Minha chegada a Cusco foi tensa, eu não tinha feito cambio antes de
sair de Puno, cheguei na cidade muito tarde, quase meia noite, tinha 12,50
soles e não tinha reserva em nenhum hotel. Um taxista me abordou perguntando se
eu precisava de táxi, perguntei se tinha algum lugar para cambio pois eu não
tinha nem dinheiro para o hotel e ele disse que isso não era problema, qualquer
hotel me aceitaria, para que eu pagasse no outro dia e que ele me levaria pelo
dinheiro que eu tinha (12,50 soles). No primeiro hotel que paramos não tinha
vaga, nem no segundo, nem no terceiro. Nesse ponto eu já estava sentada no
banco da frente, para facilitar a descida e o negociação para ver se tinha
vaga, foi quando o taxista perguntou de onde eu era, quando eu disse que era do
Brasil ele se admirou, por eu ser loira, e perguntou em um tom de ironia: “Pero
Brasil tiene solo negro!” e eu respondi que o Brasil é imenso e tem de tudo,
foi então que ele passou a mão na minha perna e disse que eu poderia dormir no
carro dele se não encontrasse alguma vaga! Eu morri por um momento, se abriu um
buraco negro de vácuo em minha vida e eu não acreditava que aquilo tava
acontecendo comigo, por um momento não sabia o que fazer, foi quando respondi
rispidamente: “Pode parar o carro que vou descer e ficar aqui nessa rua”, ele
se assustou pelo tom e acho que ficou com vergonha pois disse que na esquina
tinha outro hotel e que certamente teria vaga, e tinha. Nem me despedi dele,
entrei No Puma Kiru – que ficava a 5 minutos a pé da Plaza de Armas – e fiz
dele meu refúgio, eu ficaria só aquela noite lá, mas resolvi estender minha
estadia, pois o local era seguro, limpo e agradável. Tive uma noite tranquila.
No dia seguinte eu tinha que resolver algumas questões, ir a um banco,
pegar meus tickets do PeruRail, comprar um pau de selfie novo – era bem
estranho tentar pedir um pau de selfie, pois eles não entendiam direito o que
eu queria - e para isso fiz uso de um mapa e as instruções do recepcionista do
meu hotel, eu achei que nunca conseguiria chegar aos locais que precisava, mas
as informações foram precisas e deu tudo certinho.
Quando finalmente cheguei a Plaza de Armas constatei que tudo o que
tinha ouvido e lido sobre o local era verdade, é mesmo encantador e mágico.
Tudo é muito bonito, tudo tem um aspecto meio enigmático, não consigo nem
explicar.
Na plaza muitas mulheres ofereciam um passeio em um ônibus panorâmico
a algumas ruínas que ficavam perto da cidade, resolvi então que comeria algo e
a tarde faria o passeio.
Fui ao hostel, deixei algumas coisas e na volta parei em um
restaurante para almoçar. Almocei em ótimo restaurante na Calle Santa Catalina
e finalmente provei o Choclo – o famoso milho do Peru. No restaurante tinha
música ao vivo, com uma banda típica do Peru – e eu tive que pagar 10 soles
pela música, além do almoço que não foi dos mais baratos... lamento até hoje.
No city tour conheci 3 amigos – Elizabeth do Peru e Tamara e Gaston da
Argentina, de Salta, uma cidade que conheci no início do mochilão. O trajeto do
passeio envolvia as ruínas da fortaleza de Sacsayhuamán, alguns túneis próximos
a Q'enqo – dizem que os túneis interligava toda a cidade de Cusco, já foram
descobertos túneis com mais de 2 km de comprimento e antigamente eles eram
abertos, mas houve um episódio onde 3 crianças peruanas que brincavam pelas
redondezas se perderam nos túneis, dois dias depois apenas uma delas retornou,
ela trazia uma espiga de milho de ouro que hoje se encontra exposta no museu
Inca, até hoje não se tem notícia das outras duas crianças, por conta disso os
túneis agora ficam fechados, apenas uma pequena parte pode ser explorada.
Depois dos túneis seguimos para uma feira de artesanato com preços
impraticáveis e foi na frente dessas lojinhas que tirei a minha foto com a
Lhama que quis comer meu cabelo. O último atrativo do passeio foi o Cristo
Blanco – que com uma certa dose de generosidade, lembra o cristo redentor –ok,
lembra por ficar no alto, ser um cristo e tal – a estatua foi presente da
comunidade palestina, uma forma de agradecimento por a cidade ter os acolhidos.
O passeio foi interessante, mas o mais legal foi os amigos que fiz.
Combinamos que mais tarde nos encontraríamos na plaza e sairíamos para jantar.
A noite fomos jantar na Recoleta, um bairro próximo a plaza e ao meu
hotel, é um lugar com uma rua bem estreita, apenas de uma mão e várias casas
coloniais, particularmente achei um charme, fiquei encantada com o lugar. Meus
amigos escolheram comer pizza – é, no primeiro encontro eu nunca digo que não
como pizza, as pessoas podem me achar estranha, quererem desfazer a amizade,
afinal, quem não como pizza? Então comi, afinal... eu não ia morrer – foi nessa
noite também que tomei a primeira cerveja da viagem, uma Cusquenã... nada
demais, mas valeu para experimentar. A pizza até que não estava das piores,
pois tinha a massa bem fininha. Conversamos e rimos muito, foi uma janta bem
divertida, tive que desenvolver muito meu espanhol para poder participar
ativamente das conversas.
