Eu e a Escola
Minha relação com a escola surgiu bem antes de eu ter idade para frequentar um ambiente escolar. Sou filha de professora e mesmo quando eu não compreendia o significado da educação eu já vivia em meios a livros, cadernos e metodologias de ensino. Como eu queria acompanhar minha mãe, lembro que sempre pedia para ir junto com ela para escola e tinha a expectativa de logo poder ir estudar.
Finalmente aos 3 anos iniciei minha caminhada escolar na Creche Ângela Amim, onde estudei durante 3 anos. A educação infantil se deu de uma forma bastante proveitosa, pois em meu ponto de vista a creche contava com professores bem preparados e motivados para trabalharem com as crianças. Até hoje quando sinto cheiro de tinta guache a memória me remete a lembranças dos desenhos, pinturas, brincadeiras com massinhas que eu tinha nos tempos da creche. Foi lá que conheci as primeiras letras, aprendi a escrever meu nome e iniciei meu processo de socialização, pois comecei a conviver com pessoas da mesma idade que eu, aprendi a dividir e iniciei meus círculos de amizade (com amigos que me acompanham até hoje).
Aos cinco anos fui fazer o pré-escolar no Silva Jardim, “aquele colégio grande” em que minha tia estudava, eu quis estudar lá desde quando minha tia em uma gincana me levou para participar de uma prova. Lembro pouco do meu pré-escolar, pois foi um ano em que eu quase não frequentei a escola, pois minha mãe como professora municipal trabalhava em uma escola isolada, multisseriada (dando aula para 1ª, 2ª,3ª e 4ª séries ao mesmo tempo) no interior do município, então como ela tinha que ficar lá a semana inteira eu, muitas vezes, ia com ela e ao invés de participar das aulas com minha turma, assistia as aulas que ela dava aos seus alunos. Isso foi no ano de 1992 e no cenário político brasileiro estava ocorrendo o Impeachment do presidente Collor. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas achava bastante interessante quando via na TV aquelas pessoas com os rostos pintados pelas ruas, mas o fato que mais me chamava a atenção era ele ter o mesmo sobrenome da minha mãe. (Mello rsrs)
Em 1993 quando eu cursava mais um ano de pré no Silva Jardim, minha cidade sofreu um terrível enchente e por conta disso tive que me mudar de bairro. Minha professora foi a senhora Isolde Deucher , que havia sido diretora desta instituição por 14 anos e é lembrada até hoje pela forma autoritária e eficiente que comandava a escola, apesar de ser temida por todos minha sala a amava e ela nos tratava com muito carinho.
Primeira Série na Escola Municipal Balcino Matias Wagner
Foi nesse ano que comecei a usar óculos, participei da festa junina, nossa turma fez o casamento caipira... Eu era a mãe da noiva e o Léo (meu coleguinha) o pai. Nossa, eu achei o máximo quando nos apresentamos para todos os alunos, no pátio da escola.
No ano de 1994 o Brasil foi tetra campeão mundial de futebol em uma final de tirar o fôlego contra a Itália, eu assisti o jogo na casa dos meus avós maternos e a cada cobrança de pênaltis eu escondia minha cabeça dentro da jaqueta do meu vô, eu não sabia bem o que era esplanada do ministério, mas lembro do Galvão Bueno falando que o chute do Roberto Baggio tinha subido a tal rampa. Na comemoração em carreata pela cidade, conheci o “Gol”, um carro novo que estava chamando a atenção de todos aqui na minha cidade e no dia 7 de setembro a turma da primeira série marchou usando as camisetas da seleção. A Isabella marchou levando a taça, que a mãe dela fez usando isopor, até hoje lembro que fiquei muito chateada, pois eu também queria levar uma taça, afinal eu tinha muito orgulho por minha seleção ter conquistado aquela copa.
Na 1ª série estudei com muitas pessoas que se formaram comigo no terceirão: Isabella, Pamela, Denize e Roberto que foi meu primeiro amor. Ele era lindo, loirinho e muito inteligente, mas nosso amor acabou na quarta série, quando fiquei sabendo que ele gostava de outra. Fiquei muito magoada. (Rsrsrs)
Segunda Série, a volta para o Silva Jardim
Em 1995, após construírmos a casa nova voltei a estudar na Escola de Educação Básica Silva Jardim, para cursar a segunda série.
Minha sala era decorada com uma pintura dos Smurfs e tinha um Gargamel enorme no canto da sala. (nossa eu morria de medo dele, quando pequena) .
