Conversando com Julita Andersen Hinckel conhecemos
um pouco sobre como era a vida na antiga comunidade da Barra da Jararaca, hoje Arnópolis. Ela falou sobre as dificuldades, mas também relembrou com saudades da época em que nos finais de semana todos se reuniam para torneios de peteca.
Dona Julita nasceu na Barra da Jararaca e tem uma
árvore genealógica bastante miscigenada: “Meu avô materno veio da Itália,
a avó materna da Argentina, apenas minhas avó paterna nasceu no Brasil, pois
meu avô paterno veio da Dinamarca”. Foi em meio a essa diversidade de culturas que ela cresceu. Conta que sempre foi uma aluna dedicada e que após terminar a quarta série – só existia ensino primário na região naquele tempo – ela chorou muito e então dona Petrônia, sua madrinha e professora na época a deixou continuar frequentando as aulas como ajudante, e isso fez até os 14 anos.
Falou também como era a comunidade, ressaltou a
beleza da pracinha e nos disse que na vila havia mais de trinta casas. Ela nos conta que para vir da Barra da Jararaca até o Barracão eram
necessárias 3 horas para vir e outras 3 horas para voltar: “Para vir até
o Barracão ia um dia”; Geralmente realizavam o trajeto com suas charretes
ou aranhas, quando chegavam até o Barracão os cavalos eram soltos para
descansar em um pasto que ficava ao lado do colégio.
Todas as roupas eram lavadas no rio. Como sua mãe era
proprietária de um dormitório (hospedaria) todos os dias as irmãs e ela tinham
muitas roupas de cama para lavar, em sua maioria brancas. Elas precisavam levar até mesmo um tacho para ferver as roupas para as deixar branquinhas: “As
roupas eram lavadas no rio, naquela época não existia máquina de lavar, nem luz
a gente tinha”.
Não havia muitas formas de lazer naquele tempo. Segundo Julita, além das domingueiras, nos finais de semana as crianças e os jovens se reuniam para jogar peteca: “a gente fazia até torneio”. As famílias se distraíam com os rádios e com as vitrolas, que funcionavam a pilhas.
Um dos lugares mais importantes da Barra da Jararaca era uma casa imponente de dois andares onde funcionava a Colonizadora Catarinense S.A: “Lá existia até telefone”.
O primeiro morador a possuir um automóvel foi um dos funcionários da Colonizadora e o veículo motorizado chamava a atenção de todos.
O primeiro morador a possuir um automóvel foi um dos funcionários da Colonizadora e o veículo motorizado chamava a atenção de todos.
Dona Julita sente muitas saudades das alegrias que viveu naquele lugar, porém ressalta que a vida era muito difícil e lamenta não ter tido a oportunidade de estudar e fazer uma faculdade. Para completar seus estudos, seu filho mais velho, nascido e crescido na comunidade, precisava ir diariamente até o centro do Barracão de ônibus. O transporte sempre foi pago com os próprios recursos: “Hoje em dia é tudo muito mais fácil, o transporte passa na frente das casas, vocês devem aproveitar”.
Os relatos de Dona Julita e suas fotos nos deram uma maior noção sobre aquela importante e desenvolvida comunidade que já deixou de existir há décadas, mas que ainda continua viva na memória de seus antigos moradores.
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