Personalidades: Doralice Andersen Seemann




8 de outubro de 1929

11 de janeiro de 2015


Doralice nasceu na Barra da Jararaca em 8 de outubro de 1929. Filha de Benjamim Andersen e Mathilde Montibeller Andersen. Seu pai era feitor de obras do DNER e sua mãe era costureira. Sua árvore genealógica tinha gente de vários lugares: o avô materno veio da Itália, avó materna da Argentina, avô paterno veio da Dinamarca e apenas sua avó paterna nasceu no Brasil.

Ela viveu a infância na comunidade da Barra da Jararaca, que era uma das mais influentes da região. Lá, estudou até a quarta série, que era até onde se havia possibilidade de estudar na comunidade naquele tempo. Ela sempre foi uma aluna muito aplicada e que adorava participar das aulas. 

Sua irmã Julita relembra da beleza da comunidade, que tinha muitas árvores e flores e uma linda pracinha. Ela também recorda que os pais trabalhavam na agricultura e tinham uma hospedaria. Ela e as irmãs, incluindo Doralice, tinham que todo dia lavar as roupas de cama brancas no rio, levando até mesmo um tacho para fervê-las e deixá-las bem branquinhas. Para ir da Barra da Jararaca até o centro, quando elas eram pequenas, se levava três horas e três para voltar, precisavam reservar um dia inteiro para a “viagem”. Eles vinham de Aranha e, quando chegavam, soltavam os cavalos para eles descansarem em um pasto que ficava onde hoje é o Silva Jardim, o terreno naquela época pertencia a Adelino Lickmann. Não se tinha muito para os jovens fazerem naquele tempo, eles costumavam jogar petecas, realizando até mesmo torneios. Uma outra forma de lazer eram as domingueiras.

Foi em uma dessas domingueiras, em uma festa em honra a Santa Teresa, padroeira da antiga Colônia Militar Santa Teresa, hoje Catuíra, que Doralice conheceu seu futuro esposo, Joel Jack Seemann. Eles namoraram, noivaram e, quando ela tinha 19 anos, vieram a se casar. O casamento aconteceu no dia dois de julho de 1949.

Assim que eles se casaram, o jovem casal foi morar na Imbuia e foi lá que o primeiro filho nasceu, Odilon. O outro filho do casal, Sérgio, nasceu na Barra da Jararaca, pois eles haviam voltado a morar perto dos pais de Doralice. Quando Sérgio tinha dois anos, eles se mudaram para o centro da cidade. 

Doralice estava predestinada a ser umas das professoras mais queridas que Alfredo Wagner um dia teria. Ela começou lecionando, ainda solteira, na Barra da Jararaca, na escola isolada da comunidade. Quando se mudou para o centro, passou a dar aulas na antiga Escola Isolada do Barracão, que ficava onde hoje se encontra a casa do seu Santo, em frente à sua ferraria. 

A antiga Escola Isolada do Barracão tinha apenas duas salas e funcionava em dois turnos, de manhã a 2ª, 3ª e 4ª série e à tarde a 1ª serie. A Dona Doralice e Dona Otília Farias eram as professoras das primeiras séries, responsáveis pela alfabetização de todos e Dona Olga Rozar Farias e o senhor José Dell’ Antônia eram os professores das demais séries. 

Em 1958, o Grupo Escolar Silva Jardim foi inaugurado e Dona Doralice passou a trabalhar lá. No dia da inauguração do Grupo, o Governador do Estado estava presente e foi uma grande festa e grande conquista para o todo o povo que morava no Barracão. 

Quem trabalhou com Dona Doralice nos conta que ela era uma pessoa com grande personalidade, competência, responsabilidade e respeito pelos alunos e pelos colegas, além de trabalhar com muito amor e dedicação. 

Os alunos que foram alfabetizados por ela contam sobre sua paciência e carinho. Segundo uma de suas ex-alunas a dinâmica das aulas da professora era: Dona Doralice era afetuosa e acolhedora, mas também rígida e imponente quando se fazia necessário. Na minha ansiedade de aprender, fazia todos os exercícios de coordenação motora com capricho e carinho, me realizava frente àquelas atividades, sempre presentes nas aulas de Dona Doralice. Depois, iniciamos a cópia do alfabeto, repetindo-o em coro sob a regência da professora: ‘a, b, c, d, e...’. Em seguida, iniciamos a aprendizagem das sílabas: ‘fa, fe, fi, fo, fu’. Parte por parte, seguíamos os ensinamentos da cartilha. Aprendi a ler rapidamente, fiquei fascinada com a descoberta das letas e pelas coisas maravilhosas que a leitura estava me proporcionando, graças às lições de minha mestre. A postura da minha professora era coerente com o que se acreditava na época. Ela buscava homogeneizar a classe. Outras coisas que ficaram em minha memória das aulas com a professora Doralice foram as estrelinhas no caderno, os traços coloridos feitos pela professora, a merenda servida em canecas, que sentávamos em duplas, do ajudante da semana, a letra desenhada da professora, a luta para ver quem iria apagar o quadro para a professora, a hora da revista para verificar se as unhas estavam limpas e curtas e que eu e meus colegas sempre esperávamos a professora na frente da escola, para ir de mão com ela para casa. 

Além disso, contam que os alunos também traziam presentes para ela e quando esses presentes eram bergamotas, ela sempre as dividia com eles, dando um gominho para cada, fazendo com que eles se sentissem muito felizes e honrados. 

Quando se aposentou, passou a aproveitar seu tempo livre bordando, fazendo crochê, fazendo bolachas, pufes, bolinho de chuva. Uma outra alegria dessa fase eram seus netos, ela os levava para verem as luzes de natal na praça e no Coquinho. Josué e Átila — os netos mais velhos — lembram que faziam competições para ver quem tomava mais capilé, sobre supervisão e apoio de sua avó.

Dona Doralice faleceu em 11 de janeiro de 2015, em decorrência de parada cardiorrespiratória. Mas deixou sua marca em nossa história. Muitos alfredenses foram alfabetizados por ela e carregam em sua memória a imagem de uma professora competente, atenciosa e acima de tudo com um sentimento maternal pelos alunos, os ajudando e incentivando a conquistarem seus objetivos.

O povo alfredense deve um grande obrigado à nossa professora Doralice!


Informações repassadas por:

Samira Helena Hinckel 

Julita Andersen Hinckel 

Odilon Seemann 

Ana   Regina Zilli Seemann

Valneide Terezinha da Cunha Campos

Izolde Deucher

Biografia presente no livro "Histórias da Nossa gente"
das autoras: Carol Pereira e Manuella Mariani 

 



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