Saímos de Floripa rumo ao Rio, aquela ponte aérea clássica para quem sonha com a Europa. Nessa viagem eu estava com a Ju, o Leonardo e a Guiga, que dentro do meu coração, são família. Nosso destino final? Porto. Era ali que nossa aventura EuroÁfrica começaria. Na fila do aeroporto, segundo as fotos (porque memória de viagem é seletiva), encontramos o tal Dj Gege. Quem? Não sei até hoje. Mas seguimos.
Já em solo português, pegamos o metrô até a estação de Bolhão. Daí, seguimos a pé até o apartamento. E confesso: foi um choque doce chegar à Europa e, de repente, todo mundo estar falando… português. Parecia que tínhamos atravessado o oceano para pousar num bairro vizinho.
O apartamento? Imenso. Paredes internas todas vermelhas, o que me dava uma sensação entre “design moderno” e “restaurante chinês”. Mas a localização compensava qualquer dúvida estética: estávamos pertinho da Rua Santa Catarina – que, aliás, é uma prima europeia da Felipe Schmith, lá de Floripa.
Foi nela que comemos nossa primeira francesinha. Não, não é doce. É basicamente um sanduíche robusto: carne, bacon, coisas que nem questionei, tudo coberto com queijo derretido, um ovo frito por cima e aquele molho meio segredo da casa, ladeado por batatas fritas. Confort food no seu auge. No meio da refeição, um terno de reis passou. E ali, no meio do Porto, comendo um sanduíche de respeito, eu quase me emocionei.
Depois do almoço seguimos para a famosa Livraria Lello, aquela que dizem ter inspirado Harry Potter. Linda, sem dúvida. Mas confesso: esperava algo mais. Talvez magia de verdade.
A cidade estava lindamente iluminada para o Natal, luzes espalhadas pelas ladeiras davam aquele ar de cenário de filme europeu. Mas o cansaço bateu. Depois de um passeio pelo mercado, voltamos para o apartamento, jantamos e desmaiamos.
Planejávamos acordar às 8h no dia seguinte. Risos. Abrimos os olhos às 9h, graças – ou não – a um senhor que berrava na rua algo incompreensível. Primeiro achamos que era “vende jornal”, depois “loteria federal”, mas, com o tempo (e paciência), entendemos que era o anúncio da “Loteria de Natal”. E sim, ouvir português em Portugal nem sempre é tarefa simples.
Começamos nosso roteiro pela Ribeira. No caminho, construções históricas disputavam nossa atenção. E chegando lá, tudo fez sentido: é o coração do Porto. Cruzamos o rio Douro pela ponte e, do alto, Porto se mostrava ainda mais encantador.
Na beira do rio, almoçamos em um restaurante simpático, com garçons ainda mais simpáticos. O menu? Sopa de tomate de entrada, que mais parecia uma pomarola servida quente. Dava para comer, mas não foi exatamente memorável ou foi, pois se eu fechar os olhos ainda consigo sentir o gosto (horrível). O prato principal salvou a refeição, acompanhado, claro, de um vinho. Afinal, estávamos em Portugal.
Terminamos o dia atravessando o rio novamente e passeando pela parte histórica da cidade e voltando ao apartamento para preparar nossa ceia de Natal. Porque, afinal, era mais um Natal juntas – eu e Julia – como tantos outros passados em Alfredo, na casa dos avós dela.
Porto valeu cada passo. Cidade de alma leve, bonita, tranquila. Daria fácil para morar aqui. Mesmo com o fogão problemático do nosso apartamento, estávamos certas de que o Natal sairia… de algum jeito. Como sempre sai.
Road Trip em Portugal
Nos apaixonamos por Porto. Mas não era ainda hora de escolher morada no coração – Portugal era maior, tinha mais histórias pra nos contar. Resolvemos alugar um carro e, no meio do Natal, inventamos uma road trip: do Porto até Lisboa, parando em cada cidade que tivesse algo pra nos mostrar. Queríamos tudo: pontos turísticos, garfadas de gastronomia, goles de bebidas típicas e aqueles detalhes invisíveis que só a estrada oferece. O roteiro parecia um poema rimado: Porto, Aveiro, Coimbra, Batalha, Fátima, Nazaré, Óbidos, Lisboa.
Aveiro nos recebeu como um cartão-postal desenhado à mão. Os moliceiros deslizando pelos canais pareciam posar pra gente, cientes da fotogenia. E nós, turistas rendidos, só seguimos o fluxo. As casinhas listradas da Costa Nova eram de uma alegria infantil, pareciam ter sido pintadas num dia bom. Chamam Aveiro de a Veneza portuguesa — e sinceramente? Melhor. Não fede e não se acha mais importante do que realmente é.
