Minha vida pode ser dividida em ANTES
e DEPOIS dessa viagem.
Paula Toller anunciou que
gravaria o seu DVD em Porto Alegre e o furor tomou conta de todos os seus fãs.
Como perderíamos isso? Jamais. Então fiz das tripas coração, vendi uma rifa do
ônibus, que eu jamais venderia (verdade seja dita, tenho que agradecer a
Luciana, pois na quem vendeu a rifa praticamente inteira foi ela) pra juntar o
dinheiro e no sufoco poder ir viajar. Eu não conhecia ninguém pessoalmente e a
pessoa que eu tinha mais contado era a Mila, que estava vindo de São Paulo,
junto com Vanessa, que estava vindo do Rio. Além delas tinha uma tal de Raíssa,
que viria de uma cidade de Minas, aquela lá de onde o pai da Glória Pires na
escolinha do professor Raimundo sempre falava que era, Barbacena. O Luciano iria
de Tubarão e eu ficaria na casa da tia dele. Também estaria lá a Aline, aquela
baixinha de óculos maldita que tinha ganhado a promoção do show da Paula Toller
em Porto Alegre, e a Paula, uma abusada que tinha o olho maravilhoso e que fez
durante muito tempo eu ter ciúmes dela por causa do Rafael.
Nesta época eu era super sem
dinheiro. Morava em Lages, porque minha faculdade ficava lá, então de ônibus eu
embarquei nessa aventura. Lembro que quando estava saindo da rodoviária liguei
para a tal de Aline pra confirmar se elas me buscariam na rodoviária, liguei pra
casa dela e minha voz quase não saiu. Eu odeio falar ao telefone, ainda mais
com quem mal conheço. Eu havia colocado um monte de roupa, pra não passar frio
durante a viagem e só porque comigo as coisas tem que ser difíceis, o motorista
ligou o ar quente, quase sapequei dentro daquela calça de lã. Além disso, fui
sentada do lado de um cara que dormia com a boca aberta e caia por cima de mim,
ele era grande e quase ocupava metade do meu banco. Durante a viajem não pude
ir ao banheiro, porque quando ele dormiu ficou impossível sair de onde eu
estava. Pra completar, antes dele finalmente dormir, ele tentou me seduzir com
seu papo de construtor civil, pelo menos era engraçado pensar da onde ele
achava que falando aquelas coisas eu teria vontade de sei lá, ficar com ele.
Enfim, seis horas depois cheguei a Capital Gaúcha.
Quando desci do ônibus a
rodoviária parecia imensa e eu estava morrendo de medo de me esquecerem lá,
acho que esperei uns 40 minutos até elas estabelecerem contato, eu disse mais
ou menos onde eu estava e por fim me encontraram. Assim que nos vimos, eu e
Mila nos abraçamos e um abraço digno de encontro de filme. Afinal de contas, já
nos conhecíamos a anos pela internet, eu naquela época tinha uma relação
bastante próxima com a Mila e acho que ambas já tinham idealizado aquele
encontro centenas de vezes. A Mila foi a minha primeira amiga virtual e no início
de nossa amizade falávamos pelo telefone quase todos os dias, ela me esperava
voltar da faculdade, que era por volta da meia noite, para conversarmos no MSN,
éramos como unha e carne. Eu adorava aquela guriazinha e ter finalmente a
oportunidade de conhecê-la, parecia um sonho. No momento em que nos abraçamos a
Raíssa tirou uma foto. A foto do nosso primeiro abraço. Se um dia eu tiver um
álbum da minha vida, certamente esta foto se fará presente nele.
Após o momento cinematográfico
chegou a hora das apresentações, eu não conhecia ninguém e mal tinha contato
por internet com muitas daquelas pessoas. Lembro que no momento da apresentação
eu não entendi os nomes direito e pareceu que eu tinha ouvido duas vezes o nome
Vanessa, como aquilo não podia ser normal resolvi que não chamaria ninguém de
Vanessa aquele dia. Depois descobri que realmente existiam duas Vanessas, uma
que era a do Rio e a outra era cunhada da Aline. Conheci naquele dia também a
Tia Márcia e Tia Penha, mães respectivamente de Raíssa e de Vanessa (a do Rio).
