Durante nossa última viagem até Garopaba, lançamos entre o grupo o desafio de cada um criar um conto que se passasse na cidade e que de alguma forma fosse inspirado no que vivemos lá. O resultado to disponibilizando aqui para todos lerem.
Bom, acho que o meu texto não se encaixa no gênero conto, é muito curto para um romance. mas pode ser que seja uma novela... leia e me digam do que se trata... de qualquer forma, to com ele cumpro o desafio!
A década de 80 estava quase acabando, e pela
primeira vez estariam todos juntos novamente, em Garopaba. Os encontros
aconteciam sempre perto do dia 31 de março, não para comemorar, mas sim para lembrar-se
de uma data que mudou a vida deles para sempre. Já haviam se passado vários
anos desde o final daquele período de trevas, mas as marcas daquele tempo ainda
iam passar muitos anos no corpo e na mente daquelas pessoas. Outros encontros
haviam ocorrido nos mais diversos lugares, a maioria deles em São Paulo, cidade
onde muitos dos amigos foram viver após o final da ditadura. Mas esse, por
insistência de Téo, aconteceria em Garopaba cidade onde eles passaram grande
parte da juventude.
Lenita jamais esquecera o que a ditadura fez com
sua vida. Tinha se tornado uma pessoa amarga, difícil de conversar, alguns
diziam que aqueles anos haviam petrificado seu coração. Ela teve uma filha no
último ano da faculdade, mas não quis casar com o namorado, pois não o amava;
sua filha se chama Simone e desde pequena está sendo criada pelo avô materno,
um general do exército brasileiro.
Isabel já estava na cidade, resolveu ir alguns dias
antes com seu marido Armando e se hospedaram em um spa na Encantada, que, apesar de não ter o luxo dos locais em que
ela costuma frequentar, tinha agradado até mesmo Armando. Ela passaria 3 dias
com o marido e depois ele voltaria para São Paulo, onde tem uma empreiteira e
ela ficará para passar a semana junto com os outros.
Lenita esteve um pouco tensa nos últimos dias, não
costuma receber visitas. A bem da verdade anda isolada. Aguenta as pontas em um
trabalho que usa bem menos do que ela tem a oferecer: se limita a escrever
pequenas notícias e notas de funeral e isso a frustra, pois ela parece estar
presa para sempre às amarras invisíveis que aqueles anos deixaram em sua vida.
Desde que se exilou na Rússia, sem poder levar sua filha, sua vida parece que
perdeu o sentido, e foi para tentar reverter essa situação que seus amigos, principalmente
Téo, insistiram tanto para que esse encontro acontecesse em Garopaba.
Ainda não eram 10
horas da manhã quando Carmen estaciona seu Jeep em frente à casa de Lenita e
buzina até que ela saia para recebê-la. É um abraço longo, daqueles em que as
almas também se encontram. Carmen se afasta, segura Lenita pelos braços e
percebe o quanto sua amiga mudou desde o último encontro: ela parece ter
envelhecido dez ou anos ou mais e nem de longe lembra aquela garota idealista
que conheceu na faculdade de jornalismo, cheia de ideais e que queria mudar o
mundo.
Carmen também não
era a mesma. Talvez ela tenha sido a mais sortuda de toda a turma, não precisou
sair do país, foi presa uma vez, mas era amiga de um dos militares e foi solta
após apenas uma noite e, mesmo nessa noite, o tumulto era tanto que ela tinha
achado que a esqueceram em um canto da cela. Ela podia ser grata por tudo isso,
mas na verdade se sente devedora; não acha justo que os outros tenham pagado
preços tão altos por uma conquista que hoje ela usufrui, mas parece que a vida
resolveu “compensá-la”: viveu um casamento de aparências com um homem que não
amava e um triângulo amoroso com o amor da sua vida, que já a levou ao fundo do
poço algumas vezes, mas que a faz suspirar todas as noites lembrando-se
daqueles beijos.
Ela só concordou
em vir quando soube que Álvaro não poderia participar, pois estava viajando a
Angra dos Reis com sua esposa e filho. Este seria o terceiro encontro em que
ele não se fazia presente; isso de certo modo aliviava a alma de Carmen, pois
ela sabia que o melhor para se manter afastada de Álvaro era não o ver, mas por
outro lado isso a matava por dentro, pois sem ser nesses encontros ela nunca
teria a chance de encontrá-lo novamente.
Ainda da rua elas
ouviram o toque do telefone. Era Isabel, dizendo que Armando partiria às 11:30,
e ela pegaria uma carona com ele até o Centro Histórico. Pediu para suas amigas
a apanhassem lá. Lenita não quis saber o motivo de Armando ter antecipado sua
partida, mas ficou feliz em ter Isabel por perto mais cedo. Ninguém gostava
muito de Armando.
Elas apanharam Isabel em frente às escadarias da
Igreja e foi impossível não se lembrarem de todas as vezes que se reuniram ali
e riram copiosamente. Podia ser com coisas bobas, uma história contada por Lenita
que quase sempre envolvia vinho ou alguma coisa engraçada sobre algo vivido por
Isabel e Lenita em Porto Alegre, as piadas de Álvaro, o sorriso tímido de Daniel,
as tardes cantando e tocando violão, aquela discussão ridícula de Álvaro e Téo
por ciúme de Carmen e após Téo ter chutado o violão de Daniel e Álvaro ter
quebrado a garrafa de vinho no muro, todos começaram a rir e os dois se
abraçaram em um misto de vergonha e alivio. Eram tantas lembranças que as três
quase nem se falaram no caminho até a casa.
