Quem não quer conhecer outra cultura, uma história
vasta e de quebra o mar do Caribe? Todo mundo quer e esse meu sonho estava se tornando
realidade, mas a febre amarela me atingiu novamente.
Quem lê meu blog sabe do perrengue que passei em
2016, quando em um mochilão pela América do Sul sofri os efeitos colaterais da
vacina contra a febre amarela. Deixei para tomar a vacina na última hora e
sofri demais por isso, perdi 7kg – bem que eu queria perder isso hoje – e quase
empatei minha viagem.
Pois bem, raios caem duas vezes no mesmo lugar e
febre amarela pode cair como um raio na vida de uma pessoa, também por duas
vezes.
Estava eu contente, com viagem toda preparada para
Cartagena, fui a São Paulo pegar um avião da Copa Airlines, até meu destino,
com uma escala na Cidade do Panamá – onde está situado o aeroporto conhecido
como o hub das américas, por distribuir os viajantes ao seus destinos. Ao
chegar ao guichê, eis que o pesadelo começa.
Minha carteirinha de vacinação da febre amarela – a
mesma com qual já entrei em vários países – não foi aceita e a moça da copa me
disse que eu deveria esperar até “amanhã’ (16/11) para fazer a nova carteirinha
na Anvisa do aeroporto, pois naquele dia por ser feriado o local estava
fechado, mas que ela estava remarcando minha viagem para o dia seguinte e então
daria tempo de eu fazer a carteirinha e pegar o primeiro avião com destino a
felicidade.
Já entrei em desespero, isso significaria um dia
inteiro vagando sem rumo pelo aeroporto, mais uma vez me sentindo o
protagonista do filme “O terminal”, e já muito frustrada, por estar trocando um
dia de sol do caribe por cadeiras desconfortáveis de um aeroporto.
Do mal de virar o “Viktor Navorski” fui salva por
Rita, uma é amiga que me chamou para ir até a casa dela, que fica próxima ao
aero.
A Rita é uma grande amiga, daquelas dos tempos da
Carol Toller, do Kid Abelha, parceira de inúmeras viagens, em especial uma para
o Rio em 2009, que corremos por dentro dos tuneis que ligam Copa a Botafogo,
roubando banners e aquela minha primeira viagem internacional, para Buenos
Aires, onde eu tinha vergonha até de comprar um refrigerante em um bar. Então
seria injusto falar que foi um dia inútil, pois muito pelo contrário, foi um
dia divertidíssimo, onde rimos muito, comemos muito e ouvimos e assistimos
muito Kid Abelha. A empolgação e o papo eram tanto, que deixamos passar batido
um show de nossa “musa mor”, que estava rolando por lá, lembrando apenas pouco
antes, impossibilitando nossa ida. A noite ainda pude ver pela TV o Corinthians
ser campeão brasileiro e ouvir a festa dos manos.
No dia seguinte me despedi de Rita e segui,
novamente com as malas cheias de esperanças para Guarulhos. AGORA EU VOU EMBARCAR.
Fui até a Anvisa, peguei a maldita carteirinha e segui para a fila do check-in,
pronta para romper fronteiras e escrever muitas legendas com a aquela música da
Shakira, “Hips Don't Lie”, “Como se llama (si), Bonita (si), Mi casa (Shakira
Shakira), su casa… “. Não deu.
Se agora eu tinha a famigerada carteirinha, não
tinha mais vaga no voo. O hub estava sem portas. A moça do dia anterior não
remarcou minha passagem, simplesmente deixou ela em aberto, para quando tivesse
vaga e... não tinha mais, pelo menos não pela próxima semana. Eu não era a única nessa
situação, éramos muitos, todos desesperados, vendo o sonho virar pesadelo. Tentei
argumentar, chorei, fui meiga e por fim fui grosseira, com a aparente falta de
interesse em me ajudarem. Para resumir, se eu pagasse 4.000 reais eu poderia
embarcar – fala sério, com esse dinheiro vou pra Europa. A única solução era
voltar para casa.
No meio de toda essa confusão fiz uma amiga – sim,
eu sou a Carol e faço amigos – que estava em uma situação parecida com a minha,
pagou 1.200 reais e iria chegar ao seu destino. Ela também é professora e
então, dei um livro da Eva para ela, com a seguinte dedicatória: “Já que eu não
posso ir para Cartagena, leve Eva junto com você”!
Ainda tive mais alguns transtornos. Não consegui
trocar minha passagem de volta, que seria dia 22/11, tive que comprar outra e
esperar até as 21:40. Fiquei lá, mofando no aeroporto, penas com Rita Lee sendo
minha companheira, pelas páginas de sua autobiografia maravilhosa. Embarquei no
avião com o rabinho entre as pernas e o coração em frangalhos. Me senti muito
impotente, muito frustrada e desanimada. Era um misto de tristeza, um pouco de
culpa e desespero. Monica e Monique me abrigaram em Floripa, antes de eu pegar a 282 para casa, sem carimbos e com a mala cheia de decepção.
A febre amarela me vitimou pela segunda vez, e mais
uma vez com minha parcela de culpa.
Agora tenho que esperar até março, para passar essa
história a limpo.
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