"Carta do Alemoun"



A carta representa um pouco da saga de muitos imigrantes alemães que, vindo para o Brasil, viveram grandes aventuras e muitas desventuras, até chegar ao querido Barracão, hoje Alfredo Wagner.
A autora Elaine Almeida Rossini teve como inspiração nos relatos orais das famílias Almeida e Schweitzer. 


Carta do alemaum a velha amica Gueda!

Cara amica Gueta:

Saudações, velho amica!
Chegamos ao Brasil
Você pode imaginar:
Muita téra, muito campo
Pra nóis trabalhar e morar.

Chegamos no porto de Santos
E pensemo: famu chunto fica
Mas o Brasil é tom grande
Tifemu que se espalhá.

Nossa famila é tom cumprida
Se espalhou pra todo lato
O cumpadre Joaum e o Hubert
Tampém ficaru separato

Já tinha findo pastante de nóis
Havera de sê pom
Reunimu as força e as vontate
Trazida no coraçón.

Se espalhando nóis fiemu
Em Santa Catarina parar
A Colonizadora achudou
Achando uma téra pra nóis morar.

Mas, felha companheira
Um susto nóis lefemu
Não é que botaru nóis
Num matóm e se perdemu!

Um poco em São Petro de Alcantra
Por lá se estapeleceru
Mas nóis somo agricultor
Boa téra nois merecemu!

Naim! Naim! Nom foi fácil, amica!
Resolveru que nóis ia supi um poco da Sera.
Avisaru: “Tem estrata!
E quem qué se esmera!”

Saímu num crupu grande
Pra sera subi entaum
Tinha de tuto companheira
Muito mato, picho, estrada, nom tinho nom.

 Só tinha uma picada
Aberta para os cavalo passa
Tiz que faziu tropeata
Demorafa pra chega.

Fomo sequinto aquela picada
E toente nóis tuto fiquemo
Cansados e abatidos
Nóis tampém se separemu
um poco fico no meio do caminho
e nóis continuemu.

Passamu necessitate
Mas muita água nós achemu
E nas berata dos rio
Foi que nóis se istalemu.

Mas, felho amiga, perceba
Tota nossa agonia
Até com uns pugre
Nóis topava noite e día.

Os pugre nos rodeava
Pra nóis ali non ficá
Queimavam nossas casa
Queriam nos espantá
Mas chunto nois lutemu
Pra pode morá e plantá.

A sorte é que nossas mulhé...
Alemon é pichu de sorte!
As mulhe arregaço as manga
São memu muito forte.

Assim, nóis se instalemu
Perto do Colonia Militar
Os pugre nóis impantemu
Chisparu, pra non incomota.

Os dias passo coridu
Tanta coisa pra fazê
A chente apre o mata fechada
Pra plantar e pra colher.

Os tempos são difícil amiga
Tenho que reconhece
Mas nóis é forte
Temu muito que aprendê.

Nesta téra chamata Prassil.
A língua é tificil demais
Mas temu aprentendo devagar
E mistura a chente faz.

Quando os tropeiro passom
E tormem no Baracón
A chente recebe eles
Com muita satisfaçón
E fica aprendento o língua
Da téra do coraçón.

A téra nóis tá cultifando
O linqua um poco aprendita
Xá posso te escrefe
E conta das nossa fida.

A sautate é grande
Nesta fida pretendida
E com muito sacrifico
Nós faz a téra querita.

Desculpa as misturança,
Das letra e das palavra.

Um apraço deste amigo alemón, aqui do Paracón, que non esquece xamais desse amica que mora acora no Plumenau.

Alvidaz


Saudações velha amiga Gueta

Chegamos ao Brasil
Você pode imaginar:
Muita terra, muito campo
Para nós trabalhar e morar.

Chegamos no porto de Santos
E pensamos: vamos juntos ficar
Mas o Brasil é tão grande
Tivemos que nos espalhar.

Nossa família é tão comprida
Se espalhou para todos os lados
O compadre João e o Hubert
Também ficaram separados

Já tinha vindo bastante de nós
Haverá de ser bom
Reunimos as forças e as vontades
Trazidas no coração.

Se espalhando nós viemos
Em Santa Catarina parar
A Colonizadora ajudou
Achando uma terra para nós morar.

Mas, velha companheira
Um susto nós levamos
Não é que botaram nós
Em um matão que se perdemos!

Um pouco em São Pedro de Alcântara
Por lá se estabeleceram
Mas nós somos agricultores
Boa terra merecemos!

Naim! Naim! Não foi fácil, amigo!
Resolveram que nós iamos subir um pouco da Serra.
Avisaram: “Tem estrada!
E quem que se esmera!”

Saímos em um grupo grande
Para serra subi então
Tinha de tudo companheiro
Muito mato, bicho, estrada, não tinha não.



Só tinha uma picada
Aberta para os cavalos passar
Diz que faziam tropiada
Demorava para chegar

Fomos seguindo aquela picada
E doente nós todos ficamos
Cansado e abatidos
Nós também nos separemos
Um pouco ficou no meio do caminho
E nós continuamos

Passamos necessidades
Mas muita água nós achamos
E nas beiradas dos rios
Foi que nós nos instalamos

Mas velha amiga, perceba
Toda nossa agonia
Até com os bugres
Nós topava noite e dia

Os bugres nos rodeavam
Para nós ali não ficar
Queimavam nossas casas
Queriam nos espantar
Mas junto nós lutamos
Para poder morar e plantar

A sorte é que nossas mulheres
Alemão é bicho de sorte!
As mulheres arregaçam as mangas
São mesmo muito fortes

Assim, nós se estalamos
Perto da Colônia Militar
Os bugres espantamos
Chisparam, para não incomodar.

Os dias passam corridos
Tanta coisa para fazer
A gente abre a mata fechada
Para plantar e para colher

Os tempos são difíceis amiga
Tenho que reconhecer
Mas nós somos fortes
Temos muito o que aprender

Nesta terra chamada Brasil
A língua é difícil demais
Mas estamos aprendendo de devagar
E mistura a gente faz

Quando os tropeiros passam
E dormem no Barracão
A gente recebe eles
Com muita satisfação
E fica aprendendo a língua
Da terra do coração

A terra estamos cultivando
A língua um pouco aprendida
Já posso te escrever
E contar das nossas vidas

A saudade é grande
Nesta vida pretendida
E com muito sacrifício
Nós fazemos a terra querida.

Desculpa as misturanças
Das letras e das palavras

Um abraço deste amigo alemão, aqui do
Barracão, que não esquece jamais dessa amiga que mora em Blumenau.

Alvidaz”



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