para terem uma profissão, serem honestos, terem uma família e cuidarem bem dela. Adorava reunir todos para um churrasco, principalmente quando Quirininho, um de seus filhos, chegava, pois saiu cedo de casa para estudar e trabalhar, morando em várias cidades e estados. Melissa, neta mais velha, de quem cuidou junto com Selma quando era bebê e criança, era uma das paixões de sua vida. Neta e vô tinham muito afeto e amor um pelo outro, eram próximos, tinham uma ligação muito forte. Com a neta Marcela participou bastante nos estudos e nas pesquisas escolares. Com as netas Maria Laura, Monique e Lavínia e bisnetas Júlia e Estéfani era amoroso, engraçado e querido.
Vô Quirino sempre gostou de fazer um “lambisco”, adorava um doce. Quando viajava, lembrava a Selma de comprar umas besteirinhas para as netas e bisnetas. Foi querido e amado por todos, sendo sempre lembrado com fotos, histórias e pelo sítio que foi o lugar que gostava muito de ir diariamente com seu fusca branco, Brasília e, por fim, um gol.
Desde a juventude sempre foi apoiador do desenvolvimento da agricultura e pecuária, incentivou e ajudou muitas pessoas a apostar no ramo em nosso município. Ao longo de sua vida, deu emprego a muitas famílias onde cultivou em suas terras fumo, cebola, milho, feijão, hortaliças e até chácara de frutas. Amava animais, o gado sempre foi sua grande adoração. Possuía sítio há mais de 30 anos. Sendo seu desejo de construir uma casa pra família, montar o “museu” com peças do vô Evaldo e do Vô Primio Alberton, peças, prêmios e brinquedos de suas infâncias. O museu era uma estante antiga onde tinha tudo organizado com nomes e datas. Lá, ele fez muitos churrascos, pamonhas e entreveros com a família, construiu parquinho, balanço para as netas e uma gruta para Selma. Havia muitos lagos onde gostava de pescar com Selma e as netas. O galpão era uma parte preferida, onde ficava organizando os medicamentos, ferramentas e acompanhando os terneiros, vacas para criar e a retirada do leite. Após a casa do sítio estar pronta, ia nos finais de semanas com Selma e família E, ao chegar a noite, não podia faltar a sopa de galinha.
Faleceu no dia 25 de março de 2017, por problemas cardíacos, deixando a esposa, os três filhos, sete netas e duas bisnetas.
Informações repassadas por:
Maria Alvina Iung
Selma de Aquino Iung
Camila Iung
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