Na 2ª e 3ª séries minha professora foi a senhora Edézia Maria Ozol, que já estava quase se aposentando e tinha como características a rigidez com que tratava os alunos e o respeito que impunha. Acho que é de praxe a todos os alunos das séries iniciais alimentarem uma adoração pelos professores, e assim acontecia comigo, eu a adorava, embora hoje analisando seus métodos de ensino eu os considere bastante defasados e veja as atitude dela como educadora um pouco incorreta e discriminatória. Neste período iniciei meu trauma quanto a dança, pois em uma festa junina a professora brigou comigo, dizendo que eu não sabia dançar , que era muito estranho ver eu dançando e não deixou eu participar da quadrilha.
Ela poderia até estar certa, porém acho que o professor necessita ter mais tato quanto as críticas dirigidas aos alunos nesta fase da vida, pois os fatos que ocorrem na infância muitas vezes acompanham o indivíduo para sempre. Apesar dela ter me traumatizado acredito que ela parecia gostar bastante de mim, pois sempre expunha meus textos aos outros alunos e gostava de ler o que eu escrevia, sempre me incentivando e apoiando.
Foi na segunda série que minha melhor amiga da escola passou a ser a Suzanne, a Su, como a chamo até hoje. Desde então dividimos sonhos e anseios e tenho certeza que daqui há 30 anos ainda seremos grandes amigas e um dia tomando “coca-cola” contaremos aos nossos netos nossas aventuras dos tempos da escola.
Em 1997, já na 4ª série, passei a estudar no período matutino e minha professora foi a Dona Eliéte Alves da Silva Onofre, que era bastante diferente da anterior, era jovem, alegre e dinâmica, começamos a ter algumas aulas de Estudos Sociais bastante interessantes. E nasceu minha paixão pela História, além de que trocando de período, entrei em um time de futsal feminino, formado pelas garotas da minha sala. Sempre fui uma boa aluna, tirando sempre boas notas, mas nesta fase eu era muito chorona e não me relacionava bem com meus colegas, até pela timidez, porém com o futsal comecei a me entrosar melhor e a quebrar um óculos por semana.
Lembro de um gol lindo que fiz de falta, a bola foi direto no ângulo, eu era a artilheira do meu time. Neste ano também fiz minha primeira comunhão. No final do ano letivo a professora me tirou no amigo secreto, me presenteou com um ursinho marrom, que tenho e ele se chama LILI, em homenagem a professora.
Ensino Fundamental Anos Finais
Iniciei 5ª série no ano de 1998, lembro que minha turma era bastante diferente das outras em que eu estava acostumada, pois com exceção de mim e mais uns 3 colegas, todos eram mais velhos, com cerca de 15 anos, tinham outros assuntos e outros objetivos. Até hoje eu me pergunto como me deixaram naquela sala, ainda penso que fui esquecida por lá... Eu continuava chorona e nesta fase comecei a ter que apresentar oralmente os trabalhos para toda a classe, o que me deixava extremamente nervosa, pois eu tinha uma enorme dificuldade em expor minhas ideias em público. Apesar de meus colegas serem mais velhos eles me acolheram bem e eu, a bem da verdade parecia o mascote da sala, pois além de ser a mais nova eu era bem pequena.
Minha turma mais parecia a turma da Correção de Fluxo de hoje em dia, ninguém que se formou comigo no terceirão estudou comigo na quinta série, acho que nenhum deles terminou sequer o ensino fundamental.
Eu estudava com o Bruno, o bola 8, ele era tipo assim... o cara mais temido da escola. Eu morria de medo dele e por obra do destino logo no primeiro trabalho em equipe eu caí na equipe dele, lembro que era um trabalho de Geografia com a professora Alaíde, que estava trabalhando os principais Rios da cidade de Alfredo Wagner, para minha surpresa ele foi super querido comigo, me ajudou a fazer o trabalho e na aula de Educação Física ainda me escolheu pro time dele.
Na 6ª série voltei a estudar no período vespertino e reencontrei meus antigos colegas, foi neste ano que meus pais se separaram e nessa fase que passei a sofrer bullying que naquela época não tinha esse nome... já eu, tinha inúmeros: quatro olhos, magrela, tábua, enfim, acho até que minha aparência não ajudava porém eu sofria muito, pois além deles me chamarem dessas coisas eu era extremamente introvertida e isso não ajudava em nada. Os apelidos de mal gosto chegaram ao extremo de uma professora ter que chamar a atenção da sala para eles me aceitarem. Foi bastante triste, depois disso as coisas começaram a mudar, porém até o terceirão ainda sofria com os apelidos.
