02 de marco de 1932
30 de julho de 2006
Uma das mulheres mais marcantes que já viveu na cidade de Alfredo Wagner foi a Dona Vete. Mulher de garra, à frente do seu tempo, que nunca se acomodou ou teve medo de trabalhar pesado. Mulher de uma generosidade incrível, que gostava de política e que por muito tempo ainda será lembrada.
Dona Vete tinha personalidade forte, trabalhou desde criança na roça e sempre foi muito decidida e certas vezes autoritária, pois ela sabia onde queria chegar e levava sua família junto. Teve uma vida muito sofrida, marcada pelo trabalho árduo, na Santa Bárbara, Mosquito, Pedra Branca e depois no centro de Alfredo Wagner. Tinham muitas terras e a prosperidade vinha da força de seu trabalho.
Verdolina Mariotti Berger era o seu nome, mas todos a conheciam por Dona Vete. Ela foi registrada na Catuíra em 02 de marco de 1932. Ela nasceu na comunidade de Santa Bárbara, onde a sua família morava. Ela era filha de Willy Mariotti e Amélia Hinckel Mariotti. Vete teve nove irmãos, seis homens e três mulheres. Ela era a mais velha das mulheres e, por isso, desde cedo tinha as suas responsabilidades.
Foi na Santa Bárbara que conheceu o seu futuro marido, Avelino Pedro Berger, que nasceu em 21 de julho de 1928. Foi lá que namoraram, casaram-se e começaram a sua família. Mas, assim que casaram, o casal foi morar no Mosquito, comunidade da cidade de Rio do Sul. Os quatro primeiros filhos nasceram na Santa Barbara, Adelita no Mosquito Grande, os outros três, na Pedra Branca, localidade de Alfredo Wagner para onde a família se mudou, após Avelino comprar as terras que pertenciam a seu pai. Flávio, o caçula, foi o único filho que não nasceu em casa, pelas mãos de uma parteira e sim no centro de Alfredo Wagner, assistido por um médico.
Foi enquanto moraram na Pedra Branca que sua filha Julita adoeceu. A menina tinha um câncer na cabeça, doença que não era muito comum naquele tempo. O tratamento para a filha precisava ser feito em Porto Alegre e elas tinham que ir e vir de avião. Dona Vete não sabia ler, nem escrever, tampouco tinha saído muitas vezes do Barracão, mas como era uma leoa pelos seus filhos, superou todas as dificuldades e acompanhou a filha durante o tratamento. Ela não conhecia nada por lá, mas não se amedrontou. Ficou no hospital e passou a ajudar a todos que precisavam, para conseguir permanecer com a filha. Como não tinham telefone na Pedra Branca e as cartas demoravam muito para chegarem ao seu destino, ela mandava notícias para a família pelas ondas do rádio. A família estava sempre sintonizada à rádio gaúcha, aguardando que a mãe desse notícias, dela e de Julita.
Foi uma grande luta pela vida de Julita, mas a doença acabou vencendo. Vete ficou devastada, mas sabia que havia feito tudo o que podia pela menina.
Com os filhos ficando maiores, eles começaram a não querer mais a vida sofrida de trabalhar na roça e aos poucos começaram a se mudar para a praça, comprando uma propriedade em frente à ponte Emilio Kuntze, subindo em direção onde hoje fica o cemitério. Como a maioria dos filhos já estava vivendo no centro, o casal também acabou se mudando, no final da década de 60.
Com a saída da Pedra Branca, seu Avelino também comprou alguns caminhões e foi o filho Otávio que foi ser caminhoneiro e cuidar desse ramo dos negócios da família.
Eles se mudaram para a casa de dois andares em frente à ponte. Casa onde antes funcionava a maternidade da cidade. Lá tiveram uma venda e um dormitório com muitos quartos. Eles também alugavam algumas salas comerciais, onde funcionou a prefeitura por algum tempo, posto de despachante e salão de beleza. Uma das características mais marcantes do dormitório da Dona Vete era a limpeza e organização.
Além disso, ela também trabalhava fazendo festas de igreja nos finais de semana. Trabalhava de doceira, fazendo doces, tranças, bolos, era responsável pelas galinhas nos fornos e adorava fazer tudo isso.
