Personalidades: Ivo Schmitz



25 de agosto de 1926

08 de novembro de 2011


Muita gente ainda deve lembrar de um ilustre morador da extinta comunidade da Barra da Jararaca, hoje Arnópolis, o seu Ivo Schmitz, que além de alfaiate de mão cheia ainda trabalhava como intendente municipal, juiz de paz e mais tarde como exator — repartição arrecadadora de impostos.

Ivo nasceu em 25 de agosto de 1926, no Sul do Rio — Santo Amaro da Imperatriz. Ele era descendente de imigrantes alemães. Filho de Roberto Schmitz e Maria Kloppel Schmitz. Seu pai era caixeiro-viajante, carroceiro, vendia produtos e entregava, fazia fretes de encomendas, tudo com a carroça. Sua mãe era costureira e cuidava da casa e de oito filhos.  

Roberto veio a falecer muito cedo, com trinta e nove anos — diziam que ele havia tido uma congestão cerebral, depois de comer ovos fritos, beber vinho e ter que atravessar um rio cheio com a carroça. 

Sua mãe, então viúva, com muitos filhos e pobre, mudou-se para Barra da Jararaca-Bom Retiro — hoje Arnópolis — Alfredo Wagner, para tentar melhorar de vida. 

Sua mãe costurava e os filhos mais velhos trabalhavam na roça: Ita com nove anos, ele com oito, Gercy com sete, ajudavam a sustentar a casa. 

Ivo conheceu sua futura esposa, Lourdes, quando sua mãe se mudou e eles se tornaram vizinhos, mas primeiro eles foram amigos. Sua futura esposa era da família Pinheiro, filha de Dinarte Egídio Pinheiro e Palmira Silveira Pinheiro, que também tinham oito filhos e também moravam na Barra da Jararaca.

Dinarte, o pai de Lourdes, era filho de Plácido e Amância. Amância faleceu bem idosa e ela costumava contar que sua mãe era uma "bugra" pega no mato a cachorro e que quando ela estava em casa sozinha cozinhando, torrando café ou descascando arroz no pilão, os índios ficavam espiando nas frestas da casa, sopravam e jogavam coisas para dentro e ela mesmo com medo fazia de conta que não os temia. 

Dinarte, aos dezoito anos, foi à Florianópolis se alistar, levava cerca de oito dias a pé para chegar até a capital do estado. Palmira, sua futura esposa, morava nas proximidades do quartel. E ele com sede olhou para os lados para achar água e viu uma casa e uma moça bonita no portão. A moça também o viu e contava que também o achou muito bonito e com maneiras diferentes. Ele não perdeu a oportunidade e foi até a casa da moca para pedir água. 

Foram seis anos de namoro e noivado e depois o casamento — uma vez ao ano ele ia vê-la. No casamento, levou uma carroça para trazer a noiva, o enxoval e muitas recomendações: ela não poderia jamais trabalhar na roça e nem torrar café, pois era muito perigoso. Era somente para cuidar da casa, cuidar dos filhos e educá-los. Quando Palmira nasceu, sua mãe havia falecido no parto, então ela foi criada na casa do Professor Barreiros Filho, estudou, tinha roupas boas e foi morar, como eles diziam, no fim do mundo, lugar que a família de criação nunca conheceu. Dinarte era agricultor e marceneiro. O casal teve oito filhos, entre eles Lourdes, a futura esposa de Ivo.

Com quase dezoito anos, Ivo foi para Florianópolis aprender uma profissão. Ele foi para a Indústria Scarpelli aprender o ofício de alfaiate, a cortar ternos e costurar — roupas para homens —, também cortar e costurar tailleur ou costumes — para mulheres. Enquanto ele tinha ido para Florianópolis estudar, Lourdes, mesmo estando na Barra da Jararaca, também aprendia a costurar, bordar, fazer crivo. Ela também se tornou professora e foi dar aulas em João Paulo — Rio Rufino. Estando lá, ela se hospedava na casa da família Burratto. 

Ele era moço bonito e cheio de namoradas. Ela também era uma moça bonita e namorava o irmão do noivo de sua irmã mais velha. Só que por esses tempos quando ele vinha em casa visitar a família e ela também estava fazendo o mesmo, começaram a se interessar um pelo outro, a amizade cultivada desde muito cedo começava a se transformar em amor.

Então, ele pediu para ela terminar com o namorado para poderem assumir o seu amor e namoro. Lourdes foi falar com os pais para pedir consentimento, mas sua irmã começou a chorar, achando que o noivo iria tomar as dores do irmão e terminar com ela. Preocupados com o rompimento do noivado da filha mais velha, os seus pais não permitiram que ela terminasse. Sendo assim, o namoro com o tal moço continuou, mas ela estava sempre tentando escapar o quando podia do "chato". Enquanto isso, o amor entre Ivo e Lourdes não tinha acabado e eles começaram a namorar escondido. Até que sua irmã se casou e eles puderam assumir o relacionamento à vista de todo mundo, depois noivaram e se casaram. 