Depois da pizza, Elizabth sugeriu que deveríamos ir até o Mama África,
pois ninguém vai a Cusco e deixa de conhecer o lugar. Para você entender, o
Mama África está para Cusco assim como o Pony esta para Montevideo! O lugar
toca basicamente música latina, muita, muita Salsa, com um pessoal que dança
mega bem. Foi lá que tive uma grande desilusão, eu já tinha ouvido dos meus
amigos chilenos que o axé tinha entrado no mercado musical da América do Sul,
mas constatei isso com meus próprios olhos – e diga-se de passagem, ouvidos -
quando todo mundo dançou e cantou a plenos pulmões a “Dança da Manivela”,
tristeza para os brasileiros! Mais uma vez todos esperavam muita dança vinda de
meus pés, porém mais uma vez decepcionei. Como sou daquelas turistas que tem
que fazer algumas coisas clichês eu não poderia ir ao Peru sem tomar Pisco
Sour, uma bebida à base de cachaça e com uma espécie de cobertura de clara de
ovo que é a mais tradicional do país. Tomei e não gostei, achei mega forte, mas
o que vale é participar da cultura local. Chegamos super cedo e fomos embora
cedo também, afinal, apesar do lugar ser animado tínhamos muitas coisas para
explorar no dia seguinte.
Elizabeth não estava mais conosco no outro dia, ela seguiu para outra
cidade, pois trabalha em uma mina de carvão – achei muito jogos vorazes.
Gaston, Tamara e eu tivemos um maravilhoso almoço em um dos balcões dos
restaurantes da Plaza de Armas, além da comida estar muito boa, contemplar
aquela vista da praça era um deleite, eu até ia comer a sobremesa somente para
ficar mais tempo com aquilo as vistas dos meus olhos, mas estávamos atrasados
para seguir até as Salineiras.
As Salineras de Maras são ainda mais especiais do que as fotos. Lá as famílias
locais produzem desde a época dos Incas, o sal de Maras. A área é dívida em
cerca de 4 mil “piscinas de sal” e cada família cuida de até 40 canteiros
diferentes.
As salinas vêm de uma fonte natural que foi canalizada pelos incas
para distribuir a água entre as piscinas, a água desce da montanha quentinha.
As diferentes cores representam o estágio do sal, que colhido em três etapas
diferentes, a primeira para consumo humano, a segunda para consumo animal e a
terceira para cosméticos.
Um dos desafios desse passeio é passear pelas salineiras sem cair
nelas, basta um escorregão para você ganhar um dos banhos menos agradáveis da
sua vida, para mim o desafio era ainda maior devido a minha deficiência visual
e a dificuldade que tenho em identificar a profundidade dos obstáculos do chão,
além disso eu tinha que segurar meu chapéu e minhas câmeras, foi tenso, mas
valeu a pena. Nas Salineiras comprei uma espécie de Choclo torrado, um
aperitivo vendido aos turistas, parecia milho de pipoca não estourado, mas era
bom.
Na volta nosso taxista nos fez a proposta de aumentar o valor cobrado
e nos levar até Moray, um outro sítio arqueológico das redondezas.
Moray é formado por terraços circulares, o lugar é espetacular, a princípio
não entendíamos bem a sua finalidade, era magnifico, mas meio sem explicação,
depois perguntamos ao nosso motorista e segundo ele, os arqueólogos, ainda
divergem em suas explicações acerca da finalidade. Para alguns, o lugar era um
anfiteatro, ou um centro de devoção – inclusive até hoje é centro de
peregrinação para devotos de cultos andinos antigos. Assim como na Grécia
antiga, parece que os incas também entendiam um pouco da acústica que esse tipo
de desenho proporcionava. Para outros, o lugar era agrícola mesmo. Talvez um que
não recomendamos a ninguém, pois a comida estava ruim e me fez mal no dia
seguinte. Comemos Ceviche de entrada, uma carne de porco e a sobremesa – única
que se salvava.
Fui para o hotel mas resolvi que precisava gastar mais dinheiro, tinha
que comprar algumas lembrancinhas para trazer para minha família e meus amigos,
então fui dar minha última volta na Plaza de Armas, sentir pela última vez
aquela atmosfera antes de realizar lugar para fazer testes entre diferentes
variedades de tubérculos e cereais, para otimizar a produtividade, para adaptar
as sementes a diferentes altitudes, enfim, fora a explicação formal o lugar é
incrível. Quando chegamos o local já estava fechado e não tinha ninguém
fiscalizando, então, acredito que meio sem querer podemos ter passado por algum
lugar que não era necessariamente permitido. Mas tudo, ok.
Durante toda a nossa tarde vimos montanhas nevadas em uma paisagem
estonteante, além também de ter que parar o carro para dar passagem de rebanho
de ovelhas, foi uma tarde maravilhosa em companhia de duas pessoas
queridíssimas.
Ao retornar para Cusco ainda jantamos juntos em um restaurante que não
recomendamos a ninguém, pois a comida estava ruim e me fez mal no dia seguinte.
Comemos Ceviche de entrada, uma carne de porco e a sobremesa – única que se
salvava.
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