Dois meses na Irlanda

Hoje estamos completando dois meses longe de casa. Dois meses aqui na Irlanda.

Eu estou cada dia mais apaixonada por esse lugar e convencida de que eu vivi uma de minhas outras vidas nesse país. Estou encantada pelo Shannon, – principalmente quando o sol pinta suas águas de dourado em alguns finais de tarde – apaixonada pelas pessoas e por toda a cultura com a qual tenho contato aqui em Limerick. Falando em Limerick, quando não estou aqui, sempre falo orgulhosa para quem pergunta que ela é a minha cidade.

Mas se for para falar de cidade, não tem como eu não citar Alfredo Wagner e toda a saudade que eu sinto constantemente dela e de todo mundo que deixei lá. Cada vez que falo com a minha vó, minha saudade atinge níveis exorbitantes e sempre quando me despeço dela, choro. E ela, não desliga o celular sem antes falar para alguém que está ao seu lado “Oh, está chorando de novo!”, sim, ela é uma buciquinha. A saudade parece que já não cabe mais dentro de mim, saudade da minha mãe, dos meus irmãos, de todos os meus amigos...

Apesar de amar Limerick e amar tudo que estou vivendo, já me perguntei várias vezes: O que eu estou fazendo aqui? É claro que eu tenho a resposta para essa pergunta e consigo respondê-la sem titubear, mas é inevitável que vez ou outra eu pense nisso. Eu estou vivendo uma vida completamente diferente da que eu vivia em Alfredo. Não é só o local, não é só não ter as minhas coisas, o conforto da minha casa. São todas pessoas com as quais eu convivo e nunca tinha visto antes na vida, são os costumes e o idioma. Eu era alguém no Brasil,  conseguia me expressar, falar de meus sentimentos, contar minhas histórias e interagir, o que aqui, algumas vezes, ainda é muito complicado. Estar aqui sem dúvidas é um grande desafio; meus stories não mostram isso, mas eu geralmente vou para a universidade às 08:00h da manhã e volto para casa por volta das 19:00h. Estou fazendo o meu melhor e talvez quando eu escrever meu texto sobre o terceiro mês aqui, essa realidade já tenha mudado. Eu sei que meu inglês já evoluiu muito e também sei da longa caminhada que tenho pela frente, não vou desanimar.

Começamos nossas aulas da pós e elas são espetaculares. É muito bom estar em um local onde a educação é valorizada e os professores sabem da sua responsabilidade na vida de seus alunos. Já tivemos muitas aulas maravilhosas e que reforçam o que a gente já sabe, a importância de nossa profissão. E se é para falar de professores a 6th grade continua tendo a melhor professora do mundo, é sempre um prazer aprender com alguém tão espetacular quando ela. (L)

Tenho tido pouco tempo para falar com meus amigos e sei que estou devendo muitos updates, mas se eu fosse resumir esses dois meses em um parágrafo diria que: já emagreci quase 3kg e estou bem feliz quanto a isso; não irei para casa no final do ano e cada vez que penso nisso tenho vontade de chorar; minha cerveja preferida agora é a Hop House; estou comendo bem, menos pão, graças a Deus... não por ter aprendido a cozinhar, mas por ter a Graci em minha vida; já saí com a Raquel e ouvimos a mesma história, mas  entendemos coisas completamente diferentes; tenho uma mãe aqui e ela além de me dar carinho ainda me ensina inglês todo dia, tanto o carinho quanto as aulas são muito importantes para mim; Dolans continua sendo meu pub favorito; comecei a escrever uma série de contos que provavelmente se chamarão “As lendas não contadas da Irlanda”; já fiz alguns bons amigos de outras nacionalidades; estou jogando futsal e talvez jogue futebol gaélico – mesmo morrendo de medo de quebrar alguma parte do meu corpo; dentro da minha universidade tem um igreja e o padre é uma das figuras mais cativantes do campus; todo mês a gente faz uma janta aqui no Courbrack e é sempre muito divertido; tem dias que eu ando mais de 12km e eu estou literalmente gastando a sola da minha bota; o meu cabelo sempre está bagunçado devido à combinação de chuva e vento; a Holly é muito responsável por amarmos tanto Limerick, pois ela sempre tem as melhores dicas ou nos apresenta os melhores lugares; eu moro em um local com quase 100 pessoas, a maioria delas adolescentes; amanhã o furacão Lorenzo vai passar aqui pela Irlanda e eu espero sobreviver; eu definitivamente não gosto tanto de Guinness; eu realmente amo toda a minha família aqui da Irlanda e graças a eles viver aqui é mais fácil.

Apesar de em alguns dias – principalmente na TPM – eu me perguntar o que estou fazendo aqui, eu sei que a resposta está em todos os sorrisos que dou quando me pego pensando nessa grande oportunidade que a vida me deu. Tenho certeza de que viver essa experiência já mudou a minha vida.