Casaram-se em 1949, ele com 23 anos e ela com 21. Ivo havia retornado para Barra da Jararaca um pouco antes do casamento. Lá ele montou uma alfaiataria onde ele cortava as roupas e fazia os casacos — parte de cima — e Lourdes, que havia deixado de ser professora, fazia as calças e saias. O casal de alfaiates tornou-se conhecido em toda região. Dizem que a alta sociedade fazia roupa com eles. 

Do casamento, tiveram sete filho: Antonio Carlos Schmitz — in memoriam —, Lourena Schmitz, Lunalva Schmitz Sofka, Natal Gonzaga Schmitz — in memoriam —, Nabor José Schmitz, Naudir Antonio Schmitz e Ivo Schmitz Filho.

Os filhos dormiam e acordavam com o barulho das máquinas ou das tesouras. Mesmo trabalhando muito, ele não ficava somente na costura, era intendente municipal e juiz de paz e posteriormente passou a ser exator ou auditor fiscal estadual. Além disso, depois de casado, ele começou a estudar o supletivo, de primeiro e segundo grau, finalizando seus estudos. Uma coisa que também ficou marcada na memória dos filhos, principalmente nos mais velhos é que eles viam o pai toda noite lendo com lampião à querosene, ele lia até os diários oficiais que vinham nos malotes da exatoria e também foi na base do lampião que estudou e completou o supletivo. 

A casa da família ficava na frente da estrada geral da Barra da Jararaca e aos fundos ficava o Rio Itajaí do Sul.  No início do casamento, eles construíram uma casa modesta, mas as coisas iam bem na alfaiataria e logo puderam construir uma casa nova, para abrigarem os filhos que vinham chegando. Era uma casa de madeira bem grande, muito bem cuidada. Muitas flores na frente. Quintal com todo tipo de hortaliça, dois pomares com uma variedade enorme de frutas, vacas de leite, porcos e galinhas.  Não existia energia elétrica, mas Ivo construiu um fogão a lenha grande com serpentina, para ter água quente para um chuveirinho, dentro de uma banheira de zinco com madeira. Ele construiu isso para tomar banho de chuveiro pelo menos uma vez na semana, o que era um luxo! Os outros banhos eram tomados na bacia.

 Ivo era muito caprichoso, até os cochos das vacas eram pintados, com tampa e ganchinho para prender. Os filhos limpavam galinheiro e lavavam chiqueiro toda semana. 

Ele sempre ia à missa, quando morava na “Barra”, na igreja do Rio Engano, quando ia com a família ia de carretinha, carreta de um só cavalo, quando ia o casal ou quando iam ele e um filho, ou dois, iam de aranha.

E assim também iam de quando em quando ao Barracão, para comprar alguma coisa que não se encontrava nas “vendas da Barra”, como carne fresca, uma raridade, já que não havia geladeira. Em 1968, ele comprou uma Aero Willys azul usada, mas linda. E Lunalva, muito querida pelo pai e labiosa, convenceu a ensiná-la a dirigir. Tudo ia bem até o dia que foi fazer a volta em frente à igreja do Rio Engano e, na hora de frear, acelerou e entrou um pouquinho no casarão do Sr. Fredolino Thiesen, mas tudo ficou bem.

A família ficou na Barra da Jararaca até a casa ser desapropriada para a construção da Barragem de Cerro Negro. Depois da indenização, com a filha mais velha casada e o local onde funcionava a exatoria também indenizado, foi transferido para Vidal Ramos. 

A princípio, ele foi sozinho, até se estabelecer para depois levar a esposa e os filhos. Apenas sua filha mais velha, Lourena permaneceu em Alfredo Wagner, ela já morava no centro da cidade e posteriormente os irmãos voltaram para a cidade natal para estudar no Silva Jardim. 

Ele como exator fazia o pagamento dos professores estaduais das escolas Isoladas, da Barra do Rio Jararaca, Alto Jararaca, Barro Branco, Rio Engano e outras. Trazia o dinheiro todo mês numa pasta e de ônibus. E, mesmo quando foi transferido para Vidal Ramos, ia a Brusque todo mês de ônibus buscar o dinheiro e lá pagava os professores de todo o município. Quem fazia o pagamento para os professores da outra parte do Barracão era seu grande amigo Olibio Zilli.

