Diário de Bordo UY - Carnaval

Em Montevideo é celebrado o carnaval mais longo do mundo: são 40 dias de desfiles, concursos e candombe que fazem do Carnaval a celebração mais importante do país.
Tivemos a sorte de estar lá exatamente na época em que o Carnaval iniciou, a bem da verdade demorou um bocado para finalmente acontecer o tal Desfile Inaugural, pois a princípio estava marcado para quarta-feira, mas como choveu muito, acabou sendo adiado para sábado.
Então, no sábado dia 23, finalmente aconteceu a abertura e preciso tentar colocar “no papel” o que é o carnaval no Uruguay.
O carnaval de Montevideo ao mesmo tempo que é muito diferente do nosso também se parece muito.
Quando pensamos em carnaval geralmente imaginamos todo mundo dançando, interagindo e lá não é bem assim que acontece, pelo menos não no desfile inaugural. Nos dois dias que fomos assistir aos desfiles que aconteceram na 18 de Julio eles se pareciam com os desfiles da Sapucaí, porém, com uma participação mínima do público e nem 1\3 do glamour.
No sábado aconteceu o típico carnaval Uruguaio com desfiles de alguns blocos – que aparentavam ser blocos institucionais. Se eu for estabelecer uma relação entre o que vi e o que conheço do Brasil eu diria que se parece mais com desfiles de 7 de setembro do que com desfiles de carnaval, sem dúvidas o ponto alto foi quando passavam as cuerdas de Candombe, foi quando finalmente o público cogitou deixar a apatia de lado e participar mais integralmente do evento – porém, apenas cogitou.
Meus comentários sobre o carnaval não são críticas até porque fiquei encantada pela reação do povo – que apesar de apático – lotou as ruas e sobretudo a reação dos idosos, que saíram de casa em um dia de frio para assistir aos desfiles que já tem uma tradição de quase 150 anos na cidade. Eu li que a tradição do “desfile inaugural” remete ao ano de 1873 e que durante todos os anos que correram desde então, a tradição acabou perdendo a força, mas que vem retomando a grandeza nos últimos anos e cada vez mais atraindo gente para assistir ao desfile que dá início ao maior carnaval do mundo - em período de duração. 
Outro fato que chama a atenção de todos é que tanto as passistas quanto as outras mulheres que desfilaram não tem que ter necessariamente um corpo sarado e siliconado e sim ter "buena onda" e saber divertir o público, assim se via muitas mulheres que para muitos seriam acima do peso em lugares de destaque, o que eu achei muito bacana. 
No domingo a coisa foi diferente, aconteceu um desfiles nos moldes brasileiros, com direito até mesmo a escola de samba brazuca. Várias escolas cruzaram a avenida e algumas delas estavam maravilhosas, sempre com muitos idosos participando e dando espaço para a participação de pessoas com deficiência. Também se notava um numero absurdo de travestis, que deixavam muitas mulheres "no chinelo" quando o assunto era "samba". 
Além desses dois dias de desfiles ainda existem as Murgas e as Llamadas – que dizem ser a parte mais divertida e animada de todo o carnaval.
As Llamadas derivam do chamado que faziam os negros quando começavam a se reunir, seja para atividades festivas quanto para discorrer alguns assuntos sociais. Era costume que um par de tambores de cada agrupamento saír e percorrer as ruas tocando candombe. As Llamadas carnavalescas começam no ano 1956 e a partir desse momento viraram um clássico da cidade de Montevideo. Trata-se de um desfile no qual participam homens, mulheres e crianças de todas as idades e que, com o ritmo do candombe e dos tambores, percorrem milhares de metros em companhia do público vivaz, que dança no ritmo dos ancestrais africanos.
A murga é mais teatralizada, é interpretada por um coro acompanhado de instrumentos musicais e é comum que as canções tenham como tema questionamentos políticos e sociais.
As apresentações acontecem em teatros ou arenas armadas em vários pontos da cidade. Todo fim de semana de verão tem espetáculos no Teatro Verano próximo ao Parque Rodo. E todo ano elege-se um grupo campeão de murga e candombe.
As Llamadas ocorreram nos dias 6 e 7 de fevereiro, não pude prestigiar, mas certamente teria sido um prazer e nos proporcionaria muita diversão. 




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