Personalidades: Professor José Dell’ Antonia

Por Pedro Jayme dos Santos
Data de nascimento: 11 de novembro de 1909
Data de falecimento: 15 de abril de 2000


Nasceu em Nova Trento-SC, em 11 de novembro de 1909. Filho de Sebastião Dell’Antonia e de Maria Sartori, de origem Italiana, proveniente da comunidade de Fregona, província de Treviso na Itália. Realizou seu estudo primário na cidade natal. Em 1919, seus pais o encaminharam para o Juvenato, - internato - São José na cidade de Mendes/RJ, onde concluiu o Ginásio, o curso Normal e Teologia. Em 1932, transferiu-se para Varginha - MG, iniciando sua vida profissional como professor. Lá lecionou para o magistério no Colégio Coração de Jesus, e, em 1933 mudou-se para São Paulo para lecionar em um colégio na Praça da Sé. No ano seguinte transfereiu-se para a cidade de Guarulhos e lecionou teologia em um colégio da ordem. Retornou a Nova Trento para junto de sua a família e lecionou no colégio São Luiz. Novamente transferiu-se, agora para Joinvile, em seguida para Guaramirim, Concórdia e posteriormente, em 26/05/1937, com a matrícula nº 0261254/01 se efetivou na Escola Estadual Desdobrada do Distrito Catuíra, como professor e lá permaneceu até sua aposentadoria.
Mudou-se junto com a escola para o local denominado Sombrio, onde hoje esta a casa do Sr. Santo Luca. Em 1954, o governo de Nereu Ramos inaugura a Escola Estadual Urbana de Alfredo Wagner e por apresentar um belo currículo como normalista e seminarista o Professor José Dell’antonia foi nomeado o Diretor do novo colégio. Assim sendo o Professor, agora primeiro Diretor, sugeriu que o grupo escolar recebesse o nome de Antonio da Silva Jardim por considerar este um grande intelectual, escritor famoso e ainda aderir igualmente à filosofia do positivismo de Augusto Comte. O senhor José Dell’ Antonia lecionou como professor e diretor neste colégio durante 25 anos, nove meses e dezessete dias, se aposentando em 12/03/1963 por apresentar problemas de saúde.
Aposentado se dedicou completamente a família. Pai de doze filhos, sendo cinco homens e sete mulheres, gostava muito de falar, expressar os seus conhecimentos e contar histórias do seu tempo de seminário e de professor. Mantinha-se atualizado com os acontecimentos do Estado, do Brasil e do mundo; convicto das suas ideias e pensamentos, arriscava algumas previsões que às vezes se concretizavam como, por exemplo, o fim do regime militar brasileiro. Gostava muito de crianças, esportes, música, natureza, animais e de religião; pai exemplar, era contra os maltrates: seus filhos e amigos de seus filhos eram chamados de nênis. Era um homem muito exigente e fazia questão de acompanhar todos em seus estudos, foi um grande incentivador do esporte amador, em seu terreno, às margens da antiga estrada de Rio do Sul, hoje asfaltado, - a rodovia SC 302 na localidade de saltinho desta cidade - mantinha com muito orgulho um campo de futebol amador conhecido como piquete, nome este também sugerido pelo professor por considerar que todos deveriam ficar juntos, lutando por uma causa comum; e que, uma grande vitória só se consegue quando disputada em conjunto e seguindo as regras. Suas sugestões na religião eram muito respeitadas até mesmo pelos padres da época. Por ocasião de uma grande reunião acontecida por volta de 1960, frei Agatãngelo, frei da Igreja católica daquela época, solicitou ao professor Senhor José Dell’antonia que proferisse algumas palavras a cerca do encerramento das Santas Missões daquele ano, após o relato todas as pessoas se levantaram o aplaudiram incansavelmente pelas sábias palavras proferidas por ele, o orador.
Quando ainda jovem o professor José Dell’Antonia, ficou muito conhecido na região de Nova Trento e nas redondezas como o professor diferenciado, de muitos conhecimentos e de boa fala, aceitando convite de um amigo para irem à localidade de Vargedo, por ocasião de uma carreira de cavalos onde estariam reunidos muitas pessoas, incluindo os jovens da época. Neste evento, o jovem professor José Dell’Antonia foi apresentado a Srtª Bertolina Andersem Kalbusch, que saia muito pouco de casa porque precisava cuidar da sua mãe que era portadora de uma enfermidade grave. Ela, através de relatos de seus amigos e parentes, já tinha conhecimento da existência do professor. No primeiro encontro, ambos ainda constrangidos, nada de especial é dito, poucas palavras saíram da boca do jovem professor, somente perguntou se ela era da região de Florianópolis. Tal era a sua apreensão frente ao galanteador, lhe respondeu que não, que, era dalí mesmo, e assim o assunto terminou. Mas a vontade de se encontrarem novamente não, então em outra oportunidade o professor decidiu procurá-la sozinho. A distância era longa e em uma certa altura da viagem, à frente de uma residência que também apresentava características de um armazém, verificou um belo cavalo bem encilhado, amarrado no portão, parou e iniciou uma conversa com um senhor que estava ao lado do animal. Elogiando aquele cavalo que era muito bonito perguntou se estava à venda, a resposta do homem foi direta: “o cavalo é meu e não está à venda”; O professor então, com boas maneiras e um bom argumento, que lhe era peculiar, após uma breve conversa convenceu aquele senhor a lhe vender o animal assim como se encontrava. Após serem feitos os devidos