Seriam as três mais uma vez passando a tarde
juntas. Apesar de mais de 15 anos já terem se passado e elas estarem
transformadas, será que elas ainda eram aquelas mesmas 3 garotas cheias de
planos para o futuro? Estavam ali as 3, se olhando como se o tempo não tivesse
passado, como se soubessem o que as outras estavam pensando. Mas na verdade não
sabiam mais. Isabel foi a primeira a falar: contou da briga terrível que teve
com Armando e praticamente o mandou embora. Lenita disse ser o certo a se fazer
e disse nunca pensar que a amiga fosse se vender por dinheiro. Nisso, Isabel
levantou-se indignada, esbravejando falando não ser esse o caso; pegou sua
bolsa, mas antes de sair Lenita a segurou pelo braço e pediu desculpas. Carmen
ficou meio sem entender o porquê dá exaltação, mas, para evitar ficar nesse
assunto, resolveu oferecer um vinho chileno que tinha na mala. As serviu e logo
os ânimos ficaram mais amenos e a tensão presente na sala foi diminuindo. Após
o vinho chileno, outro foi aberto e na metade daquela garrafa as 3 já estavam
rindo das coisas que Carmen contava. E rindo delas também relembrando da vez em
uma reunião que após 3 garrafas de vinho Lenita tinha chorado compulsivamente
pela queda do muro de Berlim naquela sala.
Da primeira vez que Carmen e Álvaro ficaram juntos,
ela havia contado no dia seguinte também naquela sala. Foi em uma virada do
ano; eles costumavam se reunir e desfrutar da paz de Garopaba para fazer uma
virada com flores na cabeça, pés descalços e cheia de amor. Regina, esposa de
Álvaro e Guto, o marido de Carmem, também estavam ali, mas o que Álvaro e
Carmen sentiam já não cabia mais dentro deles. Quando Carmen foi até dentro da
casa apanhar uma travessa com saladas que havia sido esquecida, Álvaro a seguiu
e, sem falar nada, a tomou em seus braços e ali mesmo, encostados em uma das
paredes da cozinha eles entraram na maior cilada de suas vidas. Parece que
daquele momento em diante eles estariam para sempre entrelaçados e condenados a
estarem ora vivendo e morrendo por amor. Carmen voltou sem a salada e com o
cabelo bagunçado, ninguém percebeu nada, mas ela não pôde segurar e mal
acordaram no dia seguinte e ela confidenciou tudo as suas amigas, mas as duas
não se mostraram surpresas. Desde quando Lenita apresentou o amigo que tinha
conhecido em Coimbra em um curso de Direitos Humanos todos sentiam que a
ligação entre ele e Carmen era um pouco diferente, inclusive Guto, que apesar
de não amar profundamente Carmen, morria de ciúmes.
Às 18 horas elas saíram para encontrar Daniel na
rodoviária. Ele se queixou de não ter como ir até Garopaba e, após muitas
conversas, aceitou os amigos pagarem a passagem de ônibus até a cidade. Daniel
poderia ser o melhor sucedido de todos, era o mais talentoso, seu primeiro
romance é aclamado até hoje, mas o desaparecimento de sua mulher o fez ter um
bloqueio criativo. Ele não fotografa, não escreve mais, nem toca seu violão.
Mas ao descer do ônibus ele parecia estar melhor do que da última vez. Já em
casa, ele até mesmo sorriu ao ver uma fotografia tirada por ele mesmo, na qual
todos pulavam com o mar de fundo.
Eles estavam sentados com o rádio ligado, quando
ouviram a buzina do carro do Téo e, ao saírem, perceberam que ele não estava
sozinho. Ao lado dele estava Álvaro, com o cabelo preso e um sorriso tímido nos
lábios. Enquanto Carmen tentava controlar suas emoções, os outros saíram para
recepcioná-los.
Téo era a alegria em pessoa; os risos antes escassos
e quase raros se tornaram constantes quando ele chegou. Quando ele entrou
encontrou Carmen encostada no sofá, com um riso meio acanhado, ele a abraçou e
disse esperar dela que gostasse da surpresa. Álvaro veio em seguida, a abraçou
e timidamente disse achar que ia chover em breve.
Téo mal colocou as malas para dentro e já foi
procurar algo na geladeira a fim de preparar um jantar. Parecia loucura, mas
ele inventou de fazer pizza e assar na churrasqueira! Ligou o som e, ao ritmo
de Chico Buarque, todos começaram a se organizar para fazer a massa e os
molhos.
Por volta das quatro da manhã Lenita, Álvaro e Téo
haviam colocado as redes na garagem e conversavam. Lenita fala mal de Armando e
lamenta por Isabel estar com um burguês que passava as férias na Flórida. Téo
diz que, apesar de também não concordar com o estilo de vida do marido da amiga,
preferia não julgá-lo e achava do fato de Isabel estar com o mesmo por causa da
segurança passada por ele, não apenas financeira, mas também afetiva. Álvaro
estava quase dormindo e só despertou quando deixou cair um pouco do vinho que
tomava em seu peito e decidiu que iria subir para dormir. Junto com ele os
outros dois amigos também subiram.
