23 de abril de 1932
20 de dezembro de 2019
Seu Adão é um ícone da sociedade Alfredense, gaúcho de nascimento, mas que durante décadas teve Alfredo Wagner como o seu lar.
A serraria do Seu Adão, localizada na rua Águas Frias de dentro, teve uma importância muito grande na economia de Alfredo Wagner nas décadas de 70, 80 e 90 e muitas famílias vieram para nossa cidade para trabalharem nesse local.
Vamos conhecer um pouco mais sobre a vida de seu Adão através do relato dado pelo seu filho Dego e completado por sua neta Luciana:
O pai de Adão, Marciano da Silveira Maciel, ficou viúvo e já tinha uma filha, chamada Marieta. A mãe de Adão, Rosa de Castro Maciel, também havia ficado viúva cedo e tinha um filho, chamado Macedo. Eles eram cunhados, e resolveram se casar para criarem os filhos juntos e constituir uma nova família. Dessa união, eles tiveram mais três filhas mulheres: Edith, Elita e Eva. Como era desejo de Marciano ter um filho homem, ele resolveu recorrer à superstição que dizia: “Colocando o nome de Eva na última filha, nasceria um filho homem”. A simpatia deu certo e não demorou muito para Marciano ter seu filho homem e é claro que ele colocou o nome de Adão, para não ficar em dívida com a simpatia.
Após um ano e meio do nascimento do menino, sua mãe faleceu, não se sabe exatamente do que foi, Adão sempre contava que ela tinha tido uma ferida na perna, que nunca cicatrizava e foi a partir disso que ela veio a falecer. Após este fato, a vida de Adão ficou mais difícil. Seu pai acabou colocando as meninas para morar com padrinhos e conhecidos e ficou apenas com Adão e uma das meninas.
Quando o pequeno Adão tinha 11 anos de idade, seu pai se casou novamente. Ele se casou com Dina, tendo mais uma filha, a Lurdinha. Dona Dina parecia não gostar de Adão, e Marciano era condescendente com a situação e deixava isso acontecer. Nessa época, Adão morava mais no rancho de pau a pique na roça do que em casa, mas sempre cuidando e ajudando seu pai, que já estava com saúde bastante debilitada.
Assim, ele viveu até ir servir o exército no ano de 1951, no Grupamento de Cavalaria do Exército em Santiago, Rio Grande do Sul. Por lá ficou por quase três anos, aproveitou a oportunidade para melhorar sua escrita e a leitura, aprendeu a cortar cabelo, fez o curso de cabo, mas acabou não concluindo por pegar sarampo e assim ser dispensado.
Após sair do exército, Adão não quis mais trabalhar na agricultura, então foi trabalhar na empresa Fauch & Borgo, onde seu cunhado, Antônio Francisco Borgo, era sócio, ele era marido de sua irmã, Elita; o outro sócio era Benjamim Fauch pai de Miguel Fauch — que viria a ser padrinho de batismo de Dego. A empresa era do ramo madeireiro, ele mal sabia, mas esse seria seu ofício pelo resto da vida.
Foi na época em que trabalhava na Fauch & Borgo que conheceu sua futura esposa, Alicia Marques Maciel. A moça tinha a mesma idade que Adão, também tinha nascido em 32, no dia 23 de agosto. Ela era filha de Francelicio Marques Bitencourt e Fanny Gehardt, que eram capatazes da Fazenda de Sr. Adilio Velho. Foi um romance arrebatador e não demoraram para se casar. O casamento aconteceu no dia 07 de fevereiro de 1953.
Ela era uma mulher cheia de dotes culinários e prendas domésticas. Quando casou, levou consigo as vacas que tinha e além disso sempre contavam que tinha ganhado de presente de casamento de seu Borgo — cunhado e patrão —, uma cama e um fogão econômico.
Os filhos não demoraram a surgir, foram quatro: em 04 de janeiro 1954 nasceu a Nair, em 01 de maio de 1956 a Nadir, em 10 de janeiro de 1959 o Marcos Marciano e em 25 de fevereiro o Edgar — Dego.
Após um tempo, deixaram o Rio Grande do Sul e foram morar em Pericó, distrito de Urubici, por volta do ano de 1961, para também trabalhar com comércio de madeira.
Saindo de lá, eles se mudaram para Fazendinha e Santa Bárbara que ficavam no município de Bom Jardim da Serra, recém-emancipado.
Como onde viviam não tinha escola por perto e as filhas mais velhas já estavam em idade de estudar, Adão resolveu montar uma escola dentro de sua fazenda, para que as filhas e os filhos de seus empregados pudessem estudar, pois a escola mais próxima ficava na cidade de Urubici. A professora se chamava Inácia de Souza e era esposa do afiador de lâmina que trabalhava na serraria.
Pouca gente sabe, mas Seu Adão foi candidato a vereador em Bom Jardim da Serra, pelo Arena. Em Bom Jardim, ele passou a trabalhar com a empresa Brasilpinho e posteriormente como sócio do Sr. Antônio Gamba, que seria o responsável pela vinda da família Silveira Maciel para Alfredo Wagner. A única filha que não veio foi Nadir, que se casou com o Joares do Amaral Garcia e ficou em Bom Jardim da Serra.