De lá, seguimos estrada adentro até Coimbra, onde o cheiro da história disputava espaço com o som melancólico do fado. Andamos pelas ruas estreitas como quem lê um livro antigo. A Universidade e sua Biblioteca Joanina nos deixaram em silêncio – desses silêncios que a gente precisa, pra caber o encantamento. As capas negras dos estudantes tornariam tudo ainda mais cinematográfico. Me peguei imaginando como seria estudar ali… claro, não perdi a chance de tirar umas fotos do meu livro – o terceiro da série, recém-lançado – porque autora também é turista. Na verdade, fiquei pensando que estudar na Europa, mas especificamente em Portugal era uma coisa bem Brasil Colonial, claro que sendo mulher, não seria uma vaga para mim. Ainda bem que em 2019 estudar na Europa era para mulheres também, e eu não sabia, mas naquele mesmo ano a minha oportunidade chegaria.
Em Batalha, o silêncio não era uma escolha, era uma ordem. O Mosteiro gótico impunha respeito. Os vitrais filtravam a luz como se fossem poesia materializada. Ficamos ali, entre passos lentos e olhares parados, tentando absorver aquele pedaço de mundo que parecia maior do que nós. O silêncio só foi quebrado quando alguém – não vou entregar nomes, mas começa com J e termina com úlia – resolveu filmar e caiu no chão. O vídeo ficou ótimo, por sinal.
Fátima foi um intervalo quase sagrado. Mesmo pra quem não reza, há algo ali que toca. O Santuário é um lugar onde até o ar parece pedir silêncio. Vimos as velas queimando e pensamos na vida, na fé, no que quer que fosse. O café foi simples, o pão também – e nem precisava mais.
De volta à costa, Nazaré nos recebeu com cheiro de mar e sal. Subimos até o miradouro do Sítio, onde a vista entende o exagero do Instagram. Ali, a natureza costuma gritar através das ondas gigantes. Mas naquele dia, ela sussurrou: o mar parecia um lago, calmo, inofensivo. As ondas ficaram só na nossa imaginação – e, pra falar a verdade, ela deu conta do recado. O pôr do sol, esse sim, veio real: pintou o horizonte de laranja e dourado e nos fez entender que nem tudo precisa acontecer pra ser bonito.
Óbidos parecia cenográfica. Uma vila medieval cercada por muralhas, onde cada rua estreita era uma promessa de descoberta. A ginjinha no copo de chocolate nos chamou – e, óbvio, atendemos. Caminhar pelas muralhas olhando a vila lá de cima foi como caminhar pelo tempo. O passado nunca foi embora dali, apenas aceitou conviver com turistas.
Quando a noite caiu, desembarcamos em Lisboa. Já era hora. E Lisboa estava lá, nos esperando com seus bondes amarelos, seu fado saindo das vielas e aquele jeitinho de cidade que sabe contar histórias sem precisar falar alto.
Lisboa
Chegar a Lisboa foi como abrir um livro que eu sempre quis ler. Desde criança, apaixonada pela história do Brasil, eu sabia que um dia pisaria ali — nas ruas de pedra onde tudo começou, nas ladeiras onde o passado português se derrama sem pressa. Lisboa me recebeu como um velho conhecido, com o cheiro do café, o tilintar dos bondes e aquela luz dourada que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Andar por Lisboa foi como conversar com a história sem precisar de tradutor. E eu me apaixonei. Simples assim.
Apesar de ter passado inúmeros verões da infância e adolescência com a Júlia — e nós duas sermos apaixonadas por viagens — essa foi a primeira vez que viajamos juntas. E preciso dar o crédito: a Júlia organizou tudo. Planejou cada detalhe da viagem de forma impecável, como uma guia de turismo nata. Seguindo o roteiro dela, no dia 26 de dezembro fomos desbravar Lisboa — e fomos de bonde, claro. Pegamos na Praça da Figueira, que novamente parecia uma prima distante da Praça XV de Floripa.