2º Dia
Isabel saiu para correr na praia logo cedo, levava
dentro de seu walkman uma fita da
Elis Regina e quase teve de parar sua corrida para chorar quando tocou “Atrás
da Porta”. Por mais que a vida ao lado de Armando fosse maravilhosa, ela sabia
não ser aquilo o desejado para sua vida; sempre quis suspirar de amor, mas não
foi forte o suficiente para lutar pelo dela.
Na casa Carmen e Álvaro haviam se encontrado na
porta de um dos banheiros e ela havia se arrepiado pelo simples fato de encostar
seu braço no dorso de Álvaro. Ela não o olhou nos olhos, apenas pediu desculpas
e, meio desconcertada, desceu as escadas e foi até a cozinha. Lenita e Téo já
tinham colocado o café na mesa e animados contaram sobre o programa da tarde. Queriam
ir até a Câmara Municipal, para ver a quantas andava o tombamento do Casarão Amarelo
- uma casa que a princípio pertencia a família de Téo e tinham doado à
prefeitura, na época quando o tio de Téo foi prefeito e seu pai se mudou com a
família para a capital paulista - para
dar andamento ao projeto de criação da biblioteca municipal que Téo estava
disposto a criar na cidade e para onde pretendia transferir todo o seu acervo
pessoal. Depois da Câmara, iriam até a paróquia se colocar à disposição para
ajudar na quermesse que aconteceria no próximo domingo. Álvaro torceu a cara
para ideia, pois nunca foi muito chegado a padres, porém Lenita insistiu que
seria bom eles irem e isso não teria nada a ver com religião.
Carmen recém tinha colocado café em sua xícara
quando todos foram surpreendidos por um acorde de violão vindo do andar de
cima: pareciam os acordes de “Something”, dos Beatles, que era uma das músicas
preferidas de Daniel; eles quase não acreditaram no que estavam ouvindo, mas logo
após os primeiros acordes ouviram um barulho semelhante ao de um violão sendo
jogado no chão.
Daniel desceu as escadas, não deu bom dia a ninguém
e o clima estranho só foi quebrado por Isabel chegando da rua e contando ter
sido atacada por um cachorro maluco que, não satisfeito em derrubá-la, ainda
subiu em cima dela, como se ela fosse uma cachorra. Ela estava toda suja,
descabelada e rindo descontroladamente, contando a cena. Até Daniel riu dela
contando o ocorrido e todos ficaram aliviados por verem Daniel se divertindo,
pois o som do violão batendo contra o chão tinha deixado os presentes ali muito
tensos.
Enquanto Téo, Lenita e Álvaro entraram na Câmara, Isabel
resolveu ir até a loja de artesanatos. Carmen e Daniel ficaram na praça. Quando
Carmen tirou a câmara da bolsa e começou a fotografar alguns barcos na beira do
mar, Daniel levantou e foi observar. Carmen ofereceu a câmera para ele também
tirar uma foto, mas houve uma recusa; porém, quando ela pediu dicas de
fotometria sobre aquele modelo de câmera, ele pegou o objeto de suas mãos e
começou a falar como deveria ser feito, ao mesmo tempo em que tirava algumas
fotos. Isabel chegou nesse momento e se manteve em silêncio ao lado de Carmen,
que, com o sorriso nos lábios observava o amigo. Daniel sentou em um banco e,
sem falar uma palavra, entregou a câmera à Carmen. Apesar do silêncio, ele
estava com um olhar de satisfação. Todos em silencio contemplavam o movimento
da praça quando os outros voltaram.
Subiram a escada da Igreja Matriz, como já tinham
feito tantas outras vezes antes e foram procurar o padre. Ficou combinado no
dia seguinte eles ajudarem a fazer as bandeirinhas e a enfeitar o largo da Matriz
bem como a pracinha, junto com a comunidade.
Téo estava insatisfeito com a burocracia de
tombamento do Casarão Amarelo e não entendia a demora e falta de prioridade que
a construção da biblioteca demandava. Os recursos que viriam da prefeitura eram
mínimos, mesmo assim a burocracia adiava seu sonho.
Como a noite já havia chegado, resolveram ir até o
Bar do Pola, um velho amigo dos tempos da juventude. Quem estava tocando o bar
agora era seu filho Geraldo, e ele contou aos amigos que o pai estava na
capital e só retornaria no final de semana. Pola estava junto com Caio – um
outro amigo escritor que vivia em Porto Alegre – e Téo, quando eles foram
torturados até perto da morte na prainha de pescadores. Logo depois disso, Téo
viajou para Europa e depois passou 5 anos morando em Israel, onde conheceu
Maria, que todos apostavam ser sua futura esposa, porém repentinamente ele
voltou ao Brasil e começou a investir em obras sociais.
No bar do Pola
eles saborearam a receita da casa, camarão na moranga, e na volta para casa, Álvaro
tenta emprestar seu casaco para Carmen se proteger do frio, mas ela recusa. Ao
chegar a casa, Isabel se tranca em um dos quartos do andar inferior e então se
ouve o nome de Armando em meio aos berros.