A vinda da família para Alfredo Wagner teve grande impacto na economia do lugar. Ele e seu sócio construíram uma grande serraria, a Mapel Madeiras Pecuária Ltda, iniciando os trabalhos no ano de 1975. Eles construíram até mesmo uma vila para que os empregados, muitos deles vindos de outras cidades, pudessem morar com suas famílias.
A recém construída vila Mapel tinha cerca de oito casas e as famílias do senhor José Alencar de Souza, Luiz Bernardino, Pedro Ribeiro, Bernardo, Vilmar e João Galdino eram as moradoras. As casas eram livre de aluguel, água e energia elétrica.
Além dessas famílias, a família do senhor Idalino Gamba e Dona Delicia também se mudaram para Alfredo Wagner, no ano de 1977, vindos de Bom Jardim da Serra. Seu Idalino tinha experiência em trabalhar em serrarias, pois já havia trabalhado anteriormente com o senhor Antoninho Gamba, mas tinha ido tentar a vida abrindo uma serraria em sociedade com seus primos, na cidade de Brusque. Após um incêndio destruir a mesma, seu Antônio, sabendo que seu Adão precisava de alguém com experiência para ajudar a gerenciar a serraria, recomendou seu Idalino. Homem de muitas habilidades, foi o braço direito de seu Adão por muito tempo. Ele laminava as serras para corte de madeira, fazia parte dos consertos das máquinas quando as mesmas quebravam, serrava madeira, ensinava quem quisesse aprender, contava madeiras, vendia e tirava as notas para o transporte delas, etc.
Seu Adão sempre foi um homem muito empreendedor e sempre foi muito generoso com seus funcionários, por isso até hoje é relembrado com saudade por eles.
Dois dos ex-funcionários de Adão, Ioli Terezinha de Souza e José Edson de Souza, filhos de uma das famílias que se mudaram para a vila, contam sua generosidade. Ioli vivia com eles, ajudava dona Alice — como Alicia era chamada por todos —, mas era tratada como filha pelo casal. Quando seu Adão começou a dividir seus bens, ele incentivou e ajudou os ex-funcionários a comprarem suas casas. E Som — José Edson — era afilhado de Seu Adão e conta que recebeu muitos conselhos de seu padrinho, sempre incentivando a pensar no futuro e a constituir família.
Com seu Antoninho Gamba, como era chamado, manteve sociedade por 28 anos, se aposentou e passou sua parte na empresa para seus filhos Edgar e Marciano.
Aposentado, ele resolveu se dedicar ao Sítio da Guarda Velha, que era a menina de seus olhos, assim como uma paixão na vida de sua esposa Alicia. O casal passava a maior parte da semana por lá, também cuidando de sua criação de Javalis.
Os dois vinham para a cidade apenas quando eles tinham algum compromisso, como por exemplo as reuniões do Lions Club, onde eram sócios fundadores, junto com o Dr. Beto e Eunice, Quirino e Selma, Antônio Carlos e Marlene, entre outros. Eles gostavam muito de trabalhos voluntários.
Além disso, Adão também foi presidente do Hospital, na época em que Dr. Marco Antônio Curi Al Cici e Dr. Minoro Otaka atuaram na cidade.
Adão e Alicia tinham outros prazeres como o gosto pelos cavalos, a dança e a tradição gaúcha de rodeios, aos quais eram assíduos frequentadores. Adão foi um grande avô, muito amado pelos netos, e era comum que ele passasse horas brincando com eles. Ele sempre era o cavalo e eles o montavam. Usava capa e chapéu com uma máscara, arranhava as janelas para assustar as crianças e elas morriam de medo. Os netos sentem um profundo carinho pelo avô e ele está presente nas melhores lembranças de suas infâncias. Além disso, seu Adão gostava de tocar sua gaita, de passar tardes jogando cartas com seus amigos no Canta Galo ou no seu Wilson e frequentar os grupos de terceira idade, onde se destacava como um líder.
Por conta de sua marcante participação e atuação nos grupos que cultuavam as tradições gaúchas na cidade, ele recebeu uma bonita homenagem na última Festa do Barracão realizada em Alfredo Wagner, em 2019, alguns meses antes de sua morte. Na ocasião, ele recebeu o título de Primeiro Patrão dos tropeiros do Barracão. Adão foi um dos percursores das cavalgadas e tropeadas no município, ao lado dos amigos Rogério Kretzer e Ivan D. Andersen.
Seu Adão ficou viúvo no dia 18 de fevereiro de 2000 e veio a falecer no dia 20 de dezembro de 2019 deixando quatro filhos, dez netos e cinco bisnetos e um trineto.
Informações repassadas por:
Luciana Maciel Garcia de Quevedo
Nadir da Silveira Garcia
Edgar da Silveira Maciel
Iliana Aparecida Gamba
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