Pequena, pitoresca e de aparência tranquila. Assim é a Barra de Valizas,
um lugar onde a natureza se apresentou em grande estilo: areia, mar, um pequeno
rio, enseadas, dunas... uma equação perfeita para um balneário encantador.
Durante o inverno, sua população é formada, principalmente, por
pescadores e artesãos que não chegam a 400 habitantes. Já no verão isso muda e
chegam turistas vindos de todos os lugares, sobretudo pessoas que gostam de
boemia, tranquilidade e natureza. Na areia construções de madeira, bem
rústicas, com madeiras de diversos formatos e telhados de palha, dispostas de
forma desordenada, mas em harmonia com o entorno. Algumas dessas casas parecem
ter saído de cenários de contos antigos!
Valizas tem uma grande variedade de restaurantes, onde se pode provar
mariscos e peixes pescados pelos pescadores locais. É um lugar tranquilo, mas
com uma vida noturna ativa.
Na rua principal os artesãos expõe e vendem sua arte, dando ao local
um certo misticismo. Na maioria são hippies, rastafáris, músicos e poetas.
O pequeno rio de Valizas desemboca no mar. Alguns o cruzam caminhando,
mas quando a maré está cheia é necessário fazer a travessia utilizando um
barco. Do outro lado do rio se chega as dunas e o panorama é espetacular. Nas
dunas os turistas costumam praticar Sandboard. Também passam pelas dunas os
turistas que querem chegar até Cabo Polonio.
É também nas dunas que se localiza o Cero de la Buena vista e o marco
que servia de limite natural para Portugal e Espanha entre os anos de 1750 e
1761.
O nome do Balneário deriva das Valizas, duas fileiras de troncos que
serviam como uma espécie de ponte para cruzar o rio.
Carregada de história, magia, misticismo, Barra de Valizas é ampla,
acolhedora, carismática, agreste e pitoresca. Um lugar simplesmente
incomparável.
Chegamos em Valizas de ônibus, com a empresa Rutas del Sol, partindo
de Montevideo. E nossa história com o local não começou muito bem.
A ideia de ir para Valizas surgiu quando um amigo nosso, uruguaio,
montou um restaurante lá. Já conhecíamos Cabo Polônio e Valizas parecia uma
ótima opção, então juntamos o útil ao agradável e nos programamos para visitar
o local e conhecer o restaurante de nosso amigo.
Alugamos uma casa pelo Airbnb, um site super popular e que até então
só tinha nos dado alegrias. Íamos locar uma casa na praia, porém por não conhecer o local e achar arriscado
ficar em uma casa isolada, resolvemos alugar camas em um local onde
supostamente seria uma espécie de pousada. Pelas fotos o lugar era super
maneiro e descolado. O proprietário iria nos pegar na rodoviária.
Ps: as vezes as fotos enganam.
Chegando na rodoviária o tal Camacho não estava lá nos esperando.
Ficamos por mais de uma hora plantadas no sol, enquanto esperávamos o cara
chegar e só fomos salvas pela folha A4 colada na mala da Denise com o nome
Camacho, que acabou por chamar a atenção de um cara que passava e se ofereceu
para nos acompanhar a pé até a casa do Camacho.
Andamos muito em um tremendo sol, carregando nossas malas. Eu de
mochila – muito pesada – e Denise destoando do ambiente, levando sua mala de
rodinhas pelas ruas de chão batido. Era quase engraçado.
Mas engraçado mesmo foi quando a gente chegou e se deparou com o
barraco, digo, casa. Era algo surreal, totalmente fora dos padrões tradicionais
de hospedagem. Sério era um barraco. Assim que comecei a avistá-lo, percebi que
ele tinha alguma semelhança com as fotos e comecei a fazer uma oração mental
para estar enganada. Mas eu estava certa, era aquilo.
Como todos sabem as leis sobre o uso de maconha no Uruguay são
diferentes das do Brasil e o nosso anfitrião faz uso das facilidades que tem.
Ao entrar já se podia sentir o intenso aroma da marijuana que estava sendo
utilizada por ele e seus comparsas, digo amigos, na cozinha.
Fiquei meio apavorada, o lugar era o mesmo das fotos, só que nas fotos
não mostrava o chão batido da cozinha, os pés de maconha e muito menos os dois
cachorros que dormiam embaixo da cama da Denise ou nos diziam que Camacho
dormiria na cama ao meu lado.