Com o tempo fui melhorando meu relacionamento social, comecei a ter mais amigos e os professores sempre me elogiaram, pois apesar de continuar introspectiva eu era bastante crítica, responsável e comprometida.
Foi nessa época que minha paixão pela História aumentou, devo isso as minhas professoras, Vera e Giane. Dona Giane fez meu coração bater mais forte quando contou que pintou a cara e saiu nas ruas em 1992 na luta para o Impeachment do presidente Collor (sim, aquele que tinha o sobrenome da minha mãe), tudo em História me interessava muito e isso continua assim até hoje.
Até a 8ª série eu participava de todas feiras de ciências a matemática, inclusive lembro que no dia dos ataques de 11 de setembro eu estava na escola, fazendo um trabalho para uma feira de matemática. Após o incidente lembro-me que o tema foi bastante abordado nas aulas de geografia e me chamou a atenção pois pela primeira vez abordamos com mais ênfase temas do mundo e os trabalhamos em sala de aula de uma maneira bastante abrangente e que nos despertou ainda mais interesse, pois relacionamos os assuntos trabalhados em sala de aula com os acontecimentos marcantes do mundo.
Na 8ª série eu passei a ter aula com o professor Deivis Luis André, posso dizer que ele foi o professor que eu mais admirei nessa época, pois ele sabia sobre tudo, era descolado, andava sempre bem perfumado e com o cabelo impecável, não foi á toa que a 8ª série 2 escolheu ele como regente. Trigonometria nunca foi algo tão prazeroso quanto em suas aulas.
Ensino Médio
No ensino médio eu passava pela fase de ter que escolher o que eu seria no futuro, e em toda aula de História eu tinha a certeza de que eu queria ser uma versão feminina do Indiana Jones, porém estava muito dividida, pois em aulas de Português eu tinha plena convicção de que eu seria jornalista.
Continuei sendo boa aluna, e acho que minha sala era o paraíso para os professores, pois éramos dinâmicos e todo final de bimestre competíamos para ver quem tinha mais notas 10 no boletim. Por Alfredo Wagner ser uma cidade pequena, no terceirão todo mundo se conhecia desde a infância, tínhamos laços que iam muito além da sala de aula, foi uma época bastante marcante para a vida de todos nós: a adolescência.
Dessa fase destaco alguns professores que inovaram as aulas, gente com novas metodologias, formas novas de trabalhar os conteúdos e que começaram a utilizar a informática como ferramenta pedagógica, destaco também alguns professores que eram adorados pelos alunos, mas que passavam boa parte do tempo matando aula.
No primeiro ano o Estado estava adotando o sistema de fases, o primeiro ano era dividido em duas fases, 1ª e 2ª... nessas duas fases as turmas se separaram bastante e eu estudei apenas com a Bruna. Foi nesse ano que ganhei meu primeiro emprego, que foi no Silva Jardim. Eu era estagiária e era bem diferente, trabalhar com os meus professores, ter uma relação mais pessoal com eles. Comecei a aprender ter mais responsabilidade, eu era bastante cobrada, pois minha tia era a diretora da escola nesse ano.
Na 2ª fase ( do primeiro ano) realizamos a primeira prova do SAEM, digamos que foi o antecessor do ENEM, mas ao invés do aluno realizar apenas uma prova no terceiro ano ele realizaria 3, uma em cada ano do ensino médio e minha opção escolhida foi jornalismo.
No segundo ano, 2003, o sistemas de fases chegava ao fim. Algumas pessoas que estavam em fases do meio do ano tiveram que completar o ensino médio ainda nesse sistema, muitas pessoas que estudaram comigo desde o primário se formaram meio ano depois de mim por conta disso. Realizei a segunda prova do SAEM e no final do ano recebi a notícia de que eu não necessitaria fazer a terceira prova no ano seguinte, pois já havia somado a nota necessária para entrar na universidade.
No terceiro ano foi a vez do SAEM sair de cena e dar lugar ao ENEM, que diga-se de passagem já nasceu confuso... eu não somaria as notas do SAEM, aquilo praticamente não valia mais para nada e eu já não sabia mais o que escolher como faculdade. Por fim escolhi Ciências da Computação, pois havia decidido que não queria mais ser jornalista e definitivamente não faria História, pois eu morava em Alfredo Wagner, obviamente não seria a versão feminina do Indiana Jones e de forma alguma eu me tornaria uma professora. De jeito nenhum.
