Kid - Tudo de Nós - Carol

"A intenção deste projeto é a de contar um pedacinho da história da banda através das experiências, ou até mesmo aventuras, de seus fãs, e mostrar que não importa a idade, nem a localização geográfica, e muito menos “desde quando gostamos da banda”. Fomos todos unidos através das canções, dos shows, dos programas de TV e rádio. Estamos todos ligados uns com os outros por meio de um link central: Kid Abelha." Marina de Almeida López Moreira - Organizadora do projeto

Autores: 
Caroline Pereira
Jualis Paes
Lívia Rezende
Lucrécio Arrais
Marina López Moreira
Priscila de Oliveira
Renata Vianna
Rubens Amorim
Saulo Tadeu Valiero


Carol

Alfredo Wagner - SC
Minha relação com o Kid Abelha começou bem antes de eu entender o que seria uma banda. Surgiu no início dos anos 90, quando eu deixava minha avó de cabelos em pé cantando “Fazer amor de madrugada”, já que, naquela época, ela era uma católica fervorosa e ouvir sua neta de pouco mais de dois anos cantando aquilo era quase uma heresia.
Vou tentar contar um pouco da minha história com o Kid Abelha, para isso farei uso de algumas frases da jornalista Mônica Waldvogel.
Vou fazer um marco, a partir do momento que a música do Rádio me pegou distraída e uma voz, uma batida, um refrão entrou na minha vida pra sempre!
Não que o Kid Abelha não tenha feito parte da minha infância e adolescência, mas eu nunca tinha percebido que todas aquelas músicas que eu amava eram da mesma banda. A ligação só aconteceu anos mais tarde, quando passei a compreender a grandeza das letras e ser seduzida pela melodia... Firme, simples e completamente contagiante. Eu já estava na faculdade quando finalmente minha mãe abriu suas asas e eu pude sair de baixo delas para ir ao primeiro show. O show aconteceu na cidade de Lages (cidade onde eu estudava), em uma noite de garoa fina com o termômetro marcando 4º C.
O CD Pega Vida tocava sem parar na rádio da cidade de Lages, acredito que qualquer lageano sabia cantar Poligamia ou Peito Aberto. No momento em que o show começou, minha vida tomou outro rumo.
Seguindo a sugestão da Mônica, farei outro marco, no dia em que vi a dona da voz. Aquele louro, aquele rosto, aquele azul. E vou fazer de conta que a vida então começou.
Não é difícil pensar assim, minha vida de fato não foi mais a mesma depois do dia 16 de junho de 2006. Alguns podem pensar que faz pouco tempo, mas aviso, a intensidade do Kid Abelha na minha vida é maior do qualquer medida temporal.
Os três se materializando na minha frente foi algo surreal. Lembro com detalhes os gestos dos três, e foi como se o mundo tivesse parado, e no mundo, naquele momento, vivêssemos apenas nós quatro. Foi amor à primeira vista. Fiquei completamente apaixonada, e ainda hoje, quando lembro do que senti, me emociono.
Ao chegar em casa, fui logo pesquisar sobre a banda, comprar os CDs que ainda não tinha e foi assim que percebi que conhecia mais sobre as músicas do Kid do que eu pensava. Percebi que cantei Na rua, na chuva, na fazenda achando aquela voz linda sem saber que era da Paula, notei que o disco de vinil que minha tia ouvia e dançava comigo quando eu era criança era do Kid, e que a minha versão preferida de Ovelha Negra, que tinha um áudio péssimo, mas era absolutamente maravilhosa, também era deles. Me senti ignorante e também traída pela minha dis­tração em não ter percebido antes que tudo o que eu amava tinha a mesma fonte, Kid Abelha.
Entrei em uma comunidade do Kid no Orkut, e vi que aquilo que eu estava sentindo pela banda era o mesmo que centenas de outros membros sentiam, que o sentimento de paixão que tinha tomado conta de mim era compreendido por eles. Foi assim que conheci inúmeros amigos, pessoas que, a princípio, tinham em comum comigo apenas o amor pela banda, mas que passaram a fazer parte integral de minha vida. Pessoas que cada vez mais são importantes para mim, de todos os cantos do Brasil, que eu jamais teria conhecido se não fosse através da banda de nossas vidas.
Na virada daquele ano, fiquei ansiosa aguardando a ligação de minha amiga, que tinha ido ao show em São Vicente, aquele que seria o último antes das férias. O tal ano sabático se estendeu, e eu me senti novamente castigada, pois logo agora que o Kid Abelha era algo muito importante em minha vida, ele tinha “terminado”. Era muito injusto eu não ter tido a oportunidade de ver novamente os três cantando juntos. Mas eu ainda podia sonhar, e para isso contava com meus “Kid-Amigos”.
