Toca dos Bugres - Uma possível Paleotoca na divisa entre Alfredo Wagner e Bom Retiro?

Domingo foi dia de explorar a “Toca dos Bugres”, um lugar conhecido por muita gente aqui de Alfredo Wagner. O local é uma caverna subterrânea que no passado servia de abrigo para os índios - a presença dos índios pode ser evidenciada por artefatos já encontrados em seu interior, como pontas de flechas e outros objetos que os índios utilizavam em seu dia-a-dia.
A “Toca dos Bugres” se chama oficialmente Galeria Subterrânea Leopoldo Seemann, mas de acordo com especulações mais recentes ela pode se tratar de uma Paleotoca.


O que são Paleotocas?

São túneis que podem ter sido feitos por tatus e preguiças gigantes que viveram na América do Sul no período entre 10 milhões e 10 mil anos atrás. Nas paredes, e principalmente no teto destes túneis, podem ser vistos arranhões deixados pelas garras desses grandes animais. Formações assim são comuns no Sul do Brasil, e geralmente aparecem durante escavações. Recentemente foram encontradas Paleotocas na cidade de São Joaquim, comprovadas por pesquisadores de universidades de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As paleotocas são muito importantes do ponto de vista científico porque representam os hábitos fossoriais, que são hábitos cavadores desses organismos.
Ainda é preciso estudar, mas achamos que a galeria situada na divisa entre os municípios de Alfredo Wagner e Bom Retiro, pode se tratar de uma Paleotoca. As galerias subterrâneas são estudadas já há algum tempo.


Misteriosas galerias subterrâneas em Santa Catarina. Foi com este título que, em 1933, o arqueólogo Padre Berg Trenkbol publicou um artigo no boletim do Museu Nacional do Rio de Janeiro, comentando sobre recentes achados de túneis, galerias, cavernas e abrigos do Estado.
Acredita-se que eles teriam servido de abrigo aos índios que antigamente habitavam a região. Passaram-se mais de 90 anos e o mistério continua.
Ao longo dos anos, várias galerias e casas subterrâneas foram encontradas no Estado, especialmente na região próxima à Serra.
O pesquisador Altair Wagner, é um incansável estudioso de galerias, casas e abrigos sobre rochas, tendo visitado vários deles e até mesmo escrito um livro onde detalha suas descobertas. Analisando alguns materiais deles contata-se que:

Na década passada ainda existiam algumas perguntas sem respostas...

Quem escavou estas galerias e quais os objetivos? Estas perguntas, mesmo depois de tanto tempo, infelizmente ainda não podem ser respondias. Por isso, Altair decidiu tornar públicas estas descobertas, na esperança de que estudiosos (antropólogos, historiadores e arqueólogos) ligados às universidades catarinenses se interessem pelo tema e decidam estudar a fundo estes achados.
“- Parece mentira, mas até hoje não se sabe muito sobre estas galerias, quem as fez e qual era a serventia. Faltam estudos mais aprofundados e espero que especialistas me auxiliem no trabalho. ”
Senhor Altair conta isso em uma entrevista ao Diário Catarinense no ano de 2004, quando o conceito de Paleotocas ainda era pouco difundido aqui no estado. Na época ele também contou detalhes sobre esse local e como provavelmente era utilizado pelos índios.
“A galeria subterrânea Leopoldo Seemann – batizada assim para homenagear o antigo dono do terreno - escavada em rocha arenito, possui cinco túneis.”
O tamanho e a disposição deles chamam a atenção (veja na imagem). O comprimento dos túneis varia de pouco mais de um metro, até 36 metros.


É possível andar de pé em seu interior. Em alguns pontos, a caverna chega a ter 4,5 metros de altura. É uma estrutura mais alta do que muitas casas de cidade. Nas extremidades de cada túnel quase sempre existe uma saída, que é camuflada.