No ano de 2004 o Silva Jardim estava passando por uma reforma e não tínhamos sala para estudar, então todas as noites nós, alunos e professores íamos até a Escola Passo da Limeira, que é uma escola municipal aqui de Alfredo Wagner, localizada a cerca de 15 km do centro da cidade. Íamos de ônibus e era a maior festa, todos os dias acontecia algo engraçado dentro dos ônibus, que por sinal estavam em péssimo estado, mas foram ótimos meses estudando lá, que renderam mais algumas histórias para algum dia recordarmos em um encontro da sala.
O ano de 2004 foi de muito estudo e de festa. Tínhamos duas regentes que posso dizer, foram as melhores Dona Maria Eliza e Dona Jose.
Estava rolando a eleição para prefeito aqui em nossa cidade e nossa sala trabalhava em todo comício para arrecadar dinheiro para a formatura. Arregaçávamos as mangas e no final do ano tínhamos muito dinheiro. Fomos viajar para Balneário Camboriú e é fato, as mães de muitos não iriam gostar de saber o que aconteceu lá. Entre várias coisas eu e Suzanne fomos assaltadas... teria sido muito triste, se a história fosse realmente verdadeira, mas isso é assunto para um novo livro...
Resultados dos Vestibulares
O sistema do ENEM não era tão eficiente como é hoje e as bolsas eram restritas apenas para alguns cursos. Eu acabei não usando minha nota para conseguir bolsa, admito que até por falta de informação, pois eu não tinha sido bem orientada de como as coisas funcionavam, acho até que a maioria das pessoas não sabia direito como iria funcionar.
Após um grande dilema entre fazer administração em Ituporanga (que não era o que eu queria) e poder ficar morando em Alfredo, fazer Ciências da Computação em Floripa tendo que morar lá ou Sistemas de Informação em Lages tentando aguentar ir de carro até Bom Retiro e depois de ônibus até Lages todos os dias a serra venceu a disputa e fiz minha matrícula em janeiro de 2005, na uniplac.
Foi nessa época que conheci um dos grandes amores da minha vida (hoje vejo mais como um amor platônico e até ridículo, mas na época era o meu príncipe encantado, huahuahuahu)
Em 2006 na quarta fase eu peguei recuperação na cadeira de Banco de Dados, quase morri chorando, eu imaginei de diversas formas qual seria a reação de minha mãe quando eu contasse, na maioria das hipóteses ela me mataria, graças a Deus não foi isso que aconteceu. Eu não me conformava, estudei dia e noite durante uma semana para a tal prova, a respondi em menos de 10 minutos a gabaritei, mas tenho as marcas dessa recuperação até hoje, pois desenvolvi uma dermatite de contato de origem nervosa após a notícia da recuperação e desde então ela me acompanha.
No final do ano de 2007 fui morar em Lages, eu tinha aula durante toda a semana e praticamente todo sábado para terminar a faculdade de 4 anos e meio em apenas 4, era bastante puxado e tinha os jogos e o TCC.
Durante os 4 anos de graduação o time feminino de futsal fez história, sempre ficávamos muito bem colocadas no JUNIPLAC ou na COPA NERD, torcíamos para cruzar com o time de Educação Física só na final, mas nosso maior rival sempre foi o time de Odonto.
Em um jogo pelas semifinais do JUNIPLAC de 2008 a zagueira quebrou meu braço, no lance após eu ter dado um chauzinho nela e ter feito o gol. Pelo desfalque imensurável (na verdade falo isso pra rir pois sei que o que contou mais foi o fato de nosso time não ter reserva, rsrs) acabamos perdendo e fomos desclassificadas, e a garota ainda ameaçou quebrar meu outro braço se eu continuasse no jogo.
Eu não poderia falar do meu tempo de faculdade sem citar as nossas viagens para “Criciúma, a Ilha da Mágia”. Sempre participávamos do SULCOMP que acontecia anualmente em Criciúma. Descíamos pela serra do Rio do Rastro em uma viagem longa, regada a muita cerveja. Eu não bebia pois a combinação entre curvas e cervejas não fazia bem ao meu estômago. Tirávamos sempre muito proveito das palestras que participávamos, porém em 3 anos participei apenas de uma, mas lembro o tema: Pyton.
