Histórias de nossa gente - Fernando Luiz Poeta




Recebi a visita do seu Poeta que, aos 89 anos, é uma fonte viva da nossa história e resolveu abrir as portas do seu passado e de sua família para nos contar um pouco sobre a história da nossa querida Alfredo Wagner.
Coronel Carlos Napoleão
O menino Fernando nasceu em quatro de junho de 1929 em São José e veio aos 15 anos morar definitivamente em Alfredo Wagner, na comunidade de Demoras. Fernando Luiz Poeta é neto de Coronel Carlos Napoleão Poeta, que está fortemente ligado com a história de toda a região; 
O pai do coronel era italiano, lutou pela unificação da Itália. Geronimo Poeta fazia parte da nobreza italiana e guerreou ao lado de Giuseppe Garibaldi. Foi com ele que veio para o Brasil, após fracassarem na Europa. Vieram para Porto dos Casais – hoje Porto Alegre.
Já no Brasil, lutou ao lado dos farrapos na Revolução Farroupilha. No Rio Grande do Sul, Geronimo casou-se com Ingracia Correia, filha do comendador Correia, homem que ganhou do Imperador as terras que faziam divisa com Santa Catarina e iam até Uruguaiana. Giuseppe voltou para a Itália, mas Geronimo resolveu abandonar as guerras, ficando no Brasil. Lá o amigo de batalhas venceu muitas vezes e, por isso, é considerado herói dos dois mundos.
Coronel Carlos Napoleão
Do casamento entre Geronimo e Ingracia nasceu Carlos Napoleão Poeta que, assim como o Napoleão francês, entrou para a carreira militar. Carlos cresceu, avançou na exército se tornando coronel e foi viver em Santa Catarina, compondo a extinta Guarda Nacional. Junto com ele, outros nomes conhecidos como Hercilio Luz, Felipe Schmitz, Lauro Muller e Gustavo Richard também eram coronéis na época. Está reconhecendo alguns nomes? Sim, os colegas de Carlos Napoleão Poeta se tornaram governadores.
Carlos se casou com Josefina Richard, que era ela filha de Gustavo Richard.
Nos últimos meses do ano de 1890, o Governo Provisório da República havia feito contratos com o Coronel Carlos Napoleão Poeta, o Coronel Gustavo Richard e o Coronel Emílio Brum para fundarem neste Estado núcleos agrícolas e fixarem lugares para colonos emigrantes. Os referidos concessionários transferiram os seus contratos para a Companhia de Colonização e Indústria de Santa Catarina, que tinha à sua frente o Coronel Carlos Napoleão Poeta, como diretor liquidante e se situava na Barra da Jararaca.
Essa empresa começou a intensificar o seu serviço de colonização em 1902, fazendo medições de lotes e abrindo estradas em suas terras.
Coronel Carlos Napoleão
Em 1908, o Coronel Carlos Napoleão Poeta contratou com o Governo do Estado a construção de uma estrada carroçável entre Barracão - atual Alfredo Wagner - e a barra do Rio do Oeste - hoje Rio do Sul. A estrada seguia a sinuosidade do Rio Itajaí Sul, desbravando-o, para ali admitir a localização de agricultores e fazer as bases para as futuras povoações. Até então, o transporte era feito por meio de canoas pelo Rio, mas essa jornada não era nada fácil As canoas não eram grandes e só servia dois ou três sacos, em cada cachoeira tinha que descer.
A empreitada não foi das mais fáceis. Lutaram contra muitos obstáculos, entre eles o perigo das matas e o ataque de índios que habitavam a região.
Entre os filhos do casal Carlos Napoleão e Josefina estava Carlos que, quando adulto, morava em Campos, no estado do Rio de Janeiro. Mas lá vivia uma vida desregrada, o que fez com que o Coronel Carlos Napoleão criasse seus filhos. Entre eles, Salvador Poeta, pai do nosso entrevistado, senhor Fernando.

