04 de março de 1940
22 de junho de 2007
Vamos conhecer um pouco mais sobre a vida de Dona Zeli, pessoa muito conhecida em toda Alfredo Wagner e muitas vezes apontada como a maior doceira de todos os tempos. Mulher forte, guerreira, MDBista, palmeirense e que não economizou esforços para mesmo em meio a todas as dificuldades, criar e cultivar sua família.
A história de Zeli começa nas Demoras. Ela veio de uma família humilde e foi a filha mais velha de Zilda Kalbush e Manoel Coelho, que depois dela, tiveram mais dez filhos.
Os pais sempre trabalharam como arrendeiros e capatazes, então eles moraram em vários pontos do município, tais como: Demoras, Barro Preto, Queimados, Maracujá, Caeté, mas foi na região entre Demoras e Barro Preto que Zeli passou a maior parte da infância e juventude e lá escreveu boa parte de sua história.
Desde pequenos, com cerca de seis anos, ela e os irmãos já assumiam os compromissos de trabalharem na roça, ao lado dos pais. Zeli, por ser a irmã mais velha, tinha ainda mais responsabilidades. Quando o pai não estava com eles, os dez irmãos tinham que seguir as ordens dela e ela fazer tudo de acordo com as orientações do pai, pois se fizesse algo errado, a família corria o risco de não ter o que comer.
Os irmãos relembram que muitas vezes para fazer a barriga parar de roncar, a mãe Zilda fazia bolinho de farinha de mandioca com sal, frito. E era isso que eles tinham para comer, apesar de sempre trabalharem muito. Também relembram de uma época em que trabalharam como arrendeiros no Maracujá, nos terrenos dos senhores Adolfo Scheidt, Francisco Gueda e Duca Wagner. Aquele foi um ano muito difícil para a família, pois fizeram uma grande roça, mas que acabou não produzindo nada, não se tem uma explicação, só se sabe que foi um ano de muita chuva e que isso pode ter afetado a lavoura. O gado que eles cuidavam também foi infectado por febre aftosa, e perderam boa parte do rebanho, foi um ano em que eles conheceram o que era a fome.
Mas seus pais nunca esmoreceram e ensinaram isso a seus filhos, porém as crianças tiveram uma infância sem muito tempo para a brincadeira, o trabalho vinha sempre em primeiro lugar. O isolamento das comunidades do interior do município também era um ponto que dificultava muito a vida das pessoas, entre elas Zeli, que tinha que andar quilômetros e mais quilômetros, carregando sacos de milho para ir até a atafona mais próxima para fazer farinha de milho para sua mãe. Nessa jornada, as irmãs a acompanhavam.
Zeli tinha um primo, seu amigo desde a infância, que acabou se tornando o amor de sua vida. Os dois se apaixonaram na adolescência e nem o parentesco — as mães dos dois eram irmãs — conseguiu impedir esse amor. Zeli se casou com Aldo Duarte, seu primo e foi nas Demoras que iniciaram a sua família. Os dois sempre foram muito unidos. Trabalhavam juntos, iam para a igreja juntos, se amavam muito e foram passando esse amor de família para os filhos que foram nascendo. No total, o casal teve seis filhos: Gilmar Sebastião Duarte, Terezinha Duarte, Luiz Carlos Duarte, Sérgio Duarte, Orlando Duarte e Ana Maria Duarte.
Assim que se casaram, Aldo trabalhava como tirador de toras para a Laminadora. Um trabalho difícil, pois a madeira era tirada da mata, com o uso de bois. Depois, ele juntou algum dinheiro e se tornou sócio em uma serraria no Barro Preto, mas o negócio não deu certo e a família acabou perdendo o pouco dinheiro que havia conseguido juntar. Foi então que Aldo começou a trabalhar como carpinteiro e a família se mudou para o Barracão.
Com a mudança da família, Zeli começou a trabalhar na Charqueada de seu Nino e como faxineira para ajudar nas despesas da casa e tinha como algumas de suas clientes: Dona Nilda, Dona Cândida e Dona Ondina. Logo surgiu a oportunidade de ela começar a trabalhar como doceira e ela não perdeu a chance, foi assim que ela iniciou seu legado de maior doceira de Alfredo Wagner.
