17 de dezembro de 1940
27 de novembro de 2020
Alfredo Wagner é uma cidade cheia de mulheres fortes e de garra e uma delas foi a Dona Zélia. Dona de um sorriso encantador e uma gentileza incomparável, além de ser a responsável por alguns dos quitutes mais gostosos de nossa cidade! Quem nunca se deliciou com suas galinhas assadas ou se tiver um pouco mais de tempo vivido, com suas cocadas, picolés e sorvetes?
Vamos conhecer um pouco sobre essa mulher marcante através do bonito relato escrito por suas filhas, Elizete e Elizabete.
Enquanto no mundo acontecia a segunda guerra mundial e apareciam nas telas do cinema Marilyn Monroe, Frank Sinatra, aqui no Brasil, tínhamos como presidente Getúlio Vargas e surgia a notável Carmem Miranda. Foi neste contexto numa cidadezinha do interior de Santa Catarina, conhecida na época como Barracão e que mais tarde com a emancipação foi denominada Alfredo Wagner, mais precisamente no dia 17 de dezembro de 1940, nasce com a ajuda de uma parteira e sua avó uma linda menina, que a ela seus pais deram o nome de Zélia Verônica Bunn.
A quinta filha de Paulo Pedro Bunn e Irma Schutz Bunn, que traziam junto com eles uma linda história de amor, em que a união do casal foi conquistada com muita luta e persistência, pois os seus pais não concordavam com o namoro porque tinham religiões diferentes, uma família era católica e a outra evangélica. Mas que foi autorizada pelas famílias após um longo período de greve de fome feito por Irma, quando esta já se encontrava fraca e desnutrida.
Com o consentimento, acontece então o sonhado casamento que foi realizado na Igreja Católica da localidade de Taquaras pertencente ao município de Rancho Queimado. Após o casamento, passaram a residir em Alfredo Wagner, onde tornaram-se prósperos comerciantes com fábrica de óleo de sassafraz, moinho de farinha, açougue, curtume, serraria e vendas de gado. Irma além de cuidar do lar, ajudar seu esposo nos negócios da família, era também catequista. Desta união, tiveram seis filhos que foram educados com muita fartura, disciplina e religiosidade.
Ainda na infância, foram acometidos com uma grande tristeza, a perda de sua mãe com apenas vinte e oito anos de idade. Zélia então com cinco anos e sua irmã Angélica passaram a morar em Taquaras na casa de seus avós maternos, Cristhiano Schütz e Mathilde Beppler Schütz, permanecendo ali até em idade escolar.
Dois anos depois, foram morar na casa dos avós paternos Pedro Jacó Bunn e Apolônia Goedert Bunn, na Localidade de Rancho de Tábuas do município de Angelina para estudar. Quando recordava sua infância ali junto dos avós, seus olhos brilhavam e sentia por eles saudade e muita gratidão. Contava que acordava muito cedo e ajudava nos afazeres do lar depois ia para a escola, atravessando muitas vezes pastos cobertos de geada com um tamanco de madeira. A professora era sua tia e madrinha Rainildes Bunn, sempre rigorosa e não a poupava dos castigos e da palmatória muito utilizados na época.
Ali, conviveu com uma família bastante numerosa. Sua avó Apolônia teve quinze filhos, adotou uma neta e ajudou a cuidar dos outros seis netos em idade escolar, tudo era bem racionado e dividido. As gostosuras ficavam geralmente para os mais velhos e as visitas. Então, num belo dia, ela e sua prima foram buscar a lata de bolachas a pedido da avó para servir as visitas e no caminho deixaram a lata cair e para a felicidade das crianças a bolacha foi dividida entre elas. Quantas gostosuras! Foi um dia inesquecível, pois sempre nos contava e ria muito desse fato. Ela relembrava também que em todas as noites antes de dormir se ajoelhavam ao lado da cama e rezavam juntos o rosário.
Retornou depois dos estudos para Alfredo Wagner e conviveu com sua madrasta Geni Goulart e mais sete irmãos do segundo casamento do seu pai. Na sua juventude, foi para Urubici fazer um curso de costura e bordados, pois não aceitou ir para os internatos de Lages e Blumenau para continuar os estudos como seus outros irmãos.
