04 de janeiro de 1945
08 de outubro de 2003
Quem viveu em Alfredo Wagner, principalmente durante as décadas de 80 e 90, deve ter muitas lembranças do seu Tatu, como Arno era conhecido por todos. Dono de um senso de humor incrível e contador de piadas, era difícil encontrar alguém que não o conhecia.
Arno nasceu na Nova Alemanha, na Imbuia. Filho de Evaldo Jacó Passig e Paulina Schösser. Ele era o caçula dos oito filhos do casal. A família de descendentes de alemães falava apenas o idioma da terra natal dentro de casa e vivia da agricultura. Quando ele ainda era muito novo, se mudaram para Ilha Grande, na cidade de Ituporanga. No ano de 1964, Arno serviu o exército, na cidade de Lages.
A família de Arno era luterana e naquele tempo era comum que os jovens das cidades vizinhas se reunissem em encontros organizados pelos pastores, entre eles, pastor Werner Brunken. Foi em um desses encontros que ele conheceu Tita, que seria a sua futura esposa.
Tita — Marlene Schäffer Passig — relembra que o pastor Werner Brunken era muito casamenteiro e gostava de levar os jovens para esses encontros. Além disso, para que os jovens frequentassem a “Juventude” da época, eles tinham um trato: os jovens iam a pé até o local do culto e depois ele levava todo mundo em casa com seu Jeep. Tita e os amigos adoravam isso, pois eram mais de 10km que separavam sua casa da igreja.
Para irem até o encontro onde ela conheceu Arno, os jovens do Rio Adaga, Rio Lessa, Picadas, Quebra Dentes e região alugaram um caminhão. O caminhoneiro colocou alguns bancos na carroceria e, todos sentados, partiram até a Ilha Grande. Chegando lá, ela se relembra de ter visto Arno, mas não deu muita bola para ele. Então, no final de semana seguinte, em uma festa de Dia das Mães que estava acontecendo em sua comunidade, ela se surpreendeu quando viu que Arno estava lá para visitá-la. Ela aceitou conversar com o moço e ele a pediu em namoro.
Dona Tita relembra, em meio a risadas, que aceitou namorar com ele, mas esqueceu de perguntar seu nome. Foi uma amiga que lhe contou, dias depois, que o nome do namorado era Arno.
O casal sempre se encontrava aos domingos e namorava no portão da casa. Arno vinha da Ilha Grande com sua lambreta. Dona Tita ressalta que ele era muito exibido e sempre vinha muito charmoso, usando seu Ray Ban e, nas noites frias, usando o seu sobretudo para se defender do frio. O namoro durou dois anos e então eles se casaram no dia 14 de setembro de 1968.
Logo que se casaram, o casal foi morar na Ilha Grande e foi lá que as duas filhas nasceram: Rosiane e Dulcelene. Em Ituporanga, eles trabalhavam na agricultura, mas uma oportunidade de mudar o ramo de negócios da família aconteceu e ele resolveram se mudar para Alfredo Wagner, para trabalhar com uma atafona e serem proprietários de uma venda. A mercearia era grande, mas todos os produtos eram vendidos no balcão.
Quando as filhas Rose e Dulce — como são chamadas até hoje — chegaram em Alfredo Wagner, elas não falavam nada em português. Dentro de casa, por causa de sua avó paterna, que não entendia nada do idioma do Brasil, era apenas o alemão que era falado. Elas relembram que, quando eram pequenas, entregavam leite na cidade e que sempre que iam entregar o leite no bar do seu Talico, ele dava um picolé para que elas falassem em alemão, achando-as muito engraçadas. Elas só foram aprender a falar português na escola.
Foi em Alfredo Wagner que o terceiro filho do casal, Emerson, nasceu.
Você deve estar achando estranho estarmos falando do Arno, pois talvez só conheça ele como seu Tatu, mas ele nem sempre teve esse apelido. O apelido foi dado por Zelito, irmão de Tita. Zelito era muito novo e um dia estava roubando ameixas, ao lado de uma churrascaria, e o dono da casa apareceu com uma pistola. Zelito, no apuro, pulou da árvore e começou a gritar: “Não atira, não atira, é o filho do seu Eti”. O dono das ameixas só queria assustar o garoto e é claro que não atirou, mas, daquele dia em diante, Arno passou a chamar o cunhado de Ameixa.
Uns dias depois, em uma conversa, eles estavam falando que existiam muitos bichos — pessoas com apelidos de bichos — em Alfredo Wagner: Formiga, Tucano, Sapo, Gralha, entre outros, e foi então que Zelito disse que tinha também o Tatu, apontando para Arno. Arno ganhou esse apelido por causa do tamanho de seu nariz e de um paletó listrado que ele usava.
De surpresa, o cunhado e alguns amigos fizeram uma placa grande, pintaram de azul, desenharam um tatu e a colocaram na frente da sua atafona, exibindo o apelido. Ele aceitou a brincadeira sem maiores problemas e não demorou para começar uma coleção de tatus, que ostentou por toda a vida em seus estabelecimentos comerciais.
