Dia 26 de junho foi o dia de subir o Cambirela. Eu achava que seria
fácil e que todas as histórias de dificuldade, de pessoas que se perderam, de
recomendações do guia eram exagero, porém, eu estava muito enganada. O
Cambirela foi simplesmente uma das trilhas mais punks da minha vida. Foram mais
de 8 horas de atividade, para percorrer 7,6 km e chegar a uma elevação de 1043
metros – vale lembrar que partimos de uma elevação quase zero, pois estávamos praticamente
ao nível do mar.
De acordo com o que é indicado, subimos com guia, dois na verdade,
Mike e Alex, que foram essenciais para que realizássemos o caminho em absoluta
segurança.
Existem 3 trilhas que dão acesso ao Cambirela – pode por ser visto na
imagem abaixo - e nós subimos pela trilha 1 conhecida como trilha do Furadinho, que de acordo com nosso guia Mike, apesar de ser a mais longa era a mais
segura, já que ela exigia menos técnicas de escalada.
Em vermelho as vias de acesso até o topo do Cambirela, Trilha 1 é também conhecida como trilha do Furadinho |
Ao fundo Monte Cambirela |
Em uma rápida pesquisa ainda na etapa de preparação, todos os sites
diziam que é necessário ter um bom preparo físico para se aventurar na subida,
logo, estamos de parabéns, pois todos do Grupo “Só para os Fortes” chegaram ao
topo – é claro que no dia seguinte existiam relatos de dores, hematomas,
atropelamentos por caminhões, mas completamos a missão.
Nosso encontro estava marcado para as 7:30 da manhã em Palhoça, então
saímos de Alfredo as 6:00 horas. Lá encontramos o resto da turma que vinha de
Floripa, Rio do Sul e da própria Palhoça. Enquanto os motoristas levavam os
carros para um estacionamento o outro grupo seguia, margeamos a BR até o local
onde nos encontraríamos novamente.
Depois de algumas dicas e do alongamento, iniciamos nossa aventura de
conquista do Cambirela. O nome Cambirela é de origem do povo tupi guarani que
significa “grande seio”, devido a sua altura e beleza, o morro ficou
nacionalmente conhecido no ano de 2013 quando em julho daquele ano, 106 cidades
catarinenses tiveram a ocorrência da neve, entre elas Palhoça. O Morro do Cambirela
com seu topo coberto de neve ficou conhecido como os Alpes Catarinenses e fez
com que muitas fotos tiradas a partir da ilha de Florianópolis parecessem
montagem, pois não é comum ver paisagens típicas da ilha com neve ao fundo.
Foto de 2013 com o topo do Monte Cambirela coberto pela neve que caiu em muitas cidades do estado de Santa Catarina |
A subida inicia leve, mas à medida que avançamos a dificuldade vai
avançando também. São subidas intermináveis, repletas de pedras, raízes, troncos
caídos, cipós e outros obstáculos que exigem muito de pernas, braços e equilíbrio.
Na subida de um barranco cheio de pedras e raízes eu escorreguei e cai
feio, bati de bunda no chão e fui escorregando – e me relando – pedra abaixo,
só parei quando Valquiria e Márcio me seguraram evitando que eu caísse da pedra
e me machucasse ainda mais. Doeu, me assustei, mas sem maiores problemas segui
viagem – na queda quebrei também a tela do meu celular, pasmem, pela terceira
vez.
A subida continuou, com mais algumas paradas, mais alguns obstáculos e
a medida que subíamos a paisagem começava a se revelar. Aos poucos começamos a
ver o mar, depois a ilha, as pontes e ao chegarmos ao topo encontramos um céu
com poucas nuvens e uma paisagem espetacular.
Lá em cima almoçamos, tiramos inúmeras fotos e apreciamos a paisagem.
Deve ser muito bacana acampar lá em cima, curtir um pôr do sol, ver as luzes da
cidade lá embaixo aos poucos se acenderem e no outro dia o sol nascer, mas
ainda não foi dessa vez. Tínhamos que retornar e a descida exigia ainda mais de
nosso preparo físico.
Topo do Cambirela dominado pelo povo de Alfredo Wagner |
Somei mais alguns tombos na descida e coloquei a culpa no solado da
minha bota, que apesar de ser própria para trilhas não tinha aderência nenhuma
naquele tipo de terreno repleto de pedras e raízes.
O ponto de maior adrenalina da volta foi quando descemos pendurados
por uma corda, foi um rapel radical no alto do Cambirela, tudo assistido por
nossos guias que tinham como maior preocupação nossa segurança.
No caminho de ida tínhamos encontrado logo no início duas mulheres,
que haviam sido deixadas para trás pelos pastores com quem estavam. Na volta
ainda a encontramos subindo, as duas pobres ovelhas desgarradas estavam pouco
acima da metade do trajeto de ida e provavelmente escureceria e elas ainda
estariam na trilha, ficamos preocupadas, mas elas não demonstraram querer nos
acompanhar. Andamos mais um pouco e fomos alcançadas por dois pastores, que desconfiamos
ser os que as estavam acompanhando, eles desciam rapidamente e passaram pela
gente – não sem antes fazer algumas previsões sobre nosso futuro – sem se
preocupar com as duas fiéis que ficaram abandonadas pelo caminho. Não tivemos
mais notícias delas, nem relatos de buscas do Arcanjo pela região do Cambirela
na segunda-feira, portanto achamos que elas acabaram ficando bem.
Durante a volta estávamos exaustos, porém não perdíamos a
irreverência, apesar das dores ainda ríamos, cantávamos e nos divertíamos.
Ao chegar no carro, Moka nos aguardava com algumas cervejas para a
hidratação e ficamos mais alguns momentos aos pés do gigante que vencemos
naquele dia. Participantes da aventura: Valneide, Vera, Valquiria, Marcio, Valdete, Valdir, Bete, Marlete, Manu, Rafa, Elisa, Paulo, Thay, Lezinho, eu, os dois guias e mais um menino que acompanhava os guias.
Já estamos ansiosos pelo próximo desafio do grupo “Só para os Fortes”.
Extras: Cobertura completa da trilha para o TJ Notícias da UFSC com a repórter Manuella Mariani
e entrevista com Valneide Cunha Campos, grande criadora de todas as trilhas.
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