Quantos contos de mil e uma noites nos embalaram no suspense de nossos quartos? Quantas madrugada passamos no MSN assistindo aos vídeos, discutindo letras, analisando cada trejeito de nossos ídolos. Cada um encantado por um aspecto ou por um integrante, cada vídeo novo que descobríamos era um delírio, e quase morremos quando apareceu um cara do nordeste vendendo cópias dos DVDs dos shows do Kid que ele tinha ido. Quando os recebi, passei um mês assistindo a todos, e de­corando cada coreografia, cada comentário entre as músicas e ficando cada vez mais apaixo­nada por aqueles três.
A vida seguiu, amores se foram, vieram outros e também grandes batalhas, espaços abertos, bandeiras fincadas, terreno perdido, território conquistado. Tanta gente vindo junto com suas lutas de cada dia: uma geração, os filhos dela. Pensar que vinte e poucos anos depois, a banda que minha mãe adorava dançar nas discotecas dos anos 80, agora me encantava, tomando como base o cenário musical de hoje em que as bandas são descartáveis, me cativava... passar os anos conquistando ge­rações. E ela lá, aquele louro, aquele azul, aquele tom...
Vieram os solos. Implorei para minha mãe me deixar ir ao show da Paula, mas era uma possibilidade inexistente naquele momento. Meu pai não quis me levar até Porto Alegre. Depois de muito debate nos almoços em família, chegamos ao consenso de que eu poderia ir, se fosse com o meu próprio dinheiro. Uma grande ironia, pois para que eu tivesse di­nheiro dependia diretamente de meus pais. Outra possibilidade seria participar da promoção e ganhar o ingresso. Não consegui, e fiquei com muita raiva das duas que ganharam. Dessa raiva, surgiu uma amizade linda, mais uma amizade que devo ao Kid Abelha. Apesar da frustração do momento, poder ver a Paula cantando novamente, mesmo sendo através dos vídeo do Youtube, me revigorou.
Anunciou-se um show em Curitiba. Eu e uma amiga de Floripa deci­dimos que iríamos, mesmo que tivéssemos que fugir de casa. Novo debate em mesa redonda e, novamente, ficou decidido que se eu tivesse dinheiro poderia ir. O que minha mãe não contava era que minha avó, já não mais beata, se sensibilizaria com todo meu amor pela banda e me daria dinheiro. Como tínhamos um trato, minha mãe, ao me ver com o dinheiro, ficou sem ação, a não ser me desejar boa viagem. O dinheiro era suficiente apenas para as passagens, e uns 3 pastéis. Teríamos que passar a noite em um mercado 24 horas, pois não tínhamos dinheiro para um hotel. Mesmo assim, eu e Helô seguimos de ônibus para Curitiba. Nenhuma das duas já havia saído do estado sem os pais, mas já éramos mocinhas, estávamos na faculdade e seríamos capazes. Além do show, teria uma noite de autógrafos na livraria Saraiva, logo, as chances de encontro cara a cara com nossa musa eram grandes e faziam valer a pena o desafio.
Após perdermos o primeiro ônibus (sim, não nos saímos tão bem quanto prevíamos em nossa empreitada) chegamos a Curitiba algumas horas depois e, ao chegarmos ao shopping, encontramos nossas amigas de lá, que estavam tão ansiosas quanto nós. Seguimos apressadas até a livraria, e meu mundo parou novamente no momento que Paula adentrou a livraria. Em slow motion ela veio em minha direção, novamente ela lá, aquele louro, aquele azul... e meu mundo girando em torno dela. Minhas pernas não paravam de tremer, eu não acreditava que eu estava na mesma sala que ela. Por alguns instantes pensei que não ia conseguir me mover, e até respirar deixou de ser uma ação natural, voltei a terra quando a Cucah falou comigo. Quando encostei na Paula e ganhei seu autógra­fo, foi como se toda a magia do mundo fosse real e vi que sonhos tornam- -se realidade. Não tínhamos onde passar a noite, mas isso era o de menos.