Saindo da rodoviária, passando em
um feirinha onde a Raíssa comprou luvas, ela estava muito triste por ter
perdido seu celular. Perdeu no ônibus indo pra rodoviária me pegar. No dia me
senti meio culpada, afinal elas foram pra rodoviária por minha causa.
Nesse
momento foi também a primeira vez que ouvi falar no Iago, o irmão dela que
estava na oitava série. =p ela tinha ligado pra casa, pra pedir o numero serial
do aparelho, para que bloqueassem. Depois disso andamos pelo centro. Tiramos
várias fotos em alguns monumentos, não sei bem do que se trata aquele
monumento, mas achei aquele cachorro muito fofo, impossível não tirar fotos com
ele uhahuauha. Entramos na Catedral Metropolitana e eu lembro até os pedidos
que fiz lá. O centro apresenta construções bonitas, imponentes, de classe, é um
lugar muito lindo e encantador. Passamos pelo Mercado Público, Palácio
Piratini, Theatro São Pedro, Igreja Nossa
Senhora das Dores, Casa de Cultura
Mário Quintana, entre outros locais até chegar a delegacia. Mila tinha perdido
as passagens de volta, então Tia Penha, ela e Vanessa tinham que registar um
B.O. Lá descobri que Vanessa fazia doutorado, eu quase não entendi, pois ela
aparentava ser muito novinha.
Depois disso continuamos andando
pelo centro, passamos por mais alguns locais e seguimos para Ipanema. Eu não
sabia que em Porto Alegre tinha um bairro com esse nome. Achei chique.
Todo mundo estava comentando
sobre as músicas do Osvaldir e Carlos Magrão, Tia Márcia havia se tornado fã,
eu não conhecia nenhuma, mas estava louca pra aprender. Às vezes eu não
entendia um ou outro comentário, porque elas já estavam juntas desde o dia
anterior. Por exemplo: eu não sabia como que a Aline tinha aquele saquinho
cheio de passes e não sabia também porque eu ganhava um, cada vez que entrava
no ônibus, já que eu nem tinha pagado, mas como ela me oferecia, eu pegava.
Chegamos em Ipanema e lá é lindo.
Lembro que o rio estava coberto por um nevoeiro, estava um dia nublado, fechado
e eu precisava urgentemente tirar uma de minhas camadas de roupa, pois a calça
de lã estava começando a coçar. Tiramos muitas fotos com o Guaiba de fundo, e
depois disso tive uma ideia brilhante de subir em uma árvore pra tirar fotos. Fatídico.
Fiquei encalhada na árvore, nem subia, nem conseguia descer. Me vi ali, pagando
o maior mico na frente de pessoas que eu mal conhecia, mas acho que o episódio
da árvore serviu pra quebrar o gelo e depois disso super me enturmei melhor com
o pessoal. Andamos mais um pouco, paramos em um restaurante pra tirarmos um
pouco de roupa. Minha mochila devia estar pesando quase 10 quilos, eu estava
exausta e faminta. Andamos um pouco mais e fui obrigada a perguntar: “Aqui em
Porto Alegre vocês costumam comer?” caímos na risada e resolvemos ir até o
shopping Praia de Belas, para almoçar. Meu prato era de encher os olhos, uma
macarronada linda, e comi com muito gosto, pois a fome era algo que estava a me
tomar. Quase cuspi tudo pra fora o que eu estava comendo quando ouvi uma
palavra que Aline usa como gíria, não sei o que aconteceu que fez a Aline
proferir a palavra BUCETA. Eu não sabia bem o que fazia, aqui isso é palavrão,
lembro que olhei pra Rá e acho que até fiquei vermelha de vergonha, porém ri muito. huuAUUHAhuAHauhAU
Coca do Lote 23739304232, essa eu
não posso tomar.
Certas vezes eu tomo coca e a reação é eletrizante, e foi isso
o que aconteceu depois que almocei e tomei uma latinha de coca desse lote.
Fiquei possuída, parecia que tinham trocado minhas pilhas e colocado pilhas
alcalinas no lugar das velhas. Eu cantava (mais mais mais mais, sempre mais mais mais mais), meu humor estava a mil e parecia que
eu conhecia todas desde a infância. De fato acho que a sintonia de todas era a
mesma, nos relacionamos muito bem, ganhei uma irmã, uma amiga que eu pentelho o
tempo todo, mas que nem consigo explicar o tamanho do amor que sinto por ela,
conheci uma pessoa que admiro demais e que se um dia eu chegar a ter a metade
da inteligência dela serei uma pessoa muito feliz, conheci uma das pessoas que
mais tive vontade de conhecer no mundo, a Mila, e mais tarde a noite conheci Paula,
alguém que merece milhões de parabéns por suas ações. Nasceu nesse dia então as
gurias Mps.
