Nesse último domingo tive como destino o Morro do
Costão do Frade que fica a 1422 metros de altitude, uma imponente “montanha”
que fica no limiar da serra e do alto vale catarinense. A subida pode ser
realizada pelo Pinguirito – Alfredo Wagner – e também por Bom Retiro, distante
24 km de Alfredo e foi essa a rota escolhida no Trekking organizado por Dario
Lins. Esse é o mesmo morro que em agosto
do ano passado, não pude ir com meu grupo por causa de uma pós e lamentava até
então.
Nossa
aventura começou logo cedinho, Lucas, Juliano, Alexsandra e Emelson vieram de
Floripa, me apanharam em Alfredo e juntos seguimos até o portal turístico da
cidade de Bom Retiro onde encontramos os outros 60 participantes e de ônibus
fomos até a Fazenda da Serrinha, onde tomamos um delicioso café colonial – e
onde reencontrei depois de muitos anos minha grande amiga dos tempos da
UNIPLAC, Caro, aproveitamos para colocar o papo em dia e de lá seguimos até a
Calçada de Pedra.
Fato interessante: existe um projeto da UFSC que estuda
a possibilidade da comunidade de Soldadinho – situada na cidade de Alfredo
Wagner – ter tido origem como um Quilombo, onde os escravos cansados de
trabalhar na construção da calçada e em partes da construção da estrada,
acabaram fugindo e se estabelecendo no local hoje conhecido como Soldadinho.
Existem
várias lendas acerca da Calçada, do Morro do Costão do Frade e também da Rocha
em forma de Frade que dá o nome ao morro e até mesmo a uma comunidade da cidade
de Bom Retiro. Quem mora pela região certamente já ouviu alguma história sobre
os guardados, que seriam “tesouros” escondidos por padres jesuítas e tropeiros,
que no intuito de salvar seus pertences valiosos de roubos realizados
principalmente pelos índios que habitavam a região, os enterravam e alguns
deles eventualmente permaneciam por ali “esquecidos”. Muito se conta sobre
pessoas que já encontraram alguns desses guardados, porém não se sabe se se
tratam apenas de lendas ou se de fato existiram, mas a verdade é que muitas
pessoas ainda nos dias de hoje cavam no local tentando encontrá-los. Até mesmo
no alto do morro encontramos vestígios recentes dos buracos cavados em busca
desses guardados.
Curiosidade: O morro recebe esse nome por possuir
uma pedra que lembra a silhueta de um frade jesuíta, sua formação é de arenito
botucatu - uma testemunha da montanha que nos remete a um passado longínquo de
mais de 200 milhões de anos quando o que existia era o deserto do continente
Gondwana.
Passada a
calçada chegamos ao sopé do Morro do Costão do Frade, o topo estava encoberto,
mas mesmo assim se mostrava majestoso. Alguns escorregões e muitas risadas
marcaram essa etapa, acabei até descobrindo que de fato existem pessoas que
leem o meu blog e as visualizações não estão “bugadas” – fiquei super feliz.
Mais ou
menos na metade do caminho tive uma queda de pressão, me senti mal, tonta e
fraca, tive que parar para descansar duas vezes. Pedi para que meus amigos
seguissem, pois além do que eu sentia fisicamente, também me sentia culpada em
atrasá-los. Eles seguiram e eu fiquei, foi então que pensei que fosse desmaiar,
mas acho que os amendoins fizeram efeito e depois de uns 20 minutos eu estava
novinha em folha, e embora fosse a última dos que iriam subir, eu como uma
fênix – ahuhuauhauha - segui o meu rumo em busca do cume.
Na subida
encontrei Lazinho, um moço que ia saltar de parapente. Demais, fiquei com
inveja dele, mas certamente, dessa vez minha vó não me perdoaria!