Coronel Carlos Napoleão Poeta com a esposa Josefina e os netos: Salvador, Osvaldo e América

Salvador Poera
Salvador se tornou engenheiro geógrafo e estudou no Instituto Politécnico de Florianópolis. Há 84 anos, no dia 24 de maio de 1934, ele e outros engenheiros, entre eles o grande amigo Udo Deeker – ex-prefeito de Blumenau -, fundaram a Associação Catarinense de Engenheiros, ACE. Considerada a mais antiga associação da classe dos engenheiros de Santa Catarina, hoje congrega centenas de associados. Foi o embrião de todo o sistema organizacional da engenharia catarinense. Teve importante presença na implantação do CREA-SC, vinculados anteriormente a Regional do Rio Grande do Sul, na implantação das diversas Escolas de Engenharias da UFSC, no Sindicato dos Engenheiros de Santa Catarina (SENGE), na FECAEG, Federação Catarinense de Engenheiros e tantas outras instituições.
Toda a família morava em São José antes de virem para Alfredo Wagner.
Quando também veio para cá, o pai de Fernando comprou o Barro Preto. Comprou a área de 15.000.000 m².  Foi assim que Fernando e os irmãos Carlos Angelo, com apenas um ano, Nilton e a irmã Helena vieram morar em Alfredo Wagner. O mais novo, Geronimo, nasceu em 1946, já no Barro Preto.
Aqui Fernando – seu Poeta – vive desde os 15 anos até hoje. Se casou com Dulce da Silva e aqui criaram seus cinco filhos: Paulo Luiz Poeta, Pedro Poeta, Ana Maria Poeta, Angela Inês Poeta Schweitzer e Izaias Poeta.
Dulce era filha de Ladislau Alves da Silva que foi um dos primeiros moradores e tinha como profissão ser o estafeta, responsável por fazer o correio entre Lages e Alfredo Wagner. Além disso, levavam pinhão para Biguaçu e trocavam por farinha de mandioca e açúcar mascavo. O sogro morava no Saltinho – onde hoje se situa o Salto das Águas.
Para ir até Biguaçu levavam dias, dormiam pelo caminho. Ele relembra de uma casa abandonada no Alto da Boa Vista que servia de abrigo para os tropeiros.
Forte na memória de seu Fernando também está a lembrança de Emilio Kuntz, o engenheiro alemão nascido em Berlim e que também teve grande contribuição para o desenvolvimento dessa região. Emilio fez o levantamento e nivelamento da Estrada Santo Amaro – Lages. Segundo Seu Poeta, o engenheiro empreitou a construção da estrada e conta que ele montava no seu burro, com um facão de um lado e o revolver 44 do outro e ia até o palácio do governador buscar o dinheiro para pagar os “turmeiros”. No ano de 1912 foi inaugurada a sua emblemática obra – pelo menos para nós Alfredenses – a Ponte Emilio Kuntz no Barracão, que permanece viva na memória dos Alfredenses.
Ele relembra que era lindo ver as tropas passando por ela, subindo a serra, mas que dava trabalho para os tropeiros, fazerem com que os bois passassem por ela. Seu Fernando lamenta não terem mantido a ponte de pé.
Com uma memória invejável seu Poeta me contou tudo isso e outros fatos não publicáveis, demos boas risadas e certamente aprendi muito sobre o passado de nossa cidade. Como se tudo isso não bastasse, ele ainda me presenteou com um clarin de 1906 e ainda tocou a alvorada.
Palmas para o seu Fernando Poeta! 




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3 Comentários

  1. Que maravilha conhecer gente assim. Pessoas sao sempre histórias vivas,
    Não ha livros que possam produzir a sensação de uma história narrada pelo próprio personagem.Adoraria passar um tempo com ele.

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  2. Parabéns pela materia!
    Adorei saber um pouco mais sobre minha família. Realmente meu tio Fernando, irmão mais velho de meu pai, e um grande historiador, rsrs
    👏👏👏👏

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  3. Olá Carol Pereira
    Fiquei muito emocionada com esta história, também sou Poeta e acabei descobrindo que o menino da foto Osvaldo, neto de Carlos Napoleão era avô da minha mãe!!
    Se você tiver mais informações como a cidade que nasceu Geronimo ou a data, poderias me enviar?
    obrigada e parabéns pela matéria.

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