Cristina Huntemann Mess, 80 anos,
é muito bem humorada e é a proprietária de uma jóia incrustada no meio de todo
o verde da região do Rio Engano.
Filha de imigrantes holandeses
(Van Bommel) e Alemães (Huntemann) ela vive em um casarão com mais de um século
de existência. A casa foi erguida por seu pai, que veio de Santo Amaro em busca
de uma região menos quente para viver. A fazenda além da imponente casa, no
mais alto estilo enxaimel, em alvenaria e com um amplo sótão, ainda tinha uma
atafona usada para produzir farinha de milho e um engenho para
produzir melado
e açúcar. O engenho ainda funciona e o visitamos, guiados por Nilton, seu
filho.
Dona Cristina nos falou sobre seu
tempo de escola, recordando com saudade da professora Iracema Garcia Cardoso,
carinhosamente chamada de Santinha por seus alunos. A escola era a única da
região naquela época – décadas de 20 e 30 – e atendia a alunos de toda a
redondeza – Limeira, Chapadão, Invernadinha, etc – e ficava em uma casa que
também foi destruída em consequência da construção da barragem de Ituporanga: “A escola ficava próximo a igreja e quando
tínhamos que fazer nossas necessidades tínhamos que ir até a encosta do rio
pois na escola na tínhamos banheiro”; diz Dona
Cristina lembrando das
dificuldades encontradas naquela época para estudar. Além disso ela tinha que
percorrer um caminhão de mais de 4 km de ida e de mais 4 km de volta todos os
dias, trajeto este muitas vezes feito no lombo de um cavalo.
Dona Cristina nos mostrou uma
foto com mais de sete décadas de existência, do ano de 1936, em que está
retratada sua saudosa turma de aula, a professora Santinha e a antiga escola. Cheia
de emoção recordou o nome de muitos de seus colegas e relembrou o grande
respeito que todos os alunos tinham pela professora: “Ela batia com a régua na mesa e todo mundo já ficava quietinho, ela
nunca precisou usar a régua em ninguém, mas tinha permissão de nossos pais para
fazer uso, se fosse preciso”.
Conhecemos uma lousa, usada pelos
irmãos mais velhos de Dona Cristina na escola: “Antes não existia papel pra usar na escola, eles usavam essa lousa,
copiavam, resolviam, a professora corrigia e eles apagavam para poder usar
novamente.” Como ela não chegou a usar a lousa nos mostrou o que usava para
escrever, uma caneta tinteiro, que era manuseada com muito gosto. Ela nos
contou sobre o quanto gostava de nas aulas de português aprender a escrever
cartas.
Além da impressionante
arquitetura da casa, no interior dela ainda encontramos dezenas de utensílios
antiguíssimos, conservados com o maior zelo por sua cuidadosa dona, que chamam
a atenção não apenas por sua beleza, mas também pela origem. Entre esses
objetivos há um relógio de parede - daqueles que funcionam a corda - que foi
produzidos no ano de 1878 em New York, um quadro com a frase “Unser taglich Brot, Gib Uns Heute” - Nosso
pão de cada dia, dá-nos hoje, traduzido por nossa anfitriã, que aprendeu a
falar fluentemente alemão com seus pais - ou um recipiente utilizado para
armazenar água, trazido da Holanda por seus avós com a seguinte frase escrita –
“Wynandfockink Amsterdam” – Alguém
sabe o que significa? Além disso, ainda
existem diversas outras antiguidades na casa, como por exemplo: um berço de
madeira onde todos os irmãos de Dona Cristina, ela e também todos os seus
filhos dormiram quando bebês e o um sótão repleto de louças e móveis antigos.
Apesar de todas as dificuldades
que Dona Cristina enfrentou ao longo da vida, tendo ficado viúva aos 40“Somos igual a uma
máquina, se a gente ficar parado enferrujamos”.
anos e com 8 filhos em casa para criar, ela permanece uma fortaleza, esbanjando energia e bom humos: Entre fotos, boas risadas e muitas histórias, concluímos nossa visita até a propriedade de Dona Cristina, mas não sem antes provarmos de uma deliciosa bolacha caseira, feita especialmente para ser servida para nós.
Foi maravilhoso conhecer essa mulher, forte, dinâmica e plenamente co nsciente de que um povo sem passado não tem futuro, que toma como base as experiências que já presenciou para construir um amanhã melhor, que transformou os seus 80 anos em sabedoria e vive uma vida simples, recheada de boas lembranças e cheia de amor.
7 Comentários
Carol, de uma olhada no link abaixo.
ResponderExcluirAparentemente Winand focking é o nome de uma destilaria de licores em Amsterdan. O que significaria que originalmente o recipiente continha água que passarinho não bebe. Hehe
Mauricio M Muniz
http://www.wynand-fockink.nl/en/menu1-en/home-en
Já fui algumas vezes na casa da dona Cristina e realmente ela esbanja otimismo e sabedoria, sem contar que o lugar é lindo e a casa uma relíquia da região.
ResponderExcluirEla é minha tia muito simpática , forte e consciente de tudo sempre humilde
ExcluirÉ o orgulho de toda a família Mees!
ResponderExcluirTe amamos vó!
Carol, eu vi uma garrafa dessa no sertão do Rio Grande do Norte numa cidadezinha chamada Triunfo Potiguar.
ResponderExcluirEssa garrafa pertencia a minha bisavó, porém eu a nunca conheci e a história dessa garrafa é um grande mistério.
Além da frase "Winand focking Amisterdam" continha também o número "4".
se souber de mais alguma coisa sobre a história desta garrafa ficarei muito grato.
Fabrício Eliabe
Carol, eu vi uma garrafa dessa no sertão do Rio Grande do Norte numa cidadezinha chamada Triunfo Potiguar.
ResponderExcluirEssa garrafa pertencia a minha bisavó, porém eu a nunca conheci e a história dessa garrafa é um grande mistério.
Além da frase "Winand focking Amisterdam" continha também o número "4".
se souber de mais alguma coisa sobre a história desta garrafa ficarei muito grato.
Fabrício Eliabe
Minha mãe é 5ª da esquerda para direita - Odete Hinckel Muniz.
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