Limerick e meu coração partido

Ilustração: Janaína Andrade 

“As cidades estão desertas como nunca estiveram
Todos tem medo do que está pelo ar
Os planos que nós tínhamos foram por água abaixo
Nossa vidas estão adiadas
Mas eu sei que no fim tudo ficará bem”

Duas semanas atrás tudo isso que estamos vivendo hoje parecia com o enredo de um filme, um filme que eu não nem teria vontade de assistir.
Estávamos cheios de planos, terminando as observações com nossos supervisores, íamos conhecer mais algumas escolas, as aulas estavam cada vez mais interessantes...
Os planos para a páscoa começavam a tomar forma, tínhamos tanto da Irlanda e da Europa que ainda precisávamos conhecer. E eu estava animada para escolher o que comeria para comemorar meu aniversário, pois foi me dado o direito de escolher o cardápio.
Em quinze dias todos os planos mudaram, tudo ficou diferente por aqui. Agora nosso maior companheiro é o silêncio do Courtbrack, o silêncio que grita o medo de nossos corações, corações que agora estão partidos.
Partidos como esse ano que foi interrompido;
Partidos pelo medo de pegar o vírus ou ver quem amamos doente;
Pelo eco dos corredores vazios;
Pela perspectiva de passar o meu aniversário sozinha;
Pela falta de abraços, beijos, risadas e leveza;
Partido pela falta de tudo que era familiar.
Da pra sentir falta até do tumulto da cozinha na hora da janta, de passar pela sala desviando dos nossos Irishs e do barulho deles chegando a noite, mas a falta que mais sinto, são dos meus colegas que voltaram para o Brasil e deixaram o bloco F vazio.
O vazio do F17 me deixou órfã, sem minha “mamis”, orientadora, maga dos signos, companheira de Guinness, a pessoa que mais me passava segurança e para quem eu enviava memes e vídeos e sabia se eram engraçados ou não quando ouvia a risada dela, sim as paredes aqui são finas.
O F20 me faz falta toda hora, perdi minha companheira de todos os jantares, de todas aulas, de muitas conversas, postergação, de receber conselhos e dos melhores almoços de domingo.
Não ouço mais os funks do F14, nem posso abrir a porta para a sua moradora entrar no F18, sentar no chão e ouvir as histórias que eu tenho para contar, ou contar as histórias dela, certamente a melhor companhia para qualquer pub da cidade.
Saudades de babar pelas comidas do F3 e do F19, de ouvir as longas e divertidas histórias do F2; deixar o F1 apavorado falando sobre as novelas que eu cresci assistindo; do som do violão tocado pelo F4 e que agora está mudo em meu quarto. Saudade de todos os Fs que se foram. Vocês fazem muita falta!
O Corona não levou apenas meus amigos e mudou meus planos, ele também interrompeu uma outra história linda, que estava começando e que desejo que tenha força para resistir a esse vírus.
Em mim, o principal sintoma do Corona é meu coração partido. Partido pela falta, pela saudade, pelo desespero e aflição de não saber como será o amanhã de quem eu amo.
Eu espero que quando isso tudo passar, a gente finalmente possa voltar a sorrir!

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