Essa parte da viagem merece até mesmo um capítulo à parte.
Acordamos bem cedo, para não correr o risco de
perder nosso trem para a Alemanha. Íamos descer de carro e depois devolve-lo,
para isso estudamos toda a logística. Eu ficaria no terminal de onde
partiríamos e Bárbara e Alvarino iriam de carro, abastece-lo e devolve-lo e
depois retornariam até a estação para juntos embarcarmos. Nosso trem era as
8:19h e eles me deixaram na estação exatamente as 7:20h. Estava tudo dentro dos
conformes, ia dar tudo certo, mas no fim, não deu. Nesse
meio tempo, fui abordada por dois policiais, que queria saber porque eu tinha
tantas malas. Eu me expliquei e eles pediram para que eu ficasse atenta. O
tempo foi passando, passando, o horário do trem se aproximando e nada de notícias
deles. Quando faltavam uns 10 minutos liguei e Bárbara que me disse: “Vamos
perder o trem, depois te explicamos” e desligou. Fiquei apavorada, imaginando
que tinham batido o carro, sido roubados, ou qualquer coisa de muito ruim
acontecido.
Depois do nosso
trem já ter partido, liguei novamente. Eles estavam bem, o que aconteceu foi
que meio que se perderam com GPS e depois não encontravam nenhum posto para
abastecer o carro antes de entregarem. Quando eles retornaram à estação, fomos
ver o que podíamos fazer e nos mandaram ir tentar pegar o trem em uma terceira
estação. Saímos correndo com as malas, pegamos um táxi, em uma verdade corrida
pela vida. Ao chegarmos na estação, o trem também já tinha ido – a verdade é
que se usarmos a lógica vamos perceber que nunca tivemos chances reais de pegar
esse trem. Lá um estagiário disse para Alvarino para pegar o próximo trem, que
não teria problema, mas as informações não estavam claras e quando fomos o
procurar novamente, ele havia sumido. Fomos até o guichê.
Lá o cara disse
que não havia o que fazer, que como havíamos perdido a única solução seria
comprar novas passagens. Fizemos uma cotação e quase caímos duros quando ele
disse que sairia pela pechincha de 368 euros. TREZENTOS E SESSENTA E OITO
EUROS, JAMAIS! Alvarino disse “POR ESSE VALOR EU FICO AQUI PRA SEMPRE”, Bárbara
ficou sem palavras, diante da tragédia que estávamos vivendo. Quem levou a pior
mesmo foi minha mala, que resolveu cair um pouco depois dessa notícia e foi
chutada e empurrada com fúria. Estávamos lascados.
Começamos a
procurar por novas alternativas. Tinha ônibus também, que levariam cerca de 10
ou 12 horas para fazer o trajeto. Eu estava muito brava, mandei mensagem a
Hugo, contando da situação e avisando que iriamos nos atrasar, ao que ele
respondeu: “Eu pegaria o próximo trem, com o mesmo ticket. E se o controlador
reclamar é só contar uma história triste, se fazer de burro. Eu já fiz isso
umas duas vezes e colocou. Se eles te derem uma multa será mais barata do que
300 euros”. Não precisaria muito esforço para nos fazermos de burros.
Ficamos meio em cima
do muro, quanto a tentar isso ou não, mas por fim, ficamos sem opção, já que
até mesmo os ônibus baratos e demorados demorariam muitas horas para partir.
Então vestimos nossa cara de pau e fomos para plataforma esperar pelo próximo
trem, que sairia em cerca de uma hora.
Todo o meu corpo
tremia, não conseguia ficar com minhas mãos paradas, era como se eu fosse ter
um treco a qualquer momento.
Na Europa
funciona da seguinte maneira: as portas se abrem, a gente entra no trem e
depois dele já estar andando a um certo tempo, o controlador vem e apanha
nossas passagens, as conferindo, para ver se esta tudo certo. Então muito
provavelmente a gente não seria colocado para fora do trem em movimento, apenas
tomaria uma grande multa e seriamos mandados para rua na próxima estação. É
CLARO QUE EU ESTAVA DESESPERADA.
Quando trem
parou, entramos, nos acomodamos como se fossemos pessoas normais, com a
passagem certas. Nos acomodamos e a tensão começou. Todo mundo que apontava no
corredor poderia ser o tal cara que nos colocaria para a rua.
Tínhamos muitos
planos para evitar que ele nos multasse e expulsasse, simularíamos convulsão,
demência, começaríamos a chorar, faríamos qualquer coisa para continuar no trem
e com dinheiro para passar o resto dos dias que nos restavam no Europa.
Quando o cobrador
chegou, ele pediu a passagem, olhou a data e com um sorriso no rosto nos
desejou boa viagem e seguiu seu caminho. Foi como se o sol tivesse voltado a
brilhar depois de dias de tormenta. A primeira etapa estava concluída, mas
ainda tínhamos outra.
Nosso trem tinha
uma conexão de uma hora em Colônia, a cidade alemã que possui a maior catedral
da Europa. Lá almoçamos, o que acreditamos ser uma codorna assada, muito boa.
Era como ser um rei da idade média, comendo aquele bicho assado, com as mãos.
Tava deliciosa. Comemos para encontrar forças para mais uma vez aguardar o
controlador. Mas antes fiquei me
achando, por ter entendido uma conversa entre duas mulheres. Quem diria que as
conversas no almoço com minha vó e toda aquela bobeira que a gente fazia
resultaria em algo? hahaha
Mais tensão antes
da chegada dele, mais suor frio, coração acelerado, repassando mentalmente as
frases que deveriam ser faladas, caso desse algo errado "I'm sorry I
didn't know I couldn't take this train sir. We had a problem and missed the previous
one", depois colocar a culpa na mulher do guichê, que supostamente havia
nos garantido que poderíamos pegar o próximo, enfim, tava valendo qualquer
mentira. Mas quando a mulher veio, novamente foi tão tranquilo quanto da
primeira vez. Deu tudo certo.
Dormimos,
acordamos e precisávamos de uma cerveja para comemorar. Eu e Bárbara fomos em
busca dela, bebemos e depois não conseguimos mais dormir, por conta da festa
que um grupo de amigos vinha fazendo alguns bancos a nossa frente, vinham
conversando e rindo muito.
Tudo estava
feliz, quando outro controlador me cutucou. O mundo se abriu a meus pés
novamente. MAIS UM??? Mas, mais uma vez deu tudo certo.
Finalmente
chegamos a Bremen, a cidade que em 2015 um dos meus maiores amigos da vida
tinha escolhido para cursar seu mestrado e agora eu ia conhecer a seu lado,
depois de um abraço de mais de dois anos de saudade.
Estávamos em
Bremen.
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