O T7 tremeu quando estávamos voltando pra
casa. Cantamos baba baby e inclusive o vendedor ambulante se retirou do ônibus
ao perceber que competindo pela atenção do público conosco, ele não tinha a
menor chance. Fomos nos arrumar para o show, que na verdade nem seria mais da
gravação. Aline foi cortar o cabelo e eu tomar banho, morri de vergonha da Tia
Ana (mãe da Aline), pois fiquei sozinha com ela, hoje eu a adoro, mas aquele
dia eu não sabia nem onde colocava minhas mãos, estava muito nervosa por conta
da vergonha.
Enquanto estávamos em casa, nos
arrumando, eu era obrigada a entrar em contato com Ricardo. Rita, uma amiga
minha de SP, tinha conseguido um ingresso de graça e eu tinha que falar com o
Ricardo para conseguir pega-lo. Foi um auê, porque eu sou muito burra pra falar
ao telefone com quem não conheço e entrar em contato com ele foi um martírio,
mas no final deu tudo certo, só que meu lugar ficava lááááá longe do palco, na
parte de cima do teatro, as outras meninas estavam todas na primeira fila, e eu
estava lá, quase chorando, na solidão... de repente avistei um pequeno “ser”
fazendo gestos para chamar minha atenção, era a Aline lá de baixo igual a doida me chamando, parecia que tinha sobrado um lugar e eu poderia descer.
Muito
rapidamente sai de onde eu estava e desci as escadas, e era isso mesmo. A moça que se sentaria
naquela lugar tinha sido assaltada e o lugar estava livre, então me vi ali, na
primeira fila, junto com as gurias maravilhosas que eu tinha conhecido pela
manhã, certamente sem a Aline eu jamais teria assistido o show ali de pertinho,
guria fantástica, ligada, além de ser uma ótima guia. O show foi maravilhoso e
pude acompanhar tudo de pertinho e em Fly me to the moon, ao levantarmos para
dar a mão para Paula Toller não percebemos que nossos acentos ficavam
inclinados assim que saiamos de cima deles e na volta não encontramos nada a
não ser o chão, Paula, Mila e eu caímos de bunda no chão do Teatro, até a Paula
Toller riu da gente e achamos lindo ela rir huauhauha.
A princípio, no final do show eu
iria pra casa da tia do Luciano, mas minha mala tinha ficado na casa da Aline e
então apesar de não saber se teria de fato lugar para mim na casa dela, a Aline
me levou e dormimos na sala: Mila, ela e eu. Lembro que a Mila teve que cobrir
todas as luzes dos eletroeletrônicos antes de dormir. Achei graça. Depois de
revivermos todos os momentos do show, dormimos.
06/07 - Ao acordarmos tomamos café e ficamos esperando o táxi com
as outras chegar, iríamos para o aeroporto, lá encontramos também a mãe e o pai
da Paula, que são uns amores, nossa despedida foi cheia de choro, acho que
todas compreendiam a que ligação que iniciamos naquela viagem seria algo que
duraria uma vida. Ficamos ali de bobeira e provavelmente nossa Musa Paula
Toller passou por nós e nem a vimos, depois ficamos sabendo que ela estava no
mesmo avião que a Rá. Puta sortuda a Raíssa, depois Tia Márcia ainda diz que a rabuda
sou eu.
Depois de deixarmos a Rá, ainda
com lágrimas nos olhos, decidimos que iriamos na casa da Paula, para a Vanessa
e a Mila tomarem pela primeira vez chimarrão, a cuia era bastante feia, mas deu
pra elas encararem.
Depois disso fomos conhecer a
redenção... amei aquele parque, lugar lindo, cheio de gente culta lendo,
tomando chimarrão, única coisa que me deixa triste quando vou lá são aqueles
indiozinhos, sério, eu sou chorona e ver eles lá de pé no chão, batendo o
pezinho e cantando me corta o coração, ficamos lá até perto da hora de eu ir
pegar meu ônibus de volta pra Lages.