Pensamos em achar outro lugar, mas nem internet tínhamos, o jeito foi
aceitar a realidade e rezar para dar tudo certo. No final deu, mas foram
momentos de tensão.
Fomos comer algo e tentar esquecer de nossa triste realidade. Barra de
Valizas é surreal e logo somos envolvidas pela magia existente por lá e tudo
ficou menos dramático.
Logo na primeira volta vimos Teson – também conhecido como Marcelo, o
nosso amigo uruguaio – e depois fomos fazer uma visita a ele em seu
restaurante. Combinamos um jantar e fomos para a praia.
A noite jantamos no Los Porfiaos – restaurante de nosso amigo – e
aprovamos. Ambiente aconchegante e boa comida. Enquanto estávamos lá começou
uma chuva muito forte, aproveitamos para jogar conversa fora enquanto a água
não parava de cair e deixamos para conhecer o Lion – uma casa noturna de
Valizas - no dia seguinte.
Durante toda nossa estadia em Montevideo – nosso destino anterior -
acordamos antes das 8 da manhã, mas em Valizas, impedidas de nos levantar da
cama por medo dos dois cachorros gigantes soltos dentro de casa acabamos
levantando perto das 11 horas da manhã.
O medo se deu por conta do acontecido do dia anterior, quando Camacho
prendeu a cachorra no cio dentro da cozinha e saiu de casa. O outro cachorro
dele invadiu a casa – enquanto outros latiam loucamente na rua – fazendo com
que eu e Denise ocupássemos as camas de cima do beliche, em uma tentativa de
escapar da morte, que naquele momento parecia próxima e dolorosa.
Como acordamos tarde acabamos não tendo tempo para chegar até Cabo
Polônio. Cruzamos o rio de barco e fomos até o Cerro de la Buena Vista. No
caminho passamos pelo marco que dividia os territórios de Brasil e Espanha. Do
alto do cerro avistamos Cabo e tivemos uma vista deslumbrante de Valizas.
Na volta comemos no restaurante La Proa – recomendo um milhão de vezes
- de frente para o mar, em um ambiente muito agradável, com uma cozinha simples
e despretensiosa. Chego a ter vontade de chorar lembrando do sabor da comida do
La Proa, de tanta saudade que sinto. Comemos um camarão envolto ao queijo
gratinado e um risoto de camarão maravilhoso. Tudo isso tomando um patrícia e
de frente para o mar. Sem dúvidas que foram momentos especiais, tipo aqueles
que só o Uruguay te proporciona.
A tarde o mundo resolveu se transformar em água e choveu muito.
Ficamos em casa, mega entediadas. Os cachorros vieram da rua molhados e se
sacudiram fazendo com que a água voasse na cara da Denise, depois eles se
deitaram em cima dos sapatos dela. Eu atendia as pessoas que batiam na porta
procurando abrigo para a noite – já que o local é lotado de campings e com a
chuva intensa acho que o pessoal estava tendo problemas com as barracas. Li
para passar o tempo, mas mesmo assim, aquelas horas passadas com o constante
cheiro de maconha vindos da cozinha, onde Camacho regalava os amigos,
conhecidos, outros hóspedes ou pessoas que vinham tomar banho, pareciam
décadas.
Eu não aguentava mais ficar ali, na rua chovia e fazia frio, mas
tivemos que sair, pelo nosso bem.
Fomos novamente ao Los Porfiaos.
Mais tarde fomos ao El Lion – sim, todas as casas noturnas que
frequentamos no Uruguay tem nome de animal – e pudemos constatar que o local se
trata mesmo do lugar com maior concentração de hippies e rastafáris do sul do
planeta Terra. Eu me sentia uma alienígena e tenho certeza que eles também
pensavam isso de mim.
No dia seguinte, andamos mais um pouco pela praia – e tentamos escapar
da chuva que não dava trégua, matando o tempo para chegar a hora de almoçarmos
novamente no La Proa, para encerarmos nossa viagem até Valizas com chave de
ouro.
De Valizas seguimos para Chui e na fronteira pegamos um ônibus até
Garopaba onde encontraríamos o resto de nossos amigos do mestrado.
Valizas vale a pena e é puro amor!
2 Comentários
Ameeeeeeeei! Valizas e a postagem! Retrato da realidade hahahahah Valeu a pena tudo! O vídeo ficou maaaara. Você ta virando profissa!
ResponderExcluirEsqueci de comentar que sua foto ficou liiiiiinda! Boa a fotógrafa!hahahahahah
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