Mais uma noite
estrelada em Garopaba.
3º Dia
Lenita acorda
cedo e, antes dos outros acordarem, desce, abre o armário debaixo da escada e
dele retira um álbum de fotos. As fotos são de Simone, chamada assim em
homenagem à Simone Beauvoir. Sua filha tem 16 anos e ela não sabe ao certo os
gostos da menina, como se veste, as músicas que ela escuta ou os livros que lê.
A menina vive em Porto Alegre com os avós, e Lenita, desde sua volta do exilio
na Rússia está vivendo em Santa Catarina, dividindo sua vida entre
Florianópolis e Garopaba. Ela viu a filha apenas 6 vezes, quando conseguiu
burlar a marcação cerrada de seu pai. Lembra com detalhes de cada uma dessas 6
vezes e chora ao ver as fotos desses encontros. Se sente fraca por viver essa
situação, mas também sabe de tudo que o pai é capaz, e não quer expor Simone nem
sua mãe às loucuras daquele velho sádico. O General Altamir foi o principal
envolvido no episódio em que espancaram Daniel, Caio e Pola e também existe uma
suspeita de que ele esteve por trás do sumiço da mulher de Daniel, sendo também
conivente até mesmo com as torturas e estupros que sua filha sofreu no quartel por
ele comandado.
Lenita enxuga as
lágrimas ao ouvir passos descendo a escada. É Daniel, ele lhe pergunta se o
estúdio ainda está funcionando no quartinho dos fundos. Ela lhe reponde que não
o utiliza há anos, mas que acredita que, depois de uma boa limpeza e
organização, ele ainda deva servir para alguma coisa. Daniel passará então toda
a manhã enfiado no quartinho, enquanto Álvaro e Isabel vão até o centro para
acertar algumas coisas no banco e também no correio.
Carmen está
escrevendo um conto, mas não anda muito inspirada nos últimos dias. Certamente
é a presença de Álvaro, que lhe tira completamente do plumo. É um eterno querer
e não querer; ela se sente em um poema de Camões, com um fogo a lhe queimar por
dentro e com a consciência lhe mandando manter a distância.
Téo abre o
armário da escada em busca de um chapéu, e os álbuns vistos por Lenita mais
cedo acabam caindo; ao apanhá-los, Téo percebe que Lenita o observa de longe e
pode sentir o peso em seu coração. Ele coloca os álbuns novamente no armário e,
sem dar muitas explicações, pega uma das bicicletas e também sai de casa.
Carmen e Lenita
preparam o almoço. Um escondidinho de frango. Lenita passou por uma fase
vegetariana, mas agora voltou a comer carne, para alegria de Carmen que tinha
apenas na memória o sabor do escondidinho de frango da amiga. Era uma tradição:
sempre que eles se reuniam na casa de praia de Garopaba o cardápio tinha que
ter escondidinho. Perto da hora do
almoço todos chegaram, almoçaram e por volta das 14:00 foram para a praça, com
exceção de Daniel, pois queria terminar de organizar o estúdio.
Como era plena
terça feira não tinha ninguém para ajudar na confecção das bandeirinhas, apenas
eles e o padre. Para facilitar a produção eles se dividiram em duplas e não por
acaso a dupla de Álvaro foi o pároco. Álvaro nunca acreditou em religião
alguma, mas sua grande antipatia mesmo sempre foi com a católica. Para deixar
tudo ainda mais divertido, o padre resolveu que converteria Álvaro, e no final
da tarde Álvaro só não saiu no tapa com o padre em respeito aos seus 80 anos e
praticamente teve que dizer que acreditava na Santíssima Trindade para poder ir
embora. Saiu falando que não ajudaria mais em nada e todos ficaram rindo por
horas daquela situação.
A tarde rendeu, eles terminaram de colar todas as
bandeirinhas recortadas para a festa e ainda conseguiram adiantar alguma coisa
das lâmpadas que também seriam usadas.
4º dia
Um diluvio caía sobre Garopaba, parecia que iria
chover mesmo os 85 milímetros da previsão do tempo. No café da manhã Isabel
recebe um telefonema de Armando, cobrando pelo fato dela não estar dando
atenção e sendo assim ele estaria pegando o primeiro avião para a cidade mais
próxima de Garopaba a fim de encontrá-la. Não aguentando e se sentindo sufocada,
ela explode e, antes de desligar o telefone na cara dele, berra pedindo o divórcio.
Isabel corre para o andar de cima. Lenita para consolar a amiga.
Álvaro fala que também está pensando em se separar,
e Carmen quase se afoga com o café, rindo e afirmando que essa seria a 20ª vez
que ele falava isso. Porém, ele afirma que dessa vez é diferente. Carmen se
irrita, joga o pedaço de pão que estava segurando na mesa e grita que, se
quando ele jurava ter a amado não se separou, também não seria dessa vez. Ela
também sai correndo em direção ao andar superior.
Daniel, ouvindo tudo do quartinho, apenas vem até a
cozinha e diz que as mulheres dessa casa devem estar malucas. Os três se olham
e começam a rir sem entender muito o ocorrido, apenas cogitando a possibilidade
de serem os hormônios.