Mais ou
menos no ponto em que encontrei com o moço do parapente comecei a ouvir os
gritos do pessoal que estava mais à frente. Existem duas trilhas que dão acesso
ao topo, uma, que é uma subida mais perigosa por entre pedregulhos e onde o
mato não havia sido aparado, e a outra onde a subida não deixa de ser forte,
porém é mais branda e onde existem algumas cordas para auxiliar. Os gritos
vinham da subida mais branda, quatro pessoas foram picadas por marimbondos e as
outras que vinham atrás delas estavam se dirigindo até a pior das subidas, a
fim de que não fossem as próximas vítimas dos tais marimbondos. Essa subida
assustava um pouco, por ser bastante íngreme, estreita e ter peral nos dois
lados, mas como eu tinha chegado até ali, não poderia desistir.
Foi sem
dúvidas a pior parte para mim, não pela altura, pois não me assusta, mas sim
pelo mato, que me cortou inteira, além de ter me dado uma coceira imensa. O
menino que estava na minha frente, assim como todos nessa parte, estava com algumas
dificuldades, pois o terreno era muito liso e fora os espinhos e os “matos
cortantes” não tínhamos onde nos segurar, o jeito foi em um determinado momento
colocar meu pé para ajudá-lo a se apoiar, no final, deu tudo certo e eu só caí de
“cara” no chão duas vezes.
Quando
cheguei ao topo o céu estava bem encoberto, mas passaram-se alguns minutos e as
nuvens começaram a se dissipar. Só encontrei o pessoal que tinha ido comigo lá
em cima, e enquanto alguns desciam eu fui até a pedra, em uma das partes mais
bonitas da trilha.
Nessa parte
a trilha acontece em meio às árvores e já se nota a mudança de temperatura,
logo nos primeiros metros ela se torna mais amena, um clima muito agradável. O
lugar é lindo e de uma paz imensa. Algumas pessoas – não do nosso grupo –
resolveram deixar seu nome gravado na pedra e essas inscrições vêm sendo
deixadas lá há décadas. Conta-se que antes dessas inscrições nada rupestres, a
pedra havia sido marcada em Latim, pelos Jesuítas que por ali passavam. A pedra
é espetacular e lá de cima é possível se ter uma vista maravilhosa. Do alto do
Morro do Frade é possível se ter uma vista exuberante de parte da serra, bem
como do Alto Vale do Itajaí.
Como eu
havia ficado para trás, tinha ficado sem água e sem comida, minha sorte foi
encontrar Flávia, que me salvou me dando uma barrinha de
cereal, água e também me emprestando um moletom, para a descida, pois
resolvemos ir pela parte dos marimbondos. Seu Popola – proprietário da fazenda
Serrinha – desceu conosco e foi testemunha de todos os nossos tombos. A descida
com a ajuda das cordas certamente se tornou bem mais fácil e a julgar pelo
tanto que caímos na trilha mais “branda”, provavelmente não teríamos sobrevivido
na mais “hard” – pouco exagero. No final descemos sem encontrar com os
marimbondos.
Eu estava
bastante cansada na volta, resultado de quase dois meses sem atividades
físicas. Ao chegarmos até o ônibus, aguardamos o grupo estar completo e retornamos
ao centro de Bom Retiro. Antes de retornamos para casa, almoçamos na Santa
Clara.
Voltei
cansada, mas realizada por ter conhecido mais um lugar lindo e repleto de
história que fica aqui, pertinho de mim!
5 Comentários
Parabéns, adorei o relato.
ResponderExcluirBelo Registro Carol. É lindo mesmo lá né? Pena aquela vez não ter dado certo...
ResponderExcluirtambém fiz uma reportagem: https://www.youtube.com/watch?v=qHqc-madwuQ
Bora pra proxima, só para os fortes!!!
Bjs carol
Manu
Olá,
ResponderExcluirAdorei o seu Blog e adoro correr. O seu post é muito bom.
Beijos no coração.
Caminhada sensacional!! Além das trilhas e do visual que já vale toda a caminhada o local tem história e lendas muito ricas, que merece ser compartilhada!
ResponderExcluirParabéns pelo relato!!
Eu subi esse morro!!! Ele é muito íngreme e escorregadio, não sabíamos que tinha duas subidas, subimos pela pior... deslizamos várias vezes e quase fomos peral abaixo... na descida já era noite então dificultou. Mas fora isso é lindo, deslumbrante... pegamos o pôr do sol.
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