Durante toda a minha vida vou me
lembrar do dia 5 de julho como um dia especial, dia em que eu conheci pessoas
que sempre vão estar presentes em minha vida. Hoje, escrevendo, percebo que
muito tempo já se passou, muita coisa já mudou, mas nossa amizade só se
fortalece e fica com raízes ainda mais profundas. Porto Alegre me fez muito
alegre nestes dois dias que passei lá e me alegra todos os dias por meio das
pessoas que lá conheci.
1. Quem tirou a foto tua e da Mila fui eu e não a Raíssa, quero os créditos 2. Nunca soube da confusão das Vanessas até hojeeeee, hahahahahahahahaha 3. Os passes mágicos do ônibus HAHAHAHAHAHAHAH nem existe mais vale transporte, credo a gente tá velha. Imagina daqui uns anos contar sobre os VTs, vai todo mundo rir de nós. 4. Me mijo de rir do lance da ~ buceta ~ acho que parei com isso (quem lê pensa que estou falando sobre me tornar hétero hahahaha) 5. "única coisa que me deixa triste quando vou lá são aqueles indiozinhos, sério, eu sou chorona e ver eles lá de pé no chão, batendo o pezinho e cantando me corta o coração," IMAGINA SE FOSSEM ÍNDIOS VELHOS? AUHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHHUAHAHU daí era maltratar o teu de fato :)
6. " Também estaria lá a Aline, aquela baixinha de óculos maldita que tinha ganhado a promoção do show da Paula Toller em Porto Alegre" Ainda bem que esse pré-conceito básico se desfez ainda no primeiro dia né, hahahahaha! Hoje tamo aí pro que der e vier \o/ Não que eu não seja uma baixinha de óculos (não maldita) rabuda pra caralho por ter visto a Paula 3 dias seguidos, hahahahahaha! (Já contei que no último dia ela sabia até meu nome? Oh!)
Ah o mais importante: queria que a Paula Toller pudesse ler isso e entender um pouquinho só o que ela foi capaz de unir.
Carol Pereira nasceu em 1987, em Alfredo Wagner (SC). Apesar de ter encontrado na escrita sua grande paixão, é programadora e professora de formação, mestre em Educação - Mentoring and Leadership in Schools - pela Mary Immaculate College, da Irlanda. Foi vencedora do prêmio Professores do Brasil, organizado pelo Ministério da Educação, em 2013, 2014 e 2017. Finalista do concurso The Ogham Stone, na Irlanda, com seu conto em inglês Cailleach Aoife and the Crows of Ireland. É autora de , _Conhecendo Alfredo Wagner, As aventuras de Eva Schneider – fronteiras entre o amor e a guerra, Limerick e o tempo e As aventuras de Eva Schneider e o livro secreto dos jesuítas e Histórias da Nossa Gente. Atualmente mora no Canadá com seu marido.
1 Comentários
1. Quem tirou a foto tua e da Mila fui eu e não a Raíssa, quero os créditos
ResponderExcluir2. Nunca soube da confusão das Vanessas até hojeeeee, hahahahahahahahaha
3. Os passes mágicos do ônibus HAHAHAHAHAHAHAH nem existe mais vale transporte, credo a gente tá velha. Imagina daqui uns anos contar sobre os VTs, vai todo mundo rir de nós.
4. Me mijo de rir do lance da ~ buceta ~ acho que parei com isso (quem lê pensa que estou falando sobre me tornar hétero hahahaha)
5. "única coisa que me deixa triste quando vou lá são aqueles indiozinhos, sério, eu sou chorona e ver eles lá de pé no chão, batendo o pezinho e cantando me corta o coração," IMAGINA SE FOSSEM ÍNDIOS VELHOS? AUHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHHUAHAHU daí era maltratar o teu de fato :)
6. " Também estaria lá a Aline, aquela baixinha de óculos maldita que tinha ganhado a promoção do show da Paula Toller em Porto Alegre" Ainda bem que esse pré-conceito básico se desfez ainda no primeiro dia né, hahahahaha! Hoje tamo aí pro que der e vier \o/ Não que eu não seja uma baixinha de óculos (não maldita) rabuda pra caralho por ter visto a Paula 3 dias seguidos, hahahahahaha! (Já contei que no último dia ela sabia até meu nome? Oh!)
Ah o mais importante: queria que a Paula Toller pudesse ler isso e entender um pouquinho só o que ela foi capaz de unir.