Sensibilizadas pela nossa situação, a Mery e a Cucah nos levaram para casa delas. Apesar de elas serem praticamente estranhas para nós naquele tempo (só nos conhecíamos pela internet), aceitamos. Eu, como uma boa garota simples do interior, quase morri de vergonha, mas eu não podia recusar, e até hoje sou eternamente grata a elas por terem nos acolhido. No dia seguinte, ficamos vagando pelo centro de Curitiba, di­vidindo o banco da praça com os mendigos, já que, para não abusar da boa vontade de nossas anfitriãs, recusamos o convite de esperar na casa delas. À noite, mais um encontro espetacular, em um show que me encantou do começo ao fim. Para a viagem ser ainda mais incrível, entra­mos no camarim, e novamente vi que minha maior “ídola” era de ver­dade. O encontro rendeu uma foto, que retrata perfeitamente o estado lasti­mável em que eu me encontrava após um dia de sem teto em Curitiba.
Nessa época, eu era a Carol Toller. Sim, eu poderia omitir esse fato e ter mais credi­bi­lidade junto a você que está lendo, porém era algo tão puro e tentando demonstrar afeto que deixarei vocês saberem.
Mais e mais shows vieram, e eu sempre sem dinheiro, pois a vida de universitá­ria bancada pelos pais com muito sacrifício não era fácil. Mas eu estava me tornando cada vez mais astuta, e passei a usar da inteligên­cia e de muita cara de pau para conse­guir ir aos shows. Ganhei ingresso e vendi uma rifa para conseguir ir a um show em Porto Alegre, e nesse show conheci minha irmã (uma irmã de alma, outro presente do Kid em minha vida).
Show da gravação do DVD da Paula no Rio de Janeiro. Para conse­guir ir a esse show, eu penei, pois além da questão financeira, tinha ainda o medo de minha mãe em me largar sozinha em uma cidade tão violenta quanto a que ela conhece através da mídia. Usei de todos os argumentos que pude, reivindiquei a antecipação de todos os meus presentes de ani­ver­sários e Natais dos próximos anos, e só consegui ir após um telefo­nema de quase uma hora para meu pai, que aceitou ir até a casa de minha mãe avisar que tinha permitido. Após minha mãe provavelmente ter feito meu pai assinar um termo de responsabilidade, em que ele assumiria publicamente ser responsável por meu falecimento, caso acontecesse, ela deixou. E após eu passar um dia inteiro dentro de um ônibus, cheguei à cidade maravilhosa. O show foi perfeito. Paula estava mais linda do que nunca, e as minhas amizades estavam cada vez mais consolidadas. A cada show que íamos juntos, nossos laços aumentavam. O dia do show passava a ser impor­tante por dois motivos: o principal, ver nosso ídolo, e o segundo, não menos importante, era reencontrar os amigos.
Em uma manhã de domingo, fui acordada por meus amigos através de ligações e SMS falando que eu estava na capa do DVD da Paula. Foi como um presente. Mesmo eu estando lá, com a boca aberta, em uma pose quase ridícula, fiquei muito orgulhosa, em ter sido “imortalizada” junto com alguns de meus amigos na capa de um trabalho tão bonito.
Me formei na faculdade no final do ano de 2008 e meus colegas, antes mesmo de eu escolher qual a música que tocaria na entrega do meu diploma, já anunciavam que teria que ser do Kid Abelha. Então, em um dos momentos mais marcantes de minha vida, tocou Eu contra a noite.
Mais e mais shows vieram, e agora eu já podia pagar por eles, pois estava formada e trabalhando. Mas dentro do meu coração, ainda existia um sonho não realizado: ver novamente os três juntos em um palco.
Então, em uma nota no dia 11 de julho de 2010, ficamos pasmos e tomados por uma felicidade que não consigo nem descrever. Eles estavam de volta.
A comunidade bombou. Centenas de fãs agradeciam a Deus por tê-los trazido de volta. Fiz amizade com um cara do Japão, e mandei-o ao show como correspon­dente. A comunicação não era fácil, mas ele me enviou vídeos incríveis, que me fize­ram chorar feito criança em frente ao monitor.
Show em Guarapari. Pensei: “Eu vou!!”... Eu só não contava que, se antes o problema era não ter dinheiro, agora o problema seria ter com­promissos. Quase não acreditei quando marcaram um evento que eu estava coordenando na escola em que eu trabalho bem no dia do show. Fiquei muito chateada, ainda tentei “ficar doente”, mas seria muita irresponsabilidade, e mesmo com o coração partido, torci muito para o show ser perfeito. E foi. No final das contas, ouvi a 5 músicas do show, por meio de ligações vindas de meus amigos que, sensibilizados, com­par­tilharam comigo esse momento marcante.
