Eu morri um pouco junto com Marina e Maria José.

A notícia do assassinato das duas mochileiras argentinas, no Equador, me atingiu como um tiro. Eu também sou um pouco elas: jovem, cheia de sonhos, com espírito aventureiro, com uma vida inteira pela frente e viajei sozinha pela América do Sul. 
Elas saíram de Mendonza, tiraram fotos nos mesmos lugares que eu no Peru, também passaram por Macchu Picchu, registraram o pôr do sol, se apaixonaram pelas lhamas e alpacas, mas não puderam retornar para suas casas, não puderam contar suas experiências e nem planejar suas próximas viagem.
É comum a gente se sentir abalado quando alguém, que poderia ser a gente, acaba partindo de forma tão cruel, mas além da tristeza eu sinto indignação. Indignação por algumas pessoas darem como justificativa para o crime, o fato de elas estarem sozinhas e, supostamente, estarem permitindo ou procurando serem mortas a pauladas e a golpes de faca.
“Viajaban solas”, como se fosse preciso estar em companhia de um homem para estarmos completas e seguras. Infelizmente, o machismo ainda está muito presente na cultura da América do Sul, em especial na do povo andino - no Peru sempre me perguntavam se estava acompanhada pelo namorado ou marido... e, eu menti que estava com meu namorado e que ele me aguardava no hotel, quando fui assediada por um homem na rua. Fui obrigada a mentir que tinha um homem comigo para que eu ficasse segura, como se eu não me bastasse.
“Questionaram meus pais, por me darem asas, por deixarem que eu fosse independente, como qualquer ser humano. Ao ser mulher, (o crime) é minimizado. Torna-se menos grave, porque, claro, eu procurei. Fazendo o que queria, encontrei o que merecia por não ser submissa, por não querer ficar em casa, por investir meu próprio dinheiro em meus sonhos”
Até quando?
Até quando teremos que mentir para nos sentirmos seguras?
Até quando ficaremos constrangidas por termos que ouvir baixarias na rua, como suposta forma de elogio?
Até quando ainda veremos nossas mães, tias ou vizinhas apanhando de seus companheiros como se isso fosse natural?
Até quando algumas de nós irão continuar sendo piada entre colegas de Tecnologia da Informação, Engenharia e outras profissões ditas masculinas?
Até quando vão expor nossos corpos nus para vender cervejas?

Eu morri junto com elas, mas só um pouquinho... continuo viva, livre para seguir meus sonhos e lutar pelos meus direitos, afinal, sou mulher e posso tudo o que eu quiser! 


#viajosozinha #viajosola #travelalone



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