Diário de bordo - Eurotrip - Dia 8 - Londres - Felicidade é inconcebível sem um bode violinista


Se você ficou confuso por causa da frase do título, ainda não deve ter assistido o filme “Um lugar chamado Notting Hill”. O filme  britânico de 1999 conta a história de Will que é dono de uma livraria especializada em guias de viagem, e recebe a inesperada visita de uma cliente muito especial, a estrela de cinema estadunidense Anna Scott. Dois ou três encontros mais tarde, Will e Anna iniciam um relacionamento terno, engraçado e cheio de idas e vindas. O filme é um dos meus favoritos na vida, não tinha como eu ir em Londres e não aproveitar para conhecer o local que aparece em muitas das cenas, Notting Hill.

Fomos em um sábado e nesse dia acontecia a Portobello Market, uma das feiras de rua mais famosas do mundo. Ao longo da rua, encontram-se brechós, restaurantes, barraquinhas de bugigangas, lojas de antiguidades e milhares de turistas. Fomos seguindo o fluxo e admirando a arquitetura do bairro. Passando pela frente da “Notting Hill Book Travel”, que no filme era a livraria do Will e também indo até a famosa porta de casa azul, onde Anna Scott dá aquele primeiro beijo em Will. Sim, tirei muitas fotos e andei pela rua cantando mentalmente “She” e muito, mais muito a “How Can You mend A Broken Heart”, aquela música que toca enquanto Will passa pela feira e o tempo vai passando.

Outro fato peculiar... quando a gente assiste ao filme não acha que existem mesmo pessoas tão bizarras quando o Spike e a própria Honey, mas lá, bem na esquina da casa do Will, vi um cara que dava de 10 a zero no Spike no quesito bizarrice e fiquei com aquela porcaria de música ridícula na cabeça: “Im rich and famous”.
Lá mesmo comemos um hambúrguer italiano delicioso e nós entregamos mais uma vez as compras. A verdade é que queríamos comprar um chapéu tipo o do Joye, bem turista, mas não conseguimos, então para não sair de mãos abanando compramos uns moletons escrito London e saímos os 3, como se estivéssemos com uniforme de excursão. Sim, era essa a intenção, escrever em nossa cara que éramos turistas. London, Baby!

Foi lá que vi uma daquelas plaquinhas dizendo quem morava na casa, que já comentei em outro relato do diário de bordo... De quem? De quem? George Orwell, um escritor genial. Fiquei lá, querendo ser contaminada pela criatividade dele.

                Saindo dali fomos até a primax e no caminho tiramos nossa foto com as famosas cabines telefônicas de Londres, pois gostamos também de fotos clichês.
                Não tínhamos muito tempo, eu até queria ir ao Big Ben, para vê-lo pela última vez antes de deixar a capital britânica, mas fiquei com medo de me atrasar, me perder, ou acontecer alguma coisa e eu acabar perdendo o ônibus para Paris. Então após as compras, passamos em um mercado, compramos algo para comer – para variar o meu estava cheio de pimenta – e saímos com nossas 300 malas, pelas ruas de Londres.

                No caminho, passamos pelo meio de uma briga, entre um mendigo e um outro cara. Uma das minhas malas trancou em um buraco e quase entrei no meio do fueiro. Alvarino gritava “saia dai” e eu tentando sair, mas não conseguindo. Nesse trajeto desenfreado a sola da minha bota descolou. Hilário eu tentando arrastar as malas, fugir dos drogados, tudo isso com a sola da bota pendurada.

A viagem de Londres para Paris, de ônibus foi bem tranquila. Tirando a parte de que do meu lado sentou um garoto que provavelmente estava lutando para conquistar o recorde mundial de dias sem tomar banho. Sério, ele fedia muito. Sovaco, chulé e outros cheiros horríveis. Ele vinha lendo com muito afinco, um livro grossão. Banho é mesmo uma questão cultural por lá.
                A catinga era tanta que eu não conseguia dormir e com isso acabei dando um baita susto na Bárbara – sem querer – quando ela foi ao banheiro. Riu muito até hoje, quando ela bradou dentro do ônibus, no bom e velho português alajeanado “Huuuuuuuuuuuuu guria do diabo” huauha.

                Antes de pegarmos a balsa para atravessarmos o canal da mancha, passamos pela imigração. O sotaque do motorista – diga-se de passagem, muito, mas muito grosseiro – era imenso, ele falava francês e o inglês dele continuava parecendo a língua de Napoleão, gente não conseguiu entender, mas ele disse algo como: “Fiquem atentos para ver se as malas de vocês são escolhidas para a revista”. Eu percebi que todo mundo estava olhando pela janela então também fui olhar, e lá vi minha mala, selecionada. Pensando que o sotaque de todos poderia ser parecido com o motorista eu chamei a Bárbara e o Alvarino para irem comigo, mas, ao chegarmos lá, as três malas selecionadas eram as nossas. Deu um friozinho na barriga - mais pelo medo de mexerem em minhas roupas sujas do que, de encontrarem algo ilegal – mas deu tudo certo. Alvarino foi mais revistado, pois a máquina apitou quando ele passou por ela com uma chave no bolso. Fomos liberados.

                Já na balsa cruzamos o canal da mancha. A balsa era bem legal, com sala de jogos, cassino, bar entre outras coisas que não vimos, pois, inicialmente caminhar com a balsa em movimento não se mostrou algo fácil. Tínhamos algumas libras ainda e resolvemos comprar um chopp, mas, mais uma vez o inglês com sotaque francês nos pregou uma peça e acabamos voltando para a nossa mesa com uma cerveja preta. Riamos, putos com nós mesmos. Ora, cerveja preta? Cerveja preta é bom para dar leite, não para gastar nossas últimas librinhas.

                A cidade do lado francês onde a balsa para é Pas-de-Calais. Quem gosta das histórias da Segunda Guerra, deve lembrar que a cidade de Pas-de-Calais e o papel que ela teve para o “golpe” dado nos nazis. Para confundir os alemães, criaram a Operação Fortitude, que consistia num falso desembarque em Pas-de-Calais, "comandado" pelo general Patton, foram criados barcos e tanques falsos de madeira, plástico ou lona a leste da Inglaterra para confundir aviões espiões alemães. Idosos reservistas ficavam o dia inteiro enviando mensagens falsas via rádio entre si. Hitler estava muito confiante de que o desembarque seria em Pas-de-Calais, por causa de seu espião Garbo que lhe forneceu informações falsas, já que era um agente duplo a serviço da Inglaterra. Rommel, renomado general alemão, acreditava que o desembarque seria na Normandia, mas como recebeu ordens de Hitler, não pode desobedecer, e teve que ir para Pas-de-Calais. Graças à Operação Fortitude, duas semanas após o desembarque, os alemães ainda esperavam o desembarque em Pas-de-Calais. Ou seja, os nazistas foram feitos de bobo e perderam a guerra. Beijos.

                Deixei Londres com a sensação de que vi pouca coisa, e de fato faltou muito para vermos. No início estávamos muito cansados e abalados, isso somado ao fuso, as poucas horas de sol disponíveis durante os dias e nossos erros de principiante na Europa, fizeram com que a gente perdesse algum tempo e a oportunidade de conhecer mais coisas. Fica para a próxima.
                Já sonho como minha próxima visita a Londres. A cidade conquistou nosso coração. É linda, organizada e cheia de cultura. Meu coração se enche de amor ao lembrar alguns momentos do que vivemos lá. Já sinto muita saudade.

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