Mais alguns desencontros de datas e eu resolvi que teria que abrir o coração para a diretora da escola onde trabalho. Me abri e ela abrandou seu coração e, em um acordo secreto, me liberou para ir ao show do Kid Abelha em Curitiba. Então, finalmente, no dia 14 de abril de 2011, o sonho que alimentei diariamente durante 1732 dias se tornou realidade. Eu vi o Bruno arrasar em seus solos, me encantei com o sax do George e presenciei o casamento perfeito da voz da Paula com as melodias. Parecia que eu estava vivendo um sonho. Eles nunca vão conseguir imaginar o que sinto cada vez que os vejo, e nem mensurar a importância que eles têm em minha vida. Voltei de Curitiba em êxtase, nem consegui dormir durante a viagem.
Em um show que teve em Floripa, venci uma promoção e pude entrar no camarim. Fiquei muito nervosa e, como sempre, não sei o que falar, onde colocar as mãos e fico me achando uma boba, uma criança encan­tada com um brinquedo que sempre almejou.
Foi a partir desse show de Floripa que o meu oftalmologista começou a lucrar e meus olhos nunca tiveram um acompanhamento tão frequente. Cada vez que tem um show em algum lugar viável, eu marco uma consulta e ganho um atestado, podendo, assim, faltar ao trabalho. E foi isso que fiz para poder ir ao show da gravação do DVD do Kid no Rio esse ano. Consultei no primeiro horário da manhã e segui para o Rio.
Foi o maior encontro de fãs de todos os tempos. Foi incrível ver nossa união e, acima de tudo, devoção à banda. Pessoas de todos os lugares fizeram um esforço danado para estarem presentes na grande festa de gravação do DVD. Acredito que poucos artistas puderam ter o privilégio de ter uma plateia como a que prestigiou o show naquele dia. Fizemos um show à parte, foi emocionante. E ganhei outra promo­ção. Em um minuto, tentei falar da importância do Kid em minha vida, fico muito feliz em pensar que eles podem ter assistido a gravação e pelo menos ouvido o quanto eu tenho a lhes agradecer.
É isso, a Carol Pereira que existe hoje não seria a mesma sem o Kid Abelha. Nos momentos mais marcantes de minha vida, as músicas do Kid estiveram presentes e, mais do que isso, as pessoas que fazem parte de minha vida hoje, são frutos do meu amor pela banda.
O Kid abelha me deu amigos... Todo mundo que me conhece já ouviu essa frase, e é a mais pura verdade. O Kid Abelha me deu amigos que também são fãs do Kid, e que irão permanecer em minha vida até o final dela. Amigos que são como irmãos, que um dia vão conhecer meus filhos, que viajam comigo, que participam ativamente da minha vida. Gente que, sem ser pelo Kid Abelha, eu jamais conheceria, pois estamos separados por quilômetros de distância. Nossa história já virou até um TCC de Psicologia, mas nem Freud pode explicar essa nossa amizade e todo nosso amor pela banda.
Hoje tenho 25 anos, sou uma professora responsável, mas sei que já fiz muitas loucuras pela “minha banda”, coisas que espero que minha mãe nunca fique sabendo, mas não me arrependo de nada... Talvez me arrependa um pouquinho de ter roubado em uma madrugada alguns pôsteres dos pontos de ônibus do Rio em 2009, na época do lançamento do DVD da Paula, mas me arrependo só um pouco, e tenho certeza que as outras pessoas que praticaram o ato criminoso comigo compartilham do mesmo pensamento.
São cerca de 30 shows que já prestigiei, se contar os shows solos, ao longo desses anos. Os melhores da minha vida.
Kid Abelha é a magia de minha vida, é a ligação entre a vida real e o surreal, é algo que não sei como definir, é a expansão de meus horizontes, rompimentos de fronteiras tanto territoriais quanto intelectuais, é minha inspiração, minha paixão, minha fixação.
Quando li sobre uma nova pausa, minha primeira reação foi calar-me, evitar pensar sobre isso. Mas hoje, quando por acaso começou a tocar o Pega Vida, chorei, “me bateu um amor”, relembrei vários fatos de minha vida de fã e percebi que, se por ventura a banda chegar ao fim, um pe­daço de minha vida morrerá junto com ela. Aca­bará a magia e eu estarei fadada a viver em um mundo real, com menos cor, criatividade e harmonia.
Eu ainda sonho. Sonho em um show fechado apenas para os fãs, sonho ter como pagar por ele. Sonho em agradecer pessoalmente aos três por eles serem tão importantes em minha vida, mesmo sem perceber. Tenho tantos sonhos que me sinto uma adolescente. Mas isso é bom, sonhar não custa nada. A gente tem é que sonhar, senão as coisas não acontecem.
Eu não