Os bondes de Lisboa são como personagens da cidade — velhos, charmosos e cheios de histórias pra contar. A cada curva nas ladeiras, eles rangem como quem reclama da idade, mas seguem firmes, porque sabem que carregam o coração da cidade. Estavam todos decorados para o Natal, com luzes piscando nas janelas e pequenos enfeites que deixavam o passeio ainda mais encantador. Subimos em um deles como quem embarca numa máquina do tempo, atravessando bairros históricos e vendo a cidade de outro ângulo, entre o chiado das rodas e o tilintar do sino. A história dos bondes lisboetas se confunde com a da própria Lisboa — desde o fim do século XIX, eles percorrem as mesmas rotas, conectando passado e presente numa viagem que não dá vontade de terminar. Amamos cada sacolejo, cada curva, cada parada. Mais do que transporte: foi uma experiência. E uma memória bonita pra levar na mala.
Descemos no Largo das Portas do Sol e dali seguimos a pé até o Castelo de São Jorge. A fortificação, erguida pelos mouros no século XI, se impõe como uma sentinela silenciosa que há séculos vigia Lisboa do alto da colina. Caminhar por suas muralhas é como atravessar as páginas de um livro: pedras gastas pelo tempo, torres que já viram reis, batalhas, histórias que ninguém mais conta. O silêncio ali não é incômodo — é quase um convite à contemplação.
Mas o que realmente tira o fôlego — mais do que as subidas — é a vista. Do alto do castelo, Lisboa se estende como um tapete de telhados vermelhos, entrecortados por ruas estreitas e pelo brilho prateado do Tejo. Ficamos ali por longos minutos, olhando a cidade como quem olha um amor antigo: reconhecendo cada curva, cada detalhe. Lisboa se revelou inteira diante de nós. E foi ali, naquele miradouro do castelo, que eu tive certeza — estava exatamente onde sempre quis estar.
Ali por perto, ainda fica o Miradouro de Santa Luzia, o Panteão Nacional e a Feira da Ladra — mas essa última só funciona às terças e sábados, o que nos deixou com um motivo a mais para voltar.
Dali, seguimos Alfama abaixo, sem pressa, como quem entende que, em Lisboa, o caminho sempre vale mais do que o destino. As ruelas estreitas, desenhadas sem mapa nem lógica, nos guiavam como um labirinto que só faz sentido pra quem se permite se perder. As roupas estendidas nas janelas, os azulejos lascados pelo tempo e o fado ecoando ao longe completavam o cenário — um bairro que parece ter feito um acordo com o tempo pra nunca mudar.
Foi assim que chegamos à Igreja de Santo Antônio de Lisboa — o famoso santo casamenteiro. Se fiz um pedido? Não me lembro. Mas algo me diz que sim, porque, naquele mesmo ano, conheci o Rory. Coincidência? Prefiro acreditar que foi intervenção turística.
Ali perto, quase escondida entre as paredes centenárias, estava a Fundação José Saramago. Uma pausa literária em meio ao labirinto de Alfama. Caminhar por aquelas ruas foi como ler um livro antigo de olhos abertos — Lisboa se contava para nós em azulejos, varais e calçadas de pedra. Sem pressa, sem ponto final.
De Alfama, seguimos descendo até a Praça do Comércio, aquele salão aberto onde Lisboa se despeja inteira diante do Tejo. Ali, entre prédios amarelos e o rio refletindo o sol da tarde, fica o Lisboa Story Centre. Pequeno por fora, mas essencial: o museu conta a história da cidade como um velho amigo que puxa uma cadeira e começa a conversar. O terremoto de 1755, o incêndio, a reconstrução… tudo fez sentido ali. Lisboa não era apenas bonita — era resiliente.
Saindo dali, atravessamos a rua para o Café Martinho da Arcada, onde Fernando Pessoa costumava ocupar uma mesa cativa. Não resisti à cena mental: o poeta observando as mesmas ruas que agora eram nossas, como se Lisboa fosse cenário fixo e nós apenas visitantes passageiros.
Seguimos pela Rua Augusta até o famoso Arco, símbolo da Lisboa que renasceu. Não subimos, mas dizem que lá de cima, pode-se ver a Baixa Pombalina organizada em quadriculados perfeitos aos pés.
Voltamos a caminhar pelas ruas da Baixa até chegarmos novamente ao Rossio. E foi ali, no Largo de São Domingos, que paramos para mais um licor do Porto — porque tínhamos que desfrutar disso estando em Portugal, não é mesmo
Com o sol começando a dourar as ruas, decidimos encerrar o dia do jeito que Lisboa merece: na Delirium Tremens. Sim, a mesma marca da famosa cerveja belga, mas com um charme todo lisboeta. Ali, entre paredes decoradas com elefantes cor-de-rosa e um menu infinito de rótulos, deixamos o vinho e a ginjinha de lado — era hora da cerveja.