Carmen se tranca em um quarto e chora até o meio da
tarde. Lenita apenas deita ao lado de Isabel e segura sua mão; as duas passam
horas ali em silêncio de mãos dadas. Elas são assim desde sempre, desde a
infância e esse simples gesto é tudo que elas precisam em momentos assim.
Quando Carmen desce não encontra ninguém em casa,
apenas escuta um barulho que supõe ser Daniel no estúdio. Em cima da mesinha da
sala, ela vai apanhar seu livro e dentro encontra um bilhete escrito: “Você
está equivocada, eu não te amava, no passado... eu ainda te amo e sempre vou te
amar” o bilhete não estava assinado, mas ela sabia de quem era. Ao ler aquilo,
ela rasga o bilhete e volta correndo para o quarto. Tranca a porta e joga os
pedaços de papel em cima da cama, tentando reconstruir o bilhetinho, e se pega
rindo de felicidade lendo as palavras escritas.
Os outros tinham ido ao mercado e, quando Carmen
ouve o barulho das vozes, então desce. Finalmente a chuva tinha aliviado e eles
chegam contando a água tinha entrado em algumas lojas no centro. Téo e Álvaro
vão preparar um risoto.
Lenita, Isabel e Carmen se sentam na sala e Isabel
faz a maior cerimonia para mostrar seu manuscrito: um livro de crônicas sobre
uma viagem feita pela Europa com Armando. Carmen percebe em Lenita algumas
ressalvas quando Isabel conta sobre o que o livro se trata, mas também percebe
a alegria da amiga ao ver o teor das crônicas. Um material excelente, retratando
uma Europa muito diferente da Europa burguesa esperada de se encontrar em uma
viagem com Armando; são crônicas fortes sobre temas políticos e antropológicos
de uma Europa menos superficial do que a geralmente os turistas costumam
conhecer.
Antes do jantar, Daniel programa a câmera para
tirar uma foto dos amigos todos juntos, e após o delicioso jantar eles se
reúnem na sala para ler mais algumas crônicas do livro de Isabel.
5º Dia
Téo percebe o
fato de Daniel nem ter deitado em sua cama, e desce para ver o se algo
aconteceu com o amigo. Ele o encontra no estúdio, em meio a dezenas de fotos. Daniel
conta que, quando estava arrumando o estúdio, encontrou dois rolos de filme ainda
não revelados, e começa a mostrar as fotos. Um é de uma viagem feita por eles
para a Guarda do Embaú, uma praia pequena perto dali, e eles não compreendem
como aquele filme passou tanto sem ser revelado. Daniel estava com Marta, sua
eterna namorada e as fotos revelam pores do sol, banhos de mar e até mesmo
olhares entre Carmen e Álvaro, que naquela época nem tinham nada. Eles
acamparam e foi como uma volta ao tempo rever aquelas imagens. Fotos das barracas,
do preparo das comidas: eles até lembraram-se do quanto Guto reclamava da falta
de conforto. O outro filme tem imagens de uma virada do ano, onde estão todos
de branco, reunidos ali naquela mesma casa. Notam também tem uma foto linda de Carmen,
onde ela está com um sorriso de orelha a orelha e o cabelo um tanto quanto
bagunçado.
Téo convida Daniel
para ir até dar uma volta de carro com ele, diz estar preparando uma surpresa
para Lenita. Daniel aceita, mas antes coloca em cima da mesa da cozinha a foto
que tirou no dia anterior e com um bilhete do lado escrito por ele:
“Nós mantemos este
amor numa fotografia
Onde nossos olhos
nunca fecham
Nossos corações nunca
se partem
Onde o tempo estará
congelado para sempre
Daniel”
Ao encontrarem a fotografia
e o bilhete, os outros se emocionam. Desde o sumiço de Marta, Daniel não tinha
escrito nenhuma palavra além do seu nome em documentos. Foi como se ele tivesse
quebrado essa barreira e de alguma maneira ter encontrado forças para voltar a
viver. Em cima da mesa também tinha uma mensagem de Téo: “Voltamos para o café
da manhã de amanhã”. Todos ficaram sem entender nada.
Após o almoço
foram para a igreja no Jeep de Carmen e, quando estavam chegando no Centro Histórico,
escutaram os gritos de um homem: “O pneu está no chão!” Sem entender muito a
expressão, Carmen seguiu e, quando estacionou em frente à igreja, percebeu que
seu pneu esquerdo dianteiro estava furado. Ela teria de encontrar uma
borracharia, pois seu step também não
estava em condições de rodar. Lenita, Isabel e Álvaro desceram e na última hora
Álvaro se ofereceu para acompanhar Carmen, que em um impulso respondeu: “por
favor”; ele deu um pulo para dentro do Jeep enquanto Lenita e Isabel trocaram
olhares como premeditando o que poderia acontecer.
Lenita e Isabel
subiram a escadaria e juntaram-se a cerca de outras 30 pessoas que estavam a
mil com os preparativos para festa. Lenita estava se sentindo muito perturbada
com a presença de Laerte, irmão de Cabo Lazaro, o homem que a estuprou e
torturou durante 4 dias seguidos enquanto ela foi presa. Até hoje ela não
entendia como seu pai tinha permitido que um de seus homens a tratasse assim.