Na opinião de Altair, os índios faziam estas saídas para ter um local por onde fugir caso houvesse um desmoronamento de terra ou pedras na entrada principal, ou se ela fosse fechada pelas tribos inimigas em um eventual combate.
Nesta galeria há ainda duas espécies de saletas e, em uma delas, a 4,5 metros de altura, uma iluminação zenital – abertura feita no teto, para a entrada da luz natural na caverna.
Provavelmente, era nesta sala iluminada que a família se reunia e fazia suas refeições.
Outro local que chama a atenção é um rebaixamento no piso de um dos túneis o que forma uma pequena piscina, com a lâmina d’agua que na parte mais profunda tem um metro de profundidade.

Esse rebaixamento permitia que os índios sempre tivessem água para consumo da família.
Existem poucas informações sobre esta galeria e o modo de vida das pessoas que a habitavam, porque o interior da caverna ainda não foi estudado por especialistas. 



Quem sabe agora que outras Paleotocas estejam sendo descobertas pela redondeza e a “Galeria Leopolso Seemann” também possa ser melhor estudada.

A galeria foi descoberta décadas atrás, por caçadores. Há muitos anos que tenho vontade de conhecer o local, cada vez que visitava o Museu lia uma reportagem em um quadro, falando da tal toca e quando surgiu a oportunidade dei a opção ao “Grupo Anunnaki Trilhando” que assim como eu se empolgou com a ideia. Seu Edilio, nosso famoso guia da Pedra Branca falaria com seu filho Evandro que pegaria autorização com o dono do terreno e os dois nos levariam lá.
Suzanne e Evandro, meus outros companheiros de expedições também acompanhariam o grupo, e foi em uma manhã muito gelada de domingo que nossa aventura começou.
Fomos a Pedra Branca, encontramos o grupo que estava hospedado na Hospedaria de seu Edilio e dona Ivone e seguimos até o local onde deixaríamos o carro.
Foram 7km de subida, até chegar ao local da toca. Logo de cara a adrenalina tomou conta de mim, me deu um certo receio de me meter naquele buraco, mas como diria Eva Schneider, “aquilo dentro de mim que pede por aventura fez com que eu me movesse” e entrei no buraco.



A abertura da caverna é uma toca de 60 centímetros de diâmetro. A única forma de entrar na galeria é rastejando, literalmente. Segundo os historiadores quanto menor a entrada da caverna, maior a proteção dos índios contra animais ferozes e principalmente, contra as tribos rivais que poderiam fazer investidas. Os buracos de entrada ficavam escondidos na rocha. Sendo assim esse era um abrigo muito seguro.
Lá dentro não tem como não ficar boquiaberto com a grandeza do lugar. Como já relatei acima no texto, o local é formado por grandes túneis e em muitas partes deles é possível ficar de pé, nos tetos de quase todos os túneis pode-se perceber as marcas que acreditamos que teriam sido deixadas pelos tatus e preguiças gigantes. 
Lá dentro até pregamos uma peça em Luiz, ficamos escondidos no escuro enquanto ele vinha por um dos túneis, de quatro, do nada, aparecemos fazendo com que ele voltasse de ré.
Enquanto alguns já haviam saído da “toca” eu, Suzanne e os Evandros aproveitamos para explorar mais um pouco. Evandro (o da Su e não o filho de seu Edilio) subiu em um túnel mais acima e eu Suzanne passamos por dentro do reservatório de água e seguimos um túnel longo, passando por fendas entre as rochas que bloqueavam o caminho devido a desmoronamentos, e só paramos quando não era mais possível avançar.
Certamente foi um passeio incrível e realmente digno de roteiros de aventura. Foram 14km percorridos no total – para alguns um pouco mais, já que pegaram um caminho errado - e chegamos a uma altitude de 1690 metros. O cansaço não era nada, diante da satisfação de conhecer um lugar como aquele e depois ainda saborear a comida deliciosa de Dona Ivone, que nos aguardava em casa com tudo pronto. 
Vale a pena conferir o vídeo dessa, que pode ser mais uma paleotoca em território catarinense.
E eu lanço o mesmo pedido que seu Altair lançou há algum tempo atrás, precisamos de pesquisadores que aceitem o desafio de vir até aqui conhecer e estudar todo esse tesouro arqueológico.

 Contato: karol.aw@gmail.com


Vale a pena conferir o vídeo desta, que pode ser mais uma paleotoca em território catarinense:





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