De volta para casa, sempre muito trabalhadeira e caprichosa desde nova, se esmerava em engomar seus vestidos e camisas dos seus irmãos Mário e Inerto, que a recompensavam com uns trocados que lhes rendiam uns vestidos e sapatos novos. Relembrava saudosa dos lindos momentos que conviveu com a família, passavam as tardes de domingo reunidos, a maioria dos irmãos tocava algum instrumento musical, tinham praticamente uma bandinha em casa com piano, gaita, violão e chocalho. Enquanto uns tocavam, os outros cantavam.
Ali, ensaiavam também os cânticos para as missas, era lindo de se ver. E nas escadarias da igreja, enquanto esperavam o horário para começar as rezas, é que ela começou a se encantar com um belo moço, Vilson Alberto Schweitzer, vindo a iniciar um namoro posteriormente.
Passavam boa parte do namoro indo conversar perto da ponte de madeira que existia no Sombrio, na varanda do tio Talico, no cinema e nas tardes de domingueira abrilhantadas pelo Jazz Familiar do seu sogro Vadinho e do seu Eti.
Dizia-nos que naquela época o namoro era diferente, tudo com muita disciplina e respeito. Para frequentar a casa da namorada, precisava pedir a autorização dos pais. Tinha horário para chegar e sempre muito cedo o namorado tinha que ir embora.
Após dois anos entre namoro e noivado, aconteceu então no dia 04 de julho 1959 o enlace matrimonial. Os noivos foram levados de caminhão para a igreja e em seguida a festa na casa dos pais da noiva em Águas Frias, onde tudo foi preparado com a ajuda das duas famílias.
Ali teve início a sua família, a primeira moradia foi em Águas Frias. Seu esposo era alfaiate e ela o ajudava nas costuras. Seu primeiro filho foi Alceu, alguns anos depois passaram a morar no Barracão, onde tiveram mais quatro filhos, Dirceu — in memoriam —, Elizete, Paulo e Elizabete. Construíram ali o comércio, a alfaiataria e a casa de morada. Este comércio teve algumas variações, iniciou com uma venda, depois ficou bar, lanchonete e um grande investimento para eles foi a sorveteria que na época os fez vender um terreno para dar de entrada na compra.
Esta época do bar foi muito próspera, pois investiram também na compra de uma enorme televisão, sendo uma das primeiras do município. Acontecia naquela época a copa de 70 e o bar ficava lotado, tendo até muitas pessoas do lado de fora para assistirem os jogos.
Dona Zélia ficou então muito conhecida pelas suas cocadas, picolés e sorvetes, em que passava dias e muitas horas da noite na fabricação destes, que ia sempre inovando e aperfeiçoando com novidades e sabores diferentes.
Depois, vieram os bingos e as suas deliciosas galinhas assadas. Junto com o comércio, ajudava também seu esposo na lavoura, iam trabalhar de carroça, pois ficava longe da casa, e ainda cuidava dos afazeres do lar.
Naquela época, a comida era feita em fogão a lenha, tinha forno grande onde eram assados roscas e pães, as roupas eram lavadas em um lavador de madeira no rio. Em sua casa, sempre recebia muitas visitas, dentre elas seu irmão Inerto que sempre passava longas temporadas com a família.
Os filhos foram crescendo e com eles também a responsabilidade de ajudar nos trabalhos. Logo o tempo passou e todos casaram e constituíram suas famílias e ela foi então abençoada com nove netos, Ariela, Keitiane, Aline, Guilherme, Maria Júlia, Mayra, Isabella, Ana Clara e Cristiano, e dois bisnetos, Davi e Helena.
Sua maior alegria sempre foi reunir a família em deliciosos almoços, cafés com um pão saboroso, com mesa muito farta, feito tudo com muito amor e capricho. A casa e o jardim eram impecáveis, coloridos e perfumados com suas flores que eram sua paixão.
E assim o casal viveu por sessenta e três anos, tiveram momentos tristes, mas os felizes predominaram com a graça de Deus, eram alegres, gostavam de dançar e passavam o carinho entre eles para toda família que foi com certeza seu maior orgulho e felicidade.
Informações repassadas por:
Vilson Alberto Schweitzer
Elizabete Schweitzer da Cunha
Paulo Osvaldo Schweitzer
Alceu Schweitzer
Guilherme Schweitzer
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