Quando ele esbravejou e disse do fato dela não ser mais sua filha, nem nos
piores cenários ela imaginou ele chegar a esse ponto. Ela ainda lembra-se dos
gritos de sua mãe entrando no quartel e exigindo que sua soltura, recorda-se
também do estouro causado pela mão de seu pai na cara de sua mãe, quando ele
mandou que ela saísse, pois senão seria pior.
Lenita se isola em um canto e começa a tremer,
lembrando das cenas que ela mais gostaria de esquecer. Isabel percebendo a
agonia da amiga, a toma pelo braço e sai caminhando com destino a Prainha, um
lugar sossegado onde ela poderia acalmar a amiga.
Carmen está
encostada do lado de fora da borracharia, enquanto Álvaro conversa com o
borracheiro e pede para ele arrumar o
step também, o moço comenta que pode demorar um pouco e fala que eles podem
sair e dar uma volta para depois apanhar o carro. Álvaro chama Carmen para lhe
acompanhar até um posto telefônico, de onde ele precisava fazer uma ligação
para o seu jornal.
Álvaro é editor
chefe de um grande jornal paulista, nunca consegue sair da cidade, por isso a
surpresa quando ele apareceu acompanhando Téo. Ele perdeu um pouco das
características que fizeram com que Carmen se apaixonasse por ele, mas ela
ainda o ama. Quando Álvaro desligou o telefone disse a Carmen que precisava
voltar para São Paulo ainda naquele dia; Carmen um pouco desapontada concordou.
Mas pensou: “O que estava acontecendo? Marcam um encontro e dois somem deixando
um bilhete e o outro vai voltar para casa antes do grande dia?”. Ela não
argumenta e aceita levá-lo até em casa a fim de ele apanhar as malas.
Ele sobe para
buscar suas coisas e quando volta, ela está segurando um álbum de fotos, ele
senta ao seu lado e começa a observar as imagens também. São fotos de um
aniversário de Isabel. Dois meses depois da virada em que eles iniciaram seu
romance. Em todas as fotos eles estão lado a lado e acompanhados. Em uma foto
aparece Álvaro segurando o rosto de Carmen e lhe dando um beijo, posando para
fotos. Ao ver essa imagem, Carmen vira o rosto para o lado e olha dentro dos
olhos de Álvaro. Olhos claros, de um azul que se mistura com pequenos
pinguinhos amarelos, formando quase um verde. Olhos que ela já decorou, que já
a devoraram, que ela viu de perto tantas vezes, arregrados, ou pequeninos nos
momentos de prazer. Quando ela sentiu o olhar dele penetrando em seu olhar, foi
como se o corpo todo estivesse envolto em uma onda de calor que começava dentro
dela. Ele continuou a encarando e disse “Se você quiser eu posso ficar”. Ela
manteve o olhar e disse com uma firmeza que poucas vezes ela teve nessa relação
“Fique”.
Ela mal tinha
terminado de falar quando sentiu os braços dele ao redor de seu corpo e um
beijo lhe tomando os lábios. O cheiro dos cabelos dele a deixava em transe e
naquele momento ela era completamente dele. Os dois se beijaram no sofá e horas
depois ainda estavam ali, nus, abraçados e em silêncio apenas sentindo o prazer
de sentir o calor do corpo um do outro. Sabendo que só estão completos quando
estão juntos, é de lamentar por todo o tempo perdido pelas pequenas coisas do
cotidiano.
Enquanto Carmen e
Álvaro se amavam na sala, Lenita e Isabel tinham voltado para a igreja e
ajudavam na organização da quermesse. Isabel estava até mesmo na cozinha
ajudando a preparar os doces, enquanto Lenita estava ajudando a pendurar a
bandeirinhas que eles tinham feito no outro dia.
Enquanto sobem a
escadaria da igreja, Álvaro segura na mão de Carmen e ela meio sem entender o
encara, e ele diz: “Eu não quero mais esconder o nosso amor”. Ao chegarem tanto
Lenita quanto Isabel sorriem quando os veem; Carmen não consegue disfarçar a
felicidade que está sentindo. Já era quase 22 horas quando eles chegam em casa.
Preparam uma
massa, sem muito requinte apenas para se alimentarem. Lenita vai até o armário
debaixo da escada e volta com uma pasta. Isabel ilumina o olhar quando percebe
que é uma pasta com o mapa astral de todos. Lenita apesar de sempre comentar
que não acreditava em astronomia, sempre fazia o mapa de todo mundo e eles se
divertiam fazendo as mais variadas combinações. O cruzamento de mapas com maior
compatibilidade era de Lenita e Isabel, e apesar de a vida toda mostrar que
mapa estava certo, Lenita seguia dizendo que não acreditava nessas coisas.
O mapa de Álvaro
e Carmen dizia que os dois dariam certo e que as coisas sempre eram a ferro e
fogo: “Este
encontro é poderoso e pode causar estragos” Embora os astros tenham
acertado e de fato esse encontro tenha sido em alguns momentos destruidor,
todos tem certeza de que eles cometeriam esse mesmo erro dezenas de vezes.