acertos, pegou o cavalo e orgulhoso continuou a viagem, perguntando para uns e para outros até que achou a casa da jovem Bertolina. Lá chegando foi recepcionado por ela mesma, a qual o informou que naquele dia, novamente ocorreria uma carreira de cavalos. Ficou contente! Bem humorado e agora equipado, o professor informou que também participaria das corridas, embora soubesse que não iria ganhar, pois não era acostumado a andar a cavalos, porém sabia que precisava impressionar a jovem Bertolina e aquela era a oportunidade. Após as disputas, se constatou que ele não ganhou, mais impressionou! A sua participação ficou registrada pelas pessoas do evento como cavaleiro sorridente, alegre e bem humorado. Já no terceiro encontro dos enamorados ocorreu o casamento. Seu José e a jovem Bertolina, finalmente se casaram e deste casamento nasceram doze filhos, sendo cinco homens e sete mulheres.
As suas transferências de cidades em cidades sempre acompanhado da sua esposa e agora com filhos, eram muito difíceis: naquela época não existiam boas estradas, bons meios de transportes, os alojamentos eram precários e escassos. Em uma destas transferências, de manhã muito cedo saíram meio apressados, pois o casal e os filhos não perderiam’’ a carona com um caminhão; a pressa resultou no esquecimento de um dos filhos no hotel; quando perceberam já estavam a aproximadamente cinco Quilômetros de distância. A filha Odinéia havia ficado para trás. Pediram para o condutor parar, voltaram todos e pegaram a menina, dando continuidade a viagem cujo destino era Concórdia - sc.
Quando o professor José Dell’Antonia chegou pela primeira vez na nossa cidade, na antiga barracão, se instalou em uma casa rústica que mantinha um engenho de cana de açúcar de propriedade do senhor “João Imigrante”, como era conhecido. A localidade era as margens do rio Itajaí-açú; disto três Quilômetros do local onde ele lecionava. Este imóvel mais tarde foi vendido, o novo proprietário tomou posse das terras e o professor mais uma vez foi obrigado a se mudar. Cansado de tantas mudanças e com muito sacrifício adquiriu uma gleba de terras, próximo a cascalheira, construindo com muito esforço a sua primeira casa onde acolheu toda a sua família. Neste momento já tinha todos os doze filhos, levantava bem cedo e se dirigia a pé para dar aulas no centro da cidade; voltava ao meio dia, almoçava e novamente retornava, onde lecionava até a noite. Um de seus filhos lembra emocionado que todos os dias ele e seus irmãos iam para a curva da estrada esperar o seu pai. Quando o avistavam de longe, já o reconheciam pelo seu traje: sempre de gravatas e bem vestido. Bem humorado e de cabeça erguida corria para abraçar seus filhos. Às vezes embarcava no carrinho de rodas de madeira e a seu pedido todos os filhos saiam empurrando o brinquedo com o pai em cima. Juntos comemoravam e eternizavam com alegria aquele momento.
Nos momentos de folga convidava os filhos para buscar capim e alimentar as suas vacas; delas retirava o leite, para fazer queijos que vendia para ajudar no orçamento da família. Nas refeições todos sentavam ao redor da mesa, e após as orações repartiam uma grande polenta postada em seu centro: usando pratos de barro devoravam a polenta com leite até não poder mais. A música sempre lhe chamou a atenção e assim os filhos foram crescendo com uma tendencia a esta arte, alguns até arriscaram compor alguns versos. Quando algum filho pegava um instrumento para tocar, o professor logo o seguia e entusiasmado sentia prazerosamente as notas musicais, principalmente ao som do acordeom.
Em 1932 O Professor José Dell Antonia se solidariza ao grupo de educadores que lançou à nação o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, redigido por Fernando de Azevedo, que culminou no Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932, esta consolida a reforma do ensino secundário, visando, segundo Francisco Campos, "a formação do homem para todos os grandes setores da atividade nacional".
o progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a

O professor José Dell’Antonia conviveu e viveu arduamente o pensamento positivista que conhecimento cientifico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Faleceu na segunda residência que construiu, junto de seus filhos, noras genros, netos e amigos, no dia 15/04/2000, após ter perdido a visão e um longo período de convalescência.

Fotos: Arquivo pessoal - Diana Dell Antonia. 

Correções: Ana Paula Kretzer

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4 Comentários

  1. O relato emociona e honra os descendentes do homem - como eu.

    Que sua trajetória nos inspire, principalmente no que se refere à busca pelo conhecimento.

    Parabéns ao Pedro Jayme dos Santos pelo texto fidedigno. E obrigado a você, Carol, por essa postagem, que dá mais saudade do nono!

    James Dell'Antonia de Oliveira - Curitiba/PR

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  2. Que saudades do nosso querido avô ,que alegrou a minha infância com sua simplicidade e com suas histórias,que só ele sabia contar.....

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  3. Só quem conviveu com ele que sabe o tamanho da falta que nos faz. ídolo, exemplo, amor, avô querido.

    Jussara Odorizzi
    Blumenau -SC

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