Todos me avisaram para ter muito cuidado em Lima, cuidado com os
táxis, com os roubos, com as minhas malas, acabou que fiquei morrendo de medo
de andar pelas ruas da capital peruana.
No avião de Cusco para lá tudo correu bem, fiz amizade com uma senhora
de Lima que adorou saber todos os detalhes do meu mochilão, depois desci no
aeroporto e tentei encontrar Tamara que também chegaria em Lima mais ou menos
pela mesma hora que eu, infelizmente como eu estava sem celular não a
encontrei. Deixei de encontrar também com Mily, que conheci nas ilhas
Flutuantes de Uros e que tinha combinado de me mostrar Lima e Felipe que também
ficaria no aeroporto aguardando voo para o Brasil. Enfim, eu estava no
aeroporto, sozinha e com poucos Soles, afinal, não queria trocar mais dinheiro
e voltar para o Brasil sem reais. Como o meu voo era só as 12:50 do dia
seguinte resolvi que acharia um hotel, descansaria e aguardaria meu retorno no
sossego de um quarto com internet.
Conversei com um taxista, pechinchei o valor de táxi e ele me levou
por 10 soles até o Hotel Caribe, que fica próximo ao aeroporto.
No quarto aproveitei para assistir à novela que tinha acabado no
Brasil a duas semanas, mas como estava o dia todo só com o sanduíche do
avião resolvei descer para comer algo e logo voltar.
Ao descer vi que a vizinhança do hotel não era das melhores e que
todos, absolutamente todos os homens que andavam na rua eram tarados – não estou
me achando, acho que por eu ser loira, mesmo se eu não tivesse os dois dentes
da frente eles mexeriam comigo – eu não encontrava nada aberto, a não ser uma
birosca, onde um senhora atendia de portas fechadas, pela janela cheia de
grades, como não tinha nada pronto para comprar resolvi que compraria uma Inka
Cola – pois também não tinha água – e comeria o Cup Noodles que a Ju tinha me
dado em Cabo Polônio e ocupava espaço na minha mala desde então para uma
eventual necessidade – a necessidade tinha chegado!
Na volta um homem me deu "Hola" e eu em um ato involuntário respondi –
afinal estava acostumada a cumprimentar outros mochileiros, outros turistas, é
comum eu responder a uma saudação – e isso bastou pra ele ficar gritando
sabe-se lá o que por um tempo, eu apertei o passo, estava nervosa. Umas duas
quadras para a frente uma pessoa falando do meu lado dizendo que era
coincidência ele estar indo pro mesmo lado que eu, quando me dou conta é o
mesmo cara do Hola, meu coração para e volta a bater, eu tremia, fiquei
morrendo de medo e continuei andando, ele falou em espanhol eu não respondi,
perguntou se eu falava inglês e eu não respondi, até que ele perguntou onde eu
estava hospedada e eu percebi que estava perdida, nunca tinha visto aquela rua.
EU ESTAVA PERDIDA E ACOMPANHADA POR UM TARADO. Acho que cheguei a ficar tonta,
me deu vontade de chorar, foi então que pedi ajuda ao tarado e ele me mostrou o
caminho do meu hotel. Foi até bem gentil e depois de perguntar onde estava meu
namorado e eu mentir que estava me aguardando no hotel me deu um beijo no rosto
e seguiu seu caminho. Entrei no hotel em desespero e jurei que só sairia dali
para pegar meu avião.
Desci a recepção para perguntar onde eu poderia esquentar uma água e
eles me falaram que o hotel não tinha cozinha, resumo da noite: Comi o resto do
choclo que comprei nas salineiras, o resto do salgadinho que comprei em Cusco e
o Cup noodles cru que a Ju me deu.
Para dormir o medo era tanto que coloquei a cadeira e a mesa do quarto
contra a porta, para que se alguém tentasse entrar e roubar minhas coisas eu
estivesse acordada para defende-las – ok, até parece.
Eu estava com medo, mas muito feliz por estar voltando para casa.
“Viajar é sempre muito bom, é enriquecedor, faz bem ao espirito... mas
voltar para casa também é muito maravilhoso!
“Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder
voltar quando quero!”
Estou terminando meu mochilão, o primeiro da minha vida. Foram 4
países, 21 dias e muitas histórias para contar.
Me despeço desse mochilão com grande satisfação, foi demais, apesar de
alguns transtornos e erros de marinheiro de primeira viagem.
Como já disse, viajar é ótimo, mas voltar pra casa é melhor ainda.
Brasil, to voltando... Vó cozinha um feijão que eu to cheia de fome.”
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