Carmen e Álvaro
colocaram colchões e dormiram na sala aquela noite, enquanto as duas subiram
para também dormir.
6º dia – 31 de março
Era 9 horas
quando escutaram o barulho da buzina do carro de Téo. Isabel não entende quando
vê uma moça saindo do carro, mas quando olhou para trás e viu Lenita chorando e
se segurando na mesa para não cair e entendeu que só poderia ser Simone. Carmen
e Álvaro estavam nas escadas e puderam ver o abraço entre mãe e filha pela
janela.
Téo tinha
telefonado para Dona Ana, mãe de Lenita e arquitetado todo o encontro. Avó e
neta mentiram que a menina tinha uma viagem de estudos para o Rio de Janeiro. O
avô anda fraco, parece que o peso das maldades cometidas no passado finalmente
está afetando seu corpo, não questionou muito, apenas assinou uma autorização
falsa e autorizou a esposa a dar um dinheiro para as despesas da menina. Dona
Ana a levou a Téo, que dirigiu a noite toda trazendo Simone até sua mãe.
Por um momento Lenita
não sabe sobre o que conversar com a filha, mas a menina é comunicativa e tira
a mochila das costas e fala: “tem uma coisa que quero te mostrar”. Ela abaixa a
blusa e logo abaixo da nuca está tatuada a frase “On ne naît pas femme: on le devient”. Lenita não consegue conter a
emoção e as duas choram abraçadas ao lado do carro de Téo.
Lenita, Isabel e
Simone sobem. A mãe sugere que a menina durma um pouco, pois virou a noite na
estrada, mas ela diz que precisa só de um banho. Simone fica deslumbrada com as
saias longas de sua mãe, roupas que há anos estavam no armário de um dos
quartos de hóspedes. Simone fica linda com as roupas de Lenita. A menina vê um
disco da Rita Lee e as 3 ficam no quarto falando sobre música.
Carmen encontra Téo
na sala e fala o quando foi nobre esse seu ato e fala sobre como Lenita se iluminou
com a presença da filha. Téo diz que é o mínimo que ele pode fazer, além de Lenita
ter sido sua amiga por anos ela ainda conseguiu o libertar da prisão e acabou
pagando um preço muito alto por sua atitude.
Eram quase 15
horas quando todos almoçaram. Simone pega o violão velho que dias atrás havia
sido jogado no chão por Daniel e tenta tocar “Mania de você”, da Rita, mas ela
ainda não toca muito bem, pois seu avô a proibiu de fazer aulas de violão.
Daniel se
levanta, pega o violão de Simone, toca “Mania de você” e todos voltam a ouvir
aquela linda voz, há muito calada pela dor. Eles perdem a noção do tempo
ouvindo Daniel tocar e Simone cantar. A menina tinha uma voz linda e deixou sua
mãe muito orgulhosa.
Ao chegarem na
quermesse encontram Pola, que logo que os avista. Ele vem com os braços abertos
ao encontro deles. As quermesses em Garopaba são sempre pontos de encontro de
velhos amigos, pois pessoas que já não vivem mais na cidade sempre encontram um
jeitinho de voltarem pra Garopaba e participar da tradicional festa.
Haviam muitas
barraquinhas nessa quermesse: de jogos, comidas típicas, venda de artesanatos e
apresentações. Uma banda da cidade ia tocar e quando tocou “Alegria, Alegria”
de Caetano, foi como se um hino começasse a tocar, todos os amigos, incluindo
Pola e Simone se abraçaram e começaram a cantar a plenos pulmões “Em caras de
presidentes, em grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte
Bardot. O sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça...Quem lê
tanta notícia... eu vou!”
O momento foi
eternizado por Daniel, em uma foto que anos depois ainda encheria o coração
deles de amor.
7º Dia
Foi um lindo almoço de domingo. Depois do almoço
alguns começaram a organizar suas coisas. Daniel levaria Simone para casa e
depois iria com o carro de Téo para São Paulo. Álvaro e Téo voltaria na segunda
de avião e Carmen iria para uma cidade no início da Serra Catarinense – ela não
sabia, mas seria lá que ela escreveria o seu melhor romance.
Isabel não iria embora. Ela estava disposta a se separar
de Armando e ficar ali mesmo, vivendo com Lenita, até mesmo já havia pedido a
seu advogado que entrasse com os papéis do divórcio.
Simone disse que o sonho da vida dela é viver com
sua mãe e que só não ficaria ali por não querer abandonar sua avó, mas que
assim que completasse a maior idade se mudaria pra Garopaba. Ninguém queria ser
trágico, mas Simone sabia que isso iria acontecer bem antes dos 18 anos, seu avô
não duraria mais muito tempo; porém pensar no quanto seria feliz no dia em que
ele morresse não parecia o correto para ela, então ela evitava contar os dias
para isso ocorrer.
Antes de Daniel sair, ele desce com um caderno na
mão e anuncia a todos que aquelas são as primeiras suas páginas do melhor livro
que ele irá escrever, sendo o título Aos
meus, com amor.