A recessão nacional e o aumento dos juros afetaram os negócios da família e a venda não ia bem, muitas pessoas que compravam fiado não conseguiam pagar, o estabelecimento começou a ficar sem estoque, o que levou ao seu fechamento. Além disso, a família teve que fechar a atafona, por fazer muito barulho e ficar na área urbana da cidade.
Foi uma época de dificuldades, a família apesar de estar sempre disposta ao trabalho estava passando por alguns problemas financeiros. Dona Tita relembra que “O Leco da Dona Nide queria até fazer uma rifa de um aparelho de som que ele tinha para nos ajudar. Mas eu sempre acreditei que Deus iria nos ajudar. Eu nunca tive medo do trabalho e trabalharia de sol a sol para a gente sair daquela situação”. Foi então que a Camargo Correia chegou em Alfredo Wagner para a construção da BR 282 e as coisas começaram a mudar.
A família começou a fazer as marmitas que seus funcionários consumiam e também a preparar o almoço para os encarregados — gente com o posto mais alto na empresa. Eles chegavam a fazer 110 marmitas por dia, que eram recolhida as 10 horas por um caminhão para serem entregues aos funcionários. Naquela época, não existiam marmitas descartáveis, então, eram marmitas de alumínio, caprichosamente fechadas com um pano de louça branco, com o nome de cada funcionário pregado em cima com uma pregadeira. Eram marmitas personalizadas, cada funcionário podia escolher o que queria comer e cada marmita ainda era acompanhada por um pote com salada.
Foi uma época de muito trabalho, começado antes do sol nascer. Às seis horas, eles serviam o café da manhã para os encarregados e começavam a preparar o almoço, que tinha que estar pronto até as 10h. Depois disso, finalizavam o almoço para os encarregados e o caminhão chegava de volta com todas as marmitas, potes e panos sujos, que precisavam ser lavados para serem usados no dia seguinte. Lavar pano, marmita, pote e depois ir preparar a janta para os encarregados, que também jantavam com a família. Foi um tempo de muito trabalho, mas de prosperidade para os Passig e Dona Tita até hoje agradece a Deus por ter aparecido essa oportunidade, para tirar a família do sufoco.
Foi também nessa época que os Passig, que já tinham um bar, majoritariamente frequentado por idosos para jogar dominó, resolveram investir em uma choupana, visando atingir um publico mais jovem. A choupana abria na sexta à noite, sábado à noite e domingos à tarde e servia, em sua maioria, lanches. Até hoje as pessoas ainda relembram do X-Salada da Dona Tita.
Eles costumavam fazer alguns eventos na choupada e sem dúvidas o mais lembrado hoje em dia foi a Noite da Cebola. Eles mobilizaram toda a cidade e um grande concurso, com apoio da rádio de Ituporanga, foi lançado. Muitos prêmios foram distribuídos: para a maior cebola, cebola mais bonita, cebola mais pesada, melhor réstia e por aí vai. Foi uma noite memorável e que continua viva na memória da família.
Além disso, quando a empresa Pater, terceirizada da Camargo, chegou em Alfredo Wagner, eles passaram a alugar a parte de baixo da casa, onde antes era o depósito da venda, como dormitório para os empregados se acomodarem.
Seu Tatu era sério, rígido com os filhos, mas era um homem muito engraçado e cheio de senso de humor, conhecido pelas piadas e pegadinhas que ele fazia com os amigos:
Algumas piadas e pegadinhas:
“Seu Tatu, me conta uma piada? Mas ele não estava muito bom aquele dia e também não ia muito com a cara do cara e disse: se tu gosta tanto de piada, compra uma choca de pintos e anda com ela embaixo do braço”
Essa história é da época em que trocaram a moeda no Brasil e o plano Real entrou em vigor, seu Tatu disse: “Ei, fulano, tua água veio em URV — Unidade Real de Valor — ou em Real? O sujeito respondeu: A minha veio em Real e a tua? Tatu disse: a minha veio pelo cano”.
E a mais conhecida de todas, diz respeito à sua filha Rose. Naquela época, ainda era comum que os casais fugissem quando queriam se casar e foi o que Rose fez. Ela fugiu e seu pai ficou muito triste, dizem que tomou um porre e estava muito cabisbaixo em seu bar, quando a clientela começou a chegar, eles perguntavam o que havia acontecido, e ele dizia que a choupana havia sido assaltada e quando indagado o que tinham roubado, ele respondia, com o sotaque alemão carregado: “roubaram a minha Rose”.
Seu Tatu gostava de viver, adorava dançar, estar com a família e amigos, mas teve uma vida curta, morrendo jovem, aos 58 anos. Porém, permanece vivo na memória da família e amigos, que sempre relembram de seu jeito brincalhão e engraçado.
Informações repassadas por:
Laís Daniela Passig da Silva
Dulcelene Passig
Rosiani Passig Müller Santos
Marlene Schaeffer Passig
Emerson Passig
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