Para os filhos, ele sempre será “Um homem de caráter incontestável! Um exemplo de cidadão, de esposo, pai e avô.  Foi a coluna mestra da família, sem dúvida! Foi motivo de orgulho e espelho à sua postura, para filhos e netos! Só não seguiu seus ensinamentos quem não quis. Era religioso e caridoso”. Na semana que antecedia o final do ano, ele sempre levava uma caixa de uvas — colheita própria — para cada filho, para chuparem na virada e terem sorte no ano que vinha chegando.

Homem religioso, ele pedia para os filhos não deixarem de ir à igreja. “Todos os dias pela manhã, não importava o dia, ele fazia a barba, era sagrado. E depois ia para a cozinha semi cozinhar um ovo, — não era totalmente cozido —, daí ele abria um pouco a casca e comia. Depois se arrumava e muito bem, com tênis, agasalho ou bermuda no verão, então fazia uma hora de caminhada — isso, claro, depois que trabalhava na exatoria e depois de aposentado. Era um homem muito elegante, tanto no vestir como na educação. Ele adorava ir para o Queimado, ver o gado, as plantações e também era muito querido lá”. 

Seu Ivo tinha muitas qualidades, mas os filhos também se enchem de orgulho quando falam em sua saudosa mãe: “Ela era uma diva, uma lady, sei lá! Uma esposa e mãe super presente, em todos os sentidos. Uma avó muito dedicada! Muito trabalhadora, organizada, se esmerava na arrumação de tudo. Igual a ela? Ninguém! Procurava estar sempre bem arrumada, com tudo combinando”. Após 1970, ela começou a desenvolver enfisema pulmonar — segundo os médicos, provocado pelo pó dos tecidos, pois é uma doença própria de fumantes e nem ela e nem o esposo jamais fumaram — e como a doença não tinha cura, ela foi tratando, perdendo peso, lutando, dificilmente se abatia e Ivo sempre estava ao seu lado. Mas em 14 de fevereiro de 1991, veio a falecer. Ficaram 42 anos casados.

Após ficar viúvo, ele contraiu segundas núpcias com Ivone Xavier e ficaram casados por dezenove anos. Ela foi boa esposa, tratou muito bem os filhos e netos. 

Seu Ivo faleceu no dia 08 de novembro de 2011 e as pessoas comentam que poucas vezes na vida viram um velório com tanta gente. Pessoas de Alfredo Wagner, Vidal Ramos e de muitos outros lugares do Estado. Ele foi presidente de partido, seu filho Nabor José Schmitz foi vice-prefeito e duas vezes prefeito de Vidal Ramos e seu outro filho Naudir Antonio Schmitz foi três vezes vereador e duas vezes prefeito de Alfredo Wagner. Ele e toda sua família eram muito conhecidos na região e no velório muitas pessoas diziam: “Ah, ele me ajudava todo mês com um dinheirinho, e agora?”, “Ah, ele mandava o mercado entregar alimento todo mês, o que vai ser de nós?”, demonstrando o quanto Ivo era bom, generoso e gostava de ajudar os outros. 

Lourdes fazia questão da noite de Natal ser na casa dela, sempre, com todos da família, e presenteava filhos, genros, noras e netos. Depois que ela faleceu no primeiro ano, a tradição foi quebrada, mas depois seu Ivo, já casado, continuou com a tradição e não faltava um neto. Era indispensável a presença de todos e também no dia dos pais ele fazia questão de receber toda a família. Nas outras datas, os filhos eram livres para viajarem, ficar em suas casas, recebê-lo ou mesmo visitá-lo. Quando ele veio a faltar, Ivone continuou com os natais em família, mas os filhos acharam que era muito trabalhoso para ela continuar fazendo sozinha e então passou a ser cada ano na casa de um dos filhos, com a participação de Ivone até a sua morte em 01 de agosto de 2015.

 O sítio do Queimado ficou para os herdeiros e hoje é somente do mais novo, Ivo Schmitz Filho, o que deve dar grande felicidade a ele, Ivo, pois Ivinho também é apaixonado pelo lugar. 

 Em 2012, ele foi homenageado ao darem seu nome ao ginásio de esportes da Escola Municipal Padre Heriberto Hartmann: Ginásio Municipal de Esportes Ivo Schmitz. Também tem o seu nome o edifício de número, 88 em frente à praça do centro de Vital Ramos.

Ivo deixou um legado aos seus sete filhos, 15 netos e 10 bisnetos de honestidade, retidão, bondade e gentileza. 


Informações repassadas por:

Lourena Schmitz

Suzanne Werlich Schmitz Onofre

Biografia presente no livro "Histórias da Nossa gente"
das autoras: Carol Pereira e Manuella Mariani 


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