Meados[1]
de setembro e Eva acordou com os berros de tia Matilda:
- O que foi
tia?
Quando Eva
olhou para as mãos de tia Matilda viu que ela segurava uma carta com um selo da
Alemanha.
-Tia Matilda
quem mandou esta carta?
Sua tia muito
emocionada com lágrimas nos olhos disse:
- É do seu pai!
Ele mandou essa carta para avisar que ele está vindo nos visitar!
Eva não conseguia conter toda a alegria
que está sentindo com essa notícia, a saudade que ela sentia de seu pai lhe
doia muito, lhe ver seria como um sonho! E ela saiu gritando pela casa:
- Ceci, Sabú!
- O que foi
Eva?
- Meu pai está
vindo nos visitar! – Contou Eva, não conseguindo esconder a euforia.
- Que legal,
quando ele chega? – Perguntam os amigos.
- Não sei, a
emoção foi tanta que até esqueci de perguntar.
Quando Eva foi
perguntar para Tia Matilda, ela ouviu um bater na porta, quando ela abriu, por
um instante pensou que já fosse seu pai e se decepcionou, ao abrir e ver que
era o frei, a procura de seu Tio Albert.
- Eva seu tio
está?
- Sim vou...
- Que cara
triste é essa minha filha? – Indagou o frei.
- É que eu
estava esperando outra pessoa.
- Uhum e eu
posso saber quem Eva?
- Ah, claro
frei, eu estava esperando meu pai!
O frei achou um
pouco estranha a resposta de Eva e falou:
- Eva querida
seu pai está na Alemanha!
- Não frei, ele
está vindo me visitar aqui no Barracão!
O frei, sem
entender pediu para que Eva chamasse seu tio.
- Sim, vou
chamá-lo
Depois de
chamá-lo e de perguntar à tia Matilda quando seu pai ia chegar, Eva saiu para
avisar a Ceci e Sabú que seu pai chegaria dentro de uma semana, a bordo do navio
Gavião Marinho.
Enquanto isso a
bordo do Gavião Marinho, a poucos kms da costa catarinense...
- Senhor
Schneider, como vai?
- Muito bem
Capitã Carolaine. Estou indo ver minha filha.
- Nossa, e faz
tempo que você não a vê?
- Sim, faz
quase um ano que ela veio morar na casa de seus tios.
A conversa foi
interrompida pelo barulho de uma explosão vinda das caldeiras do navio. Um
marujo correu até ao convés e anunciou para a Capitã.
- Capitã
Carolaine, o navio faz água, creio que afundaremos!
- Mas como isso,
o que foi que aconteceu?
- Também não
sabemos, mas uma das caldeiras explodiu, temos homens mortos.
Friedrich e
Carolaine desceram para ver o que poderiam fazer, realmente não existia
solução, o navio estava com um rombo no casco, afundaria.
- Meu Deus,
ainda estamos a muitos quilômetros da costa e não teremos botes para todos.
Disse a capitã em um tom de preocupação – e anunciou.
- Mantenham a
calma e preparem os botes marujos, é hora de abandonar o navio.
Um princípio de
tumulto começou, as pessoas gritavam desesperadas, crianças choravam, todos
estavam muito assustados, a maioria nem ouviu as ordens da Capitã. Um
passageiro anunciou:
- Existem
apenas 10 botes, como que todos irão conseguir sair! Salve-se quem puder! – E
saiu correndo em direção a um dos botes.
O pai de Eva
que estava muito nervoso, pegou uma pistola e deu alguns tiros para cima, para
que todos se acalmassem. Ele estava com medo de não sobreviver antes de ver
Eva. Quando ganhou a atenção dos outros passageiro disse:
- Mulheres e
crianças primeiro!
O barco que
trazia os passageiros do porto de Santos até Santa Catarina tinha cerca de 150
passageiros, nos botes apenas 100 conseguiram sair do navio, os outros se
jogaram ao mar e tentaram alcançar a costa a nado.
O mar estava
muito revoltado, alguns botes viraram e foram em direções diferentes.
O pai de Eva
nadou para sobreviver e acordou em uma praia deserta, junto com alguns
sobreviventes e também alguns corpos.
- Enquanto isso
no Barracão...
A semana em que
o pai de Eva chegaria chegou, porém não existiam notícias dele. Preocupado, já
que fazia mais de duas semanas que esperavam por Friedrich, Albert pediu para
alguns amigos que eram tropeiros para que procurasse notícias dele na capital.