Mas como as coisas não foram fáceis na vida de Zeli, no ano de 1985 ela perdeu seu marido por conta de um infarto. Então, foi que ela começou a trabalhar mais do que nunca. Dona Zeli era uma mulher de fibra e não se assustava com trabalho. Fazia os bolos, pães, depenava as galinhas e as assava, tudo praticamente sozinha ou com a ajuda dos filhos e posteriormente dos netos.
Ela fazia as festas da Matriz, da igreja do Estreito e de várias comunidades como Caeté, Demoras, Queimados, Barro Preto e o povo sabendo que ela era a doceira, não perdia a oportunidade de saborear seus quitutes.
Além de doceira, uma outra característica muito forte de dona Zeli era o amor pelo MDB. Pelega de carteirinha, ela estava sempre envolvida com a política, sempre participando dos eventos do partido e engajada nas campanhas.
Além de pelega, dona Zeli também era palmeirense e arrumou muita briga com os filhos por causa de rivalidade de futebol. Palmeiras era Palmeiras e quem não torcesse por ele, estava errado. Não importa se era filho, neto, vizinho. Dia de jogo só o verdão que importava.
Aos poucos, os netos foram chegando e a severidade com a qual ela criou os filhos foi dando lugar a uma vó carinhosa, que também era exigente, mas que hoje permanece em alguma das mais belas memórias da infância de seus netos: “Ela fazia bolachas caseiras no Natal e guardava naquelas latas grandes de margarina. Sempre dava de presente pano de prato, lençol e coisas para o enxoval que ela tinha aos montes no guarda-roupa, onde também escondia alguns docinhos. Também no Natal, quando crianças, sentávamo-nos na frente do pinheirinho, onde ela montava também o presépio com barba de velho. Lá cantávamos músicas de Natal, como Noite feliz e Deixei meu sapatinho na janela do quintal, tudo isso com as luzes apagadas e apenas o pisca-pisca colorido brilhando. Era uma época muito mágica, graças a ela. Como enfeite, ela colocava papai Noel pequeninos de chocolate, os quais comíamos e fechávamos a embalagem para ela não descobrir. Na nossa cabeça, achávamos que ela nunca descobria, pois nunca nos falou nada”.
Dona Zeli trabalhava muito, mas era uma pessoa de bem com a vida. No ano de 1993, ela se mudou do bairro Barracão para o recém-criado Loteamento Valdir Mariotti, pois o terreno de sua casa foi severamente afetado pela grande enchente de 1993. As maiores tristezas de sua vida foram a morte de seu esposo, a morte da filha Ana e posteriormente de seu neto Márcio, que ela tinha como filho. Dona Zeli teve um aneurisma e precisou passar por uma cirurgia. Para a felicidade da família, tudo correu bem durante os procedimentos cirúrgicos e ela retornou para casa, porém menos de um mês após a retirada do aneurisma, ela teve um infarto fulminante e veio a falecer.
Assim foi a vida de Dona Zeli, pessoa honesta, amorosa, “do certo” e que deu sua vida para sua família. Sempre trabalhando para poder dar o melhor a seus filhos.
Informações repassadas por:
Pamela Cristina Deucher
Terezinha Duarte
Pedro Coelho
Gilmara Duarte
das autoras: Carol Pereira e Manuella Mariani
2 Comentários
Nossa Avó foi uma mulher de fibra, muito trabalhadora. Deixou muitas saudades e hoje exemplo de honestidade para todos nós.
ResponderExcluirAS LEMBRANÇAS DE DONA ZELI FICARÁ PRA SEMPRE EM MEU CORAÇÃO, COM ELA AJUDEI EM MUITAS FEESTAS, EU ADORAVA A DONA ZELI.
ResponderExcluirCOM ELA APRENDI FAZER BOLOS DE MANTEIGA, FAÇO TODAS AS SEMANAS E SEMPRE FALO APRENDI COM A DONA ZELI, FAÇO PÃO DE TRANÇA IGUAL O QUE APRENDI COM ELA.
SINTO SAUDADES DE DONA ZELI, CONHECI O SEU ALDO TBM, UM SR MUITO QUERIDO TBM, QUANTAS LEMBRANÇAS BOAS