Minha turma tinha 40 alunos, desses 40 apenas 4 meninas, seria o paraíso para qualquer uma... seria... se eu não estudasse com nerds que só falavam em computadores, linguagens de computação e as últimas novidades tecnológicas, mas não posso reclamar de meus colegas, na verdade ganhei mais de 20 irmãos que me protegiam por toda a cidade de Lages.
O ano de 2008 também é conhecido por mim como meu ano sabático, pois eu não trabalhei... apenas estudei. Tive um ano bastante boêmio, morando com minhas amigas e aproveitando o máximo com meus amigos da faculdade, afinal aquele era o último ano que estaríamos todos juntos, pois éramos de várias cidades, de várias regiões do Estado.
O Ano de 2009
Retornei à cidade de Alfredo Wagner no ano de 2009 e estava em desespero, pois não sabia o que faria da vida em termos profissionais. Não sabia se ficaria aqui ou voltaria pra Lages. Não me via como programadora. Não queria isso para a minha vida, pois não sentia prazer programando. Nessa mesma época meu pai ficou doente, então decidi que eu continuaria em Alfredo e, para minha surpresa, logo surgiu a oportunidade de trabalhar na escola... Imagina, na minha querida Silva Jardim, como monitora da sala de tecnologia educacional. Apesar disso o ano de 2009 está cotado como o pior ano da minha vida, meu pai faleceu de uma maneira muito triste. Ele foi um dos grandes responsáveis pela minha educação, sempre me incentivando e acompanhando minha vida escolar. Na época da minha graduação ele deu o maior duro para me manter em Lages e fazer com que eu conquistasse o ensino superior, coisa que ele não teve a oportunidade de ter. Devo muito a ele e me emociono ao recordar das lágrimas em seus olhos no dia da minha formatura. Ainda hoje tento fazer as coisas para que ele possa sentir orgulho de mim.
Outras coisas desagradáveis aconteceram em 2009 que tinha tudo para ser lembrado apenas com uma imensa dor, porém uma parte dele me trás lembranças boas, pois nesse ano me encontrei profissionalmente, após tantas dúvidas e medos.
Em 2009 conheci minha verdadeira paixão, a licenciatura, passei a entender todo o amor e dedicação de minha mãe pela profissão dela. É muito gratificante ver o crescimento do aluno, vibrar com suas conquistas e evoluções e é incrível como apesar de toda a desvalorização que a educação vem sofrendo, os professores ainda são exemplos para alguns alunos e podem “sim” fazer diferença em suas vidas.
Quando eu cheguei na escola eu tinha uma pouco de vergonha de ficar na sala dos professores, afinal eu tinha sido aluna de muitos deles e eles era ícones para mim, não tinha como eu não me sentir acanhada ao lado deles.
Aos poucos minha relação com eles foi fluindo mais facilmente, minha admiração por alguns deles foi às alturas, pois percebi que eu não estava enganada, eles eram grandes mestres. Infelizmente não senti isso por todos, alguns de meus mestres me decepcionaram muito a partir do momento que se tornaram meus colegas, não sei se por ainda darem aula da mesma forma que deram aula pra mim há 10 anos ou se sempre foram ruins e eu não tinha conhecimento o suficiente para perceber isso. Existem pessoas despreparadas, desestimuladas e sem real comprometimento com a educação, mas graças a Deus esses são a minoria.
Como minha formação não me habilitou exatamente para ser professora tive que me adaptar e aprender com alguns de meus colegas, como almejo ser uma boa profissional comprometida com o meu dever de educadora me espelhei nos melhores. Quero um dia dar aulas como o Reginaldo, ter o domínio de classe e do conteúdo como Dona Vera, ter o emprenho e a eficiência da Dona Maria Eliza e ter o porte e o respeito que Dona Eliziane tem. Sei que ainda tenho um longo trajeto pelo frente, mas também sei que um dia chegarei lá.
Eu me realizei como professora, apesar de jovem já tenho participação ativa e minha opinião é ouvida e aceita por meus colegas. Somos unidos e nesses quatro anos já trabalhamos muito e também nos divertimos.
Todo final de ano assistimos ao SJ Notícia, um jornal que conta de uma forma bem humorada os principais fatos que marcaram o ano no Silva Jardim.
Desenvolvemos diversos projetos e damos show no 7 de setembro, sempre inovando e poupando esforços para envolver os alunos e chamar a atenção da comunidade.