Tio Albert
encontrou os amigos na hospedaria, alguns tropeiros comentando sobre um barco
chamado Gavião, que teria naufragado em Florianópolis, o barco trazia alguns
alemães, que tinham descido no porto de Santos. Tio Albert ficou ressabiado. A
data batia com o dia previsto para a chegada do cunhado e o nome bem poderia
ser o mesmo.
Ele comentou
com Matilda e a mulher começou a chorar. Eles chamaram Eva.
- Eva, minha
querida. Talvez tenhamos uma notícia um pouco triste para lhe dar. A demora de
seu pai pode ter uma justificativa, um navio provavelmente o dele, naufragou e
há notícias de que muitas pessoas morreram.
Eva chorando
caiu no chão, se afogando em lágrimas, se levantou e correu para seu quarto.
Ceci e Sabú que chegaram naquele instante falaram para tio Albert que iria ter
uma tempestade naquela noite.
Friedrich
estava vivo, vindo para o Barracão, porém estava um pouco perdido, não sabia se
faltava muito para chegar mas acreditava que sim, mas como a tempestade parecia
ser terrível ele tentou encontrar um abrigo até que ela se acalmasse. No meio
da chuva, o pai de Eva avistou que estava sendo observado por umas pessoas
estranhas, com a pele mais morena, que só poderiam ser os nativos, ele tentou
conversar, mas os índios lhe apontavam flechas e ameaçavam dispará-las.
Friedrich saiu
correndo pela mata, correu muito, com os índios em seu encalço, ele era ágil e
correu pelo meio das árvores, mas ele rolou de uma ribanceira, depois da queda
sentiu muita dor na perna e resolveu que
ficaria escondido atrás de uma pedra, pois achava que aqueles índios
tinham cara de poucos amigos.
Ele colocou a
mão por dentro do casaco e encontrou a pistola, a mesma que usou no navio para
chamar a atenção do povo, mas ele não queria usá-la contra aqueles índios, que
estavam apenas defendendo o seu território.
Fazia frio
naquela noite, a chuva caia forte e a perna de Friedrich estava sangrando.
Quando ele percebeu que não havia sinal dos índios ele teve a ideia de usar a
arma para chamar a atenção de alguém que tivesse passando, pois acreditava
estar perto do Barracão e uns tiros poderiam chamar a atenção de alguém. Ele
atirou, esperou algum tempo, atirou novamente e estava disposto a fazer isso
até suas balas acabarem, por mais que isso também pudesse chamar a atenção dos
índios.
Eva que ainda
estava acordada ouviu um barulho de tiro, ela imaginou que ninguém estaria
caçando naquela chuva e correu para avisar seu tio. Ele também achou que
ninguém estaria caçando e resolveu verificar o que poderia ser. Então Eva,
pegou Artigas e saiu em disparada, enquanto seu tio pegava também um cavalo.
Eles cavalgavam seguindo os barulhos de tiros até que o barulho ficou muito
próximo, vindo de trás de uma árvore.
Eva olhou atentamente, e reconheceu, era seu pai, ela nem estava
acreditando. O seu abraço era o maior do mundo e dentro dele parecia que nada
de ruim pudesse acontecer! Eva chorava e seu pai também.
- O que
aconteceu? – Perguntou Eva.
- Minha viagem
foi um tanto quanto tumultuada, meu barco naufragou, perdi meus pertence, vim
sozinho para o Barracão pegando algumas caronas ou caminhando, fui atacado por
índios, mas por fim cheguei até aqui. Que saudades de você meu amor! – Ele diz
pegando Eva no colo.
Eles vão para
casa.
Em casa ele conversou
com a filha e disse que tinha planos para voltarem para Alemanha e retomarem
sua vida por lá. Eva o observou meio sem entender e sem saber se era isso
realmente que ela queria.
De repente ela
acordou: Estava toda suada e um pouco desnorteada. Ainda não sabendo o que
responder ao pai, não se dando conta de que nada daquilo era real.
Ela refletiu e
percebeu que amava viver no Barracão e também ficou muito feliz, pois agora
tinha uma lembrança recente do abraço de seu pai, mesmo que tenha sido apenas
em um sonho.
[1] O texto é baseado no texto produzido pela Raíssa Dias
Popenga que tinha como título: ”O imprevisto do Navio” nas aulas do projeto “As
Aventuras de Eva Schneider” aplicado aos alunos das séries iniciais no ano de
2016 na
Escola de Educação Básica Silva Jardim pela professora: Carol Pereira.
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