Após a saída de Daniel e Simone, o restante da
turma vai para praia, levando vinho e violão, e embora não toquem tão bem
quanto Daniel, Álvaro e Téo consigam tirar algum som. Eles fazem uma fogueira e
ficam cantando, bebendo e celebrando a vida. Álvaro e Carmem ficam abraçados,
ouvindo as canções que embalaram suas vidas. Isabel e Lenita se olham, como se
soubessem que estão para começar um momento que adiaram por uma eternidade.
Téo pára de tocar o violão, tira toda a sua roupa e
vai em direção ao mar. Grita “Venham meus queridos, venham lavar suas almas, se
purificar e se preparar para essa nova vida que acabamos de construir!”. E
todos fazem o mesmo. Os cinco mergulham no mar, iluminado apenas pela lua, que
se mostra gigante no céu.
Segunda-feira
No dia seguinte Carmen parte, mas antes de sair tem
a certeza de que realmente terá Álvaro para sempre em seu retorno. Ele diz que
a ama e é com ela que ele irá ficar, e ela não precisa de mais nada. Carmen
conhece Álvaro, conhece o tom de sua voz e a verdade existente em seus olhos.
Ela tem certeza de que se reencontraram para viver o sonhado em São Paulo.
Antes de partir Téo vai até o cartório e na volta
deixa um envelope, que só deve ser aberto no dia 1º de julho, dia que ficou
combinado um encontro surpresa na casa de Daniel, para todos juntos comemorarem
o aniversário do amigo.
....
O tempo passou. Um mês depois o pai de Lenita
morreu e a mãe chamou Lenita e Isabel para viver com elas na capital gaúcha. Lenita
não consegue abrir mão da vida em Garopaba, mas passa semanas em Porto Alegre,
outras na velha casa. A vida para ela está muito mais leve. Começou a trabalhar
como colunista política em uma grande rede de jornais rio-grandense e está
ajudando Isabel com a publicação de suas crônicas de viagens sobre a Europa.
Carmen e Álvaro foram viajar, passaram um mês com
uma Kombi alugada andando pela América Latina. Algumas pessoas acharam loucura,
mas para eles foi uma das melhores experiências de suas vidas. Carmen e Álvaro
pensam em ter um filho em breve, mas antes querem viajar até a Patagônia. Pela
primeira vez Álvaro está usando os privilégios de ser chefe e pretendem usar
bem o tempo livre, pois conseguem ajustar seus horários para passar mais tempo
viajando com Carmen.
Daniel está finalizando seu livro; ele ainda não
mostrou a ninguém, mas sua antiga editora já fechou o contrato para lançamento;
afinal, Daniel é uma mina de ouro.
1º de Julho
Só falta Téo chegar, mas ele manda apenas um
mensageiro.
A mensagem diz apenas: “Abra o envelope de Garopaba”.
No envelope existe uma série de escrituras e
contratos, todas elas devidamente preenchidas e nominais, passando cada uma de
suas propriedades e ações aos seus amigos. Ninguém entende nada.
Dentro do envelope existe também uma carta.
“Meus Queridos;
Dessa vez
aposto que consegui surpreender mesmo vocês!
Não preciso
de muito para viver;
Se eu tiver
amor, eu sei já serei feliz... por isso deixo esses presentes, para que depois
que eu me for algo de bom ainda possa ser feito com o que eu deixei.
Eu não tenho
uma bola de cristal, mas tenho certeza que o nosso último encontro mudou nossas
vidas para sempre.
O que nos
faltava era amor.
Amor de mãe e
filha;
Amor próprio;
Amor de homem
e mulher;
Amor fraterno;
Nunca mais
esqueçam disso, do amor, vivam esses amores por mim, celebrem a vida a cada
amanhecer por mim.
Nunca deixem
de lutar e nunca esqueçam o que passamos, mas também nunca deixem que a dor
apague a alegria de viver.
Eu gostaria
de ficar, mas infelizmente tenho de partir, ainda não sei bem para onde, venho
adiando essa partida há quase 5 ano: foram longos tratamentos, muitos remédios,
mas agora parece que fui vencido e não tenho mais como ficar aqui com vocês.
O meu legado
são os meus amigos, são vocês.
Eu quero
seguir vivendo dentro de vocês.... dentro de suas memórias e corações.
Com amor, Téo.”
Ninguém sabia,
mas Téo estava muito doente. Quem contou meses mais tarde foi Maria, sua antiga
namorada de Israel. Téo simplesmente desapareceu, talvez tenha morrido...
pensam os mais esperançosos. O fato é que Téo estava certo e o encontro de
Garopaba mudou o rumo de suas vidas.
A ditadura tinha
matado o amor de dentro de alguns deles, mas a vida sem amor se torna impossível
de viver... e em Garopaba eles lembraram disso.
1º semestre de 2016
Isabel lê um livro preguiçosamente em um dos sofás
da biblioteca municipal Téo Albuquerque, em Garopaba. Lenita organiza alguns
papeis.
A campainha toca, é um homem com um envelope.
Lenita abre o envelope e tira de dentro tem uma
folha A4 com uma frase manuscrita:
“Não vai ter golpe”
Era a letra de Téo.
Baseado na obra de ficção “Queridos Amigos” e em fatos reais ocorrido em
“Garopaba Parte IV”
1 Comentários
Muito lindo!! Parabéns Carol!!
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