O casal Vete e Avelino era muito conhecido, então as pessoas que vinham da Pedra Branca, Santa Bárbara e não tinham onde ficar, sabiam que tinha pouso garantido na casa deles. Além do pouso, ganhavam café da manhã, almoço e até janta se fosse preciso. O casal gostava de acolher seus amigos.
A comida era muito farta na casa de Dona Vete. Mesmo já morando na praça, criava galinhas, porcos, plantavam batata, aipim, batata doce. As filhas passavam oras preparando o almoço, pois a casa era sempre cheia.
A Dona Vete também era muito envolvida com política e ela acabou concorrendo, em forma de protesto, a vice-prefeita na eleição de 1982. O protesto teve início quando dois candidatos que sempre foram oposição se juntaram para terem mais chances de vencerem a eleição. A chapa juntando os dois “inimigos políticos” não agradou muita gente e então uma outra chapa em protesto foi lançada. Concorrendo a prefeita estava Maria Isabel Wagner Onofre — a Bel do açougue — e Dona Vete como vice. A indignação do eleitorado apareceu nas urnas: 14, 99% dos eleitores votaram em branco. Mas o que surpreendeu mesmo foi a quantidade de votos que as duas receberam. A chapa formada pelas mulheres alfredenses, que concorriam pelo PMDB, recebeu 1.108 votos, representando 26,8% dos votos válidos. Elas perderam, mas com certeza essa é uma das eleições históricas da cidade de Alfredo Wagner e só poderia ter sido protagonizada por duas mulheres fortes, cuja fama de trabalho e garra falava por si só, garantindo a elas muitos votos. Acredita-se que se elas tivessem feito uma campanha de verdade, teriam muitas chances de vencer.
Dona Vete também cuidava de todos os netos que nasciam. Sempre que alguém família ganhava bebê, vinha para a sua casa para ela ajudar a cuidar das crianças. Ela cuidava com todo o amor e carinho e uma das coisas mais marcantes era que ela fazia um charutinho com as crianças, embrulhando com todo o cuidado no cobertor, de forma que mesmo se a criança viesse a cair, não se machucaria.
Com o passar do tempo e o trabalho sem descanso, o corpo começou a dar sinais de cansaço. Dona Vete era obesa e com a idade chegando, começou a ter que usar muletas, teve que passar por algumas cirurgias nas pernas e quase não conseguia mais andar. Quando adoeceu e começou a ter dificuldades para se locomover, ela logo achou uma solução, começou a fazer coroas para vender. Ela também, mesmo sentada, ajudava a fazer o almoço, descascando batata, cortando as carnes, os temperos e saladas. Costurava também, fazendo colchas de retalhos. Ela não queria parar de trabalhar, mesmo que não pudesse ficar muito tempo de pé.
Em 2006, quando a filha de Juliana — sua neta mais velha — nasceu, Dona Vete estava internada. A bisneta Ana Julia nasceu no mesmo dia do aniversário dela. Eles achavam que ela nunca ia sair do hospital, então Juliana foi mostrar sua filha para sua amada avó. Mas Dona Vete era muito forte e se recuperou, voltando para casa em alguns dias.
Ela continuava muito doente, mas sua maior preocupação era com a saúde da filha Néia, que havia sido diagnosticada com câncer no intestino. Dona Vete queria ficar perto da filha e então pediu para sua outra filha a levar para Florianópolis.
Toda a família ainda sofre ao se lembrar do dia 30 de julho de 2006. Nesse dia, aconteceu um acidente de carro, na cidade de Rancho Queimado, que tiraria a vida dela e de sua bisneta, de dois anos e meio, Júlia.
Para a família ainda é uma dor muito grande. Eles sabem de toda a luta da Dona Vete contra a doença, contra o peso e, por causa de um motorista irresponsável, foi lhe tirada a chance de viver. Uma vida que ela construiu com tanto trabalho e dedicação. Mas ela deixou um grande legado. Muito exemplo, ela ensinou muita coisa boa e linda, para os filhos e netos, e hoje ela continua presente na maioria das melhores memórias de seus familiares e também presente na história da cidade de Alfredo Wagner.
Informações repassadas por:
Juliana Berger
Adelita Berger Waltrick (Dele)
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