No ano de 2011 unidos lutamos pela nossa causa e entramos todos na greve. Foi um período muito desgastante para todos, sofremos juntos e apesar de não termos conseguido tudo que almejávamos saímos com a cabeça erguida, pois lutamos por nossos ideais. Quero um dia despertar isso em meus alunos, ensinar a eles pelo que vale a pena lutar e que muitas vezes a vitória não é apenas quando derrotamos nosso oponente.
Embora eu já trabalhasse há 3 anos na escola foi apenas no ano de 2012 que eu ministrei minhas aulas, na matéria de informática. Tive o privilégio de ter alunos excelentes e pelo menos na minha matéria, bastante interessados. Tenho certeza que eles sempre terão um papel importante em minha vida, afinal foram os primeiros de muitos alunos que eu pretendo ter.
Acho que ao longo de minha vida agreguei as minhas praticas pedagógicas muito do que aprendi com meus mestres e com o que aprendi nos 3 anos que trabalhei na escola sem ter que diretamente lecionar. Posso dizer que sou bastante exigente e até chata em alguns momentos fazendo bem a linha dura da Dona Edézia (minha professora da 2ª série) exigindo total silêncio quando eu estou explicando, é claro, sempre abrindo espaço para colocações, criticas e dúvidas. Tento sempre fazer um paralelo entre o assunto trabalhado e a realidade em que vivemos, apesar da minha pouca idade tento repassar aos meus alunos o meu conhecimento. Tenho grande afeto por eles e me preocupo com o rumo que a vida deles irá tomar, me colocando a disposição para ajudá-los no que for necessário.
Este ano fui convidada para ser amiga da turma do 3º ano 3. Fiquei muito orgulhosa com o convite. Quando eu trabalhei em 2001 como estagiária na escola eles entraram na primeira série, lembro-me deles pequeninos, e penso no quanto cresceram e também no quanto estou ficando velha.
Minha caminhada escolar ainda está longe de ter um fim, a educação e as instituições de ensino sempre vão estar presentes em minha vida, hora como professora, hora como aluna.
Em meu ponto de vista ser professor é uma das profissões de maior responsabilidade da sociedade, infelizmente nem todos pensam assim e a sociedade entrou no colapso que se encontra. Tenho orgulho de ser professora. Sou muito grata por todos os professores que já tive até aqui e minha maior gratificação será um dia, quando eu estiver mais velha, pensar que eu possa ter feito a diferença na vida dos meus alunos.
Tenho uma família no Silva Jardim, formada por meus antigos mestres e por pessoas que conheci ao longo da minha caminhada, gente em quem me espelho e me orgulho. Estamos longe de abrirmos um largo sorriso perante ao cenário da educação pública estadual, mas junto deles passo por inúmeros momentos alegres, onde vibramos por nossas conquistas, pelas conquistas de nossos alunos. Comemoramos o sucesso de nossos projetos , rimos e brigamos sempre unidos por um “bem maior” nossa escola, nossa família Silva Jardim.
Ahh lembra quando eu era criança e queria ser uma versão feminina do Indiana Jones?
Sabe qual é a verdadeira profissão dele?
PROFESSOR!
Neste ano de 2012 iniciei outra faculdade, ainda na área de informática mas agora uma licenciatura, para me tornar mais apta a trabalhar com os alunos. Não tem sido fácil trabalhar 60 horas e ainda ir todos os sábados para outra cidade estudar, mas tem é bastante recompensador aprender novas técnicas, compreender melhor “esse lance de ensinar” e ver que assim como eu existem outras pessoas que são apaixonadas pelo que fazem, vestem a camisa da educação e ainda acreditam nela.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”
Paulo Freire
6 Comentários
Vc eh a Carol que conheci?
ResponderExcluirSuas fotos estão sendo usadas como se fosse de outra pessoa.
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/venzo.talon
Muito Obrigado pelo texto, me ajudou no meu trabalho da faculdade.
ResponderExcluirColoquei sua referencia:
BLOG DA CAROL PEREIRA. Eu e a escola – Uma Historia que ainda não terminou.... Não paginado. Disponivel em: http://carolpereiraa.blogspot.com.br/p/minha-vida-escolar.html. Acesso em: 21 nov. 2017. :D
E muito bom
ResponderExcluirótimas dicas, vou matricular o meu filho no colegio zona norte SP, espero demais mesmo que dê certo!
ResponderExcluirParabéns Carol! Adorei a sua página!
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