Sou uma maníaca por viagens. Mas sem
dúvidas o que menos gosto são as horas perdidas em aeroportos, rodoviárias e
afins. Acho que se perde muito tempo nesses locais, mas como isso acaba sendo
inevitável eu tento tirar o melhor proveito disso tudo.
Já passei horas no Hercílio Luz –
aeroporto de Florianópolis – e tenho histórias memoráveis sob aquele teto.
Certa vez conheci uma senhora que morava
em aeroportos, isso mesmo, bem no estilo de Viktor Navorski – Tom Hanks, no filme The Terminal. A senhora
passa a vida pregando a palavra de Deus pelos aeroportos do Brasil – aos berros
diga-se de passagem – e durante essa “pregação” ela mora nos aeroportos. A
senhora já deve ter cerca de 70 anos, e acorda cedinho para cumprir sua missão.
Confesso que na ocasião em que a encontrei fiquei com vontade de sentar perto
dela, na esperança de que ela me oferecesse um pedaço de seu cobertor, já que naquela
noite seríamos companheiras de hospedagem, pois eu também dormiria por ali.
Nas
madrugadas pelo Hercílio Luz, sempre busco refúgio na Casa do Pão de Queijo.
Além de sempre me espantar com o preço do sanduiche – e mesmo assim comer, pois
é uma das poucas opções para lanches durante a madrugada – eu ainda posso
matar tempo, me envolvendo com a vida dos empregados, que aproveitando o baixo
movimento colocam o papo em dia. É de morrer de rir, já ouvi desde dicas para
conquistas até escolha de repertório para cantar na igreja. Uma vez eu tive que
me segurar pra não dar “pitaco” e falar para o moço desistir da tal guria do
Ribeirão e partir para outra.
Minhas experiências em aeroportos vão
além do Hercílio Luz. Já passei algumas noites desconfortáveis nos aeroportos
do Rio, e é incrível como nesses momentos perde-se qualquer frescura. Quando o
cansaço bate deita-se no chão, dorme-se de boca aberta e até mesmo um grupo de
pessoas cabeludas e mal cheirosas se transformam em segurança, para que perto
delas possamos nos acomodar e junto de nossas bagagens passar a noite.
Vários sentimentos tomam conta de nossos
corpos nesses espaços; ás vezes estamos ansiosos por pousar em um destino que
tanto esperamos, outras vezes comovidos com a mãe que tem um inglês pior que o
seu e está implorando por ajuda para preencher a papelada da imigração,
enquanto o filho, bebê de colo veste apenas uma roupa super fina e está prestes
a sair da calefação e enfrentar um frio de 10 graus negativos. Outras vezes o
sentimento é de vergonha, ou porque você está com a meia amarela que ganhou de
sua avó em um feriado e tem que tirar o sapato para passar pela máquina de raio-x
e todo mundo na fila – menos você – faz o estilo de quem passa finais de semana
em NY fazendo compras. O sentimento é de vergonha também quando o avião está
apenas esperando você para partir, as comissárias de bordo estão querendo comer
seu fígado e você consegue cair duas vezes na subida da escada que leva até a
aeronave, ou quando pegou um super engarrafamento na ponte Rio- Niterói causado
por um acidente e a moça do guichê entende que o acidente tinha sido com você e
todos ficam muito preocupados e complacentes e você usando seu lado ardiloso
não desmente, tirando proveito da situação. Existe também a euforia de quando a recepção
de seu voo é feita por um grupo de dançarinos de frevo e em segundos você já
está contagiado pelo clima de alegria da cidade.
Aeroportos
são a maior mistura, na mesma sala você encontra mulheres elegantes, ricas e
cheirosas que estão indo passar o reveillon em Paris e também o senhor que
juntou todas as economias para visitar a mãe que está doente e vive no interior
de Pernambuco mas recebeu um telefonema já na sala de embarque dizendo que a
mãe não conseguiu esperar por sua chegada.
Aeroportos
são chegadas e partidas, despedidas e reencontros. São os portais para o novo
mundo prontinho para ser desvendado por viajantes aventureiros. Apesar de eu
gostar deles, não consigo ficar longe desses portais.
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