Sentamos sem pressa, como quem sabe que o corpo pede descanso, mas a alma ainda quer mais um brinde. A Delirium Tremens, forte e levemente picante, foi o tipo de surpresa que Lisboa gosta de oferecer: inesperada, deliciosa e um pouco fora do roteiro tradicional. Entre um gole e outro, brindamos ao dia intenso, às histórias que tínhamos colecionado, e àquela alegria silenciosa de quem sabe que está vivendo um momento para lembrar.
Lisboa tinha nos entregado muito. E, ali, entre amigos, cervejas e risos, ela continuava entregando.
E foi ali, na Delirium Tremens de Lisboa, que a noite se transformou. Depois da cerveja, vieram os risos — e, sem perceber, já estávamos dançando. Nada planejado, nada turístico. Só o prazer de deixar o corpo seguir a música, entre goles gelados e aquela sensação boa de estar exatamente onde deveríamos estar. Gravamos vídeos ridículos (que, claro, juramos nunca postar, mas cinco minutos depois estavam nos nossos stories), rimos até perder o fôlego e fizemos o tipo de promessa que só se faz em noites felizes: voltaríamos.
Sem dúvida, foi fim de tarde improvável, fora do roteiro tradicional. Mas uma daquelas que fazem a viagem ser o que ela realmente é: uma coleção de momentos que não cabem nas fotos.
Sintra
Sintra foi como entrar num conto de fadas escrito por um autor um pouco excêntrico. A cidade inteira parecia ter sido desenhada à mão, com seus palácios coloridos pendurados nas encostas, jardins misteriosos e aquela neblina teimosa que ora escondia, ora revelava os cenários. Caminhar por Sintra era como se perder dentro de um cenário que misturava história, lenda e fantasia. Tudo parecia excessivo — e ao mesmo tempo, absolutamente encantador. Desde criança eu queria conhecer Sintra. E ali, de verdade, parecia que eu tinha atravessado alguma fronteira invisível: não estávamos mais em Portugal. Estávamos em algum lugar onde o real e o imaginário andavam de mãos dadas.
Chegamos em Sintra com aquela sensação de quem já sabe que o dia vai ser mágico. Na saída da estação, o ponto do famoso ônibus 434 já nos esperava, nesse dia eu não estava me sentindo muito bem, me sentia um pouco febril, nada demais, mas não estava na minha melhor forma, mas resolvi que com febre ou sem febre eu aproveitaria Sintra. Fizemos o chamado Circuito da Pena, que te leva num vai-e-volta estratégico pela parte alta da serra, parando nos lugares mais importantes: Palácio Nacional de Sintra, Castelo dos Mouros e, lá no topo, o Palácio Nacional da Pena. Subiríamos até o mais alto e depois voltaríamos descendo — um roteiro desenhado pela própria montanha.
Nossa primeira parada foi o Castelo dos Mouros, lá em cima, no alto da Serra de Sintra. As muralhas onduladas, seguindo o relevo da serra, pareciam uma versão medieval da Muralha da China, mas em miniatura. O vento era frio, mas a vista compensava: de lá, víamos a cidade inteira recortada entre o verde das encostas e o azul do Atlântico ao fundo. Caminhar por aquelas muralhas foi como se equilibrar entre o passado e o presente, literalmente acima das nuvens.
Seguimos para o mais esperado: o Palácio Nacional da Pena. E se Sintra já parecia saída de um conto, o palácio era o capítulo mais excêntrico. Colorido como um castelo de brinquedo, com torres amarelas, vermelhas e detalhes que pareciam ter sido escolhidos por um rei indeciso, o lugar era tão estranho quanto fascinante. Caminhamos pelos jardins como quem passeia dentro de um cenário de filme.
Na volta, descemos com o 434 até o centro de Sintra, onde a recompensa era doce: os famosos travesseiros da Casa Piriquita. A padaria tem mais de 160 anos, e o doce, um folhado recheado com creme de amêndoas, justificava cada minuto de espera na fila. Não bastasse isso, ali perto, na Fábrica das Verdadeiras Queijadas da Sapa — outro clássico da região, receita do século XVIII. Ainda paramos na Mercearia do Beco para jantarmos ali pela Quinta da Regaleira
Encerramos o passeio no Centro de Sintra, entre lojinhas, cafés e aquela vontade de ficar mais. Mas Lisboa nos chamava de volta. Pegamos o trem da linha Sintra-Lisboa, sentamos cansados, mas felizes, e voltamos olhando pela janela, como quem sabe que deixou um pedaço do coração perdido entre os castelos e as neblinas de Sintra. Em Lisboa voltamos até a Delirium.
Cascaes
No dia seguinte, trocamos o charme antigo de Lisboa pelo frescor do litoral e partimos para conhecer Cascais — aquele tipo de lugar onde o mar encontra a sofisticação sem esforço. A cidade parecia saída de um cartão-postal: ruas limpas, casinhas brancas com detalhes coloridos, e aquele ar descontraído de quem sabe que mora num paraíso. Caminhamos sem pressa pela orla, com o Atlântico brilhando sob o sol e os barcos balançando preguiçosamente no porto.
Cascais tinha alma de vila de pescadores, mas com o toque elegante de quem já virou refúgio de veraneio. Entre as lojinhas, os cafés e as praias pequenas de areia clara, entendemos rápido por que tanta gente escolhe esse pedaço de Portugal para viver ou simplesmente desacelerar. O mar convidava para um mergulho — mesmo que fosse só com os olhos.
Pela orla, o cheiro de castanhas assadas nos acompanhava enquanto caminhávamos. Não resistimos: compramos um saquinho ainda quente e seguimos devorando as castanhas, o lanche mais simples e mais típico que poderíamos ter escolhido.
Em Cascais, demos de cara com o que parecia ser um castelo de conto de fadas: a Casa de Santa Maria. A torre, os detalhes da construção e a ponte de pedra logo ao lado criavam um cenário quase cinematográfico. Era impossível não parar para fotografar e admirar aquele lugar, que parecia ter saído diretamente de uma ilustração de livro infantil. Com o mar ali ao lado e a luz do sol recortando as sombras, o castelinho se revelou um daqueles achados que a gente não planeja, mas que acabam virando um dos momentos mais bonitos do dia.
Do centrinho de Cascais, seguimos até a impressionante Boca do Inferno, uma formação rochosa onde o mar se lança contra as paredes de pedra, criando um espetáculo de ondas e sons. Ficamos ali por um tempo, hipnotizados, ouvindo o rugido do Atlântico ecoando pelas cavernas. A força da natureza tinha outro tom naquele lugar.
Encerramos o dia em Estoril, aquela vizinha elegante de Cascais. Caminhamos pela praia, vimos os hotéis históricos e sentimos que o ritmo ali era ainda mais devagar, do alto de um penhasco um músico tocava violino. Sentamos para ver o pôr do sol, aquele momento em que o céu se pinta de dourado e o mar vira espelho. Foi a despedida perfeita do litoral português: o sol mergulhando no Atlântico e nós ali, em silêncio, apenas observando. Sem pressa, sem fala, sem precisar de mais nada.
Encerramos a noite no nosso AirBnb, degustando vinhos e cervejas que tínhamos comprado.
Passamos nosso último dia em Lisboa do jeito que toda despedida merece: sem pressa, sem planos grandiosos. Batemos perna pela cidade, entramos e saímos de lojas — a nossa querida Primark (que na Irlanda a gente chama carinhosamente de Penneys) foi o ponto de parada oficial para gastar o que sobrou dos euros. Compramos lembrancinhas, mimos e aqueles presentinhos que a gente compra mais por desculpa do que por necessidade. Almoçamos um bacalhau digno de encerramento de viagem, num restaurante charmoso onde o tempo pareceu desacelerar só pra gente.
Antes de voltar para o AirBnb compramos muitos pasteis de nata e no elevador, eu disse que queria comprar 100 euros deles e quase matei do coração uma senhora que estava no elevador com a gente. “É muito paxtel” com sotaque bem Português.
De volta à nossa casinha lisboeta, as malas nos esperavam abertas, prontas para guardar não só roupas e compras, mas tudo o que tínhamos vivido. Rimos muito naquela última noite. Talvez pela mistura de cansaço e alegria. Ou talvez porque sabíamos que, no dia seguinte, seguiríamos viagem para o Marrocos — meu primeiro país africano. Mas Lisboa já deixava saudade antes mesmo de partirmos.
E foi assim, antes das sete da manhã do dia seguinte, que nos vimos debruçadas sobre a geladeira, encarando o último desafio da viagem: dar fim às cervejas e aos vinhos que tínhamos acumulado nos dias anteriores. Tomar tudo antes do voo parecia uma ideia ridícula. Mas, naquele momento, era a única solução lógica. E entre goles apressados e risadas, brindamos à viagem que terminava e à aventura que estava prestes a começar.
Lisboa ficou para trás naquela manhã, mas a verdade é que Lisboa nunca mais saiu de nós.
0 Comentários