Carol Pereira
Podemos dizer que seu
Quirino é o alfredense com uma das memórias mais privilegiadas de nosso
município. Com 70 anos de idade, foi espectador de muitas das mudanças que
ocorreram no desenvolvimento de nossa cidade. Um amante da história, ao longo
de sua vida foi um bom ouvinte e hoje relata em detalhes como a comunidade do
antigo Barracão viveu e participou da revolução de 30.
A revolução de 30 foi um movimento de revolta armado ocorrido no Brasil
em 1930, que tirou do poder, através de um Golpe de Estado, o presidente
Washington Luiz. Com o apoio de chefes militares, Getúlio Vargas chegou à
presidência da República.
Os soldados que porventura chegavam na Localidade de Barracão ocupavam
sempre o correio e a delegacia.
Os dois lados distintos – Forças do Governo e o lado dos Revoltosos – no
Barracão eram formados por: a favor do governo; Quirino Kretzer, Alberto
Schweitzer, Miguel D’avila e outros e a favor de Getúlio; Paulo Almeida, Evaldo
Iung, Genésio dos Santos e Jorge Franz entre outros.
Primeiro o Barracão recebeu a visita das forças do governo, que ficaram
estabelecidas na casa de Quirino Kretzer. Quem era contra o governo não se
manifestava com medo das represarias.
Poucos dias após a partida das
forças do governo chegaram os revoltosos, vindos do Rio Grande do Sul e da
região de Lages. Embora os revoltoso também contassem com a presença de
militares contra o governo, eles também tinham a fama de arruaceiros,
desordeiros e violentos, até mesmo matando quem fosse contra Getúlio Vargas no
poder. Chegaram na cidade pela Catuíra e
se dirigiram para a Ponte Emilio Kuntz. Conta-se que os amigos Evaldo Iung,
Paulo Almeida e Genésio dos Santos assim que souberam de sua chegada partiram
da Águas Frias em direção ao Sombrio. Ao avistarem a ponte, perceberam que os
revoltosos estavam na ponte e de guardas, já tinham colocado dinamite nos
quatro pontos dela, para - dependendo qual fosse a reação da cidade, faria explodir.
Assim que os 3 se aproximaram um deles gritou: “Viva Getúlio!” E os revoltosos
responderam com um forte “VIVAA!”, desistindo assim da ideia de dinamitar a
ponte.
Por conhecerem a fama dos revoltosos, muitas pessoas que eram a favor do
governo fugiram da cidade com sua chegada. Montaram no lombo de seus cavalos e
andaram quilômetros, buscando se proteger. Ficaram escondidos em suas terras e
até mesmo mulheres grávidas tiveram que fugir, tendo de ter seus filhos no meio
do caminho.
Os revoltosos ficaram por algum tempo na cidade e também montaram o seu
QG na casa de Dona Olga Kretzer – seu marido Quirino havia fugido com medo de
ser morto pelos revoltosos. Dona Tercilia que trabalhava no correio não fugiu,
mas como tinha seu emprego vinculado ao governo não precisou nem declarar de
que lado estava, seu marido se escondeu em um terreno a poucos quilômetros
dali. Os revoltosos acabaram ficando sabendo de seu paradeiro, mas como já
conviviam a algum tempo com a família de Alberto – pois ele possuía um hotel,
onde muitos dos revoltosos almoçavam, atendidos por seus filhos – já sabiam que
ele era uma pessoa de bem e avisaram que ele poderia voltar para casa sem medo.
Meio ressabiado Alberto e Quirino Kretzer voltaram. Algum tempo depois os
revoltosos deixaram o Barracão com destino a Florianópolis, onde os
revolucionários ou revoltosos – como eram chamados no Barracão – souberam da
vitória de Getúlio Vargas.
Com
o Golpe de 1930 terminou o domínio das oligarquias no poder. Getúlio Vargas
governou o Brasil de forma provisória entre 1930 e 1934 (governo provisório).
Em 1934, foi eleito pela Assembleia Constituinte como presidente constitucional
do Brasil, com mandato até 1937. Porém, através de um golpe com apoio de
setores militares, permaneceu no poder até 1945, período conhecido como Estado
Novo.
1 Comentários
Quando garoto, uma das coisas que mais gostava – e que hoje mais sinto falta – era estar com meu avô e ouvir suas incontáveis histórias.
ResponderExcluirE uma delas era sobre a revolução de 30. Meu avô tinha 10 anos e contava que junto do pai dele e alguns tios, tiveram que subir o morro do Gato do Mato aqui em Bom Retiro, onde ficaram escondidos por cerca de 1 semana. De lá, viram os “arruaceiros” levarem seus cavalos, alguns bois, montarias e alimentos. Detalhe: meu bisavô tinha uma égua xucra, que ninguém da redondeza havia conseguido montar. Meu avô contava que uns 6 ou 7 tentaram montá-la. Laçavam, mas não paravam mais que 5 segundos em cima da égua. Após algumas tentativas, deixaram ela no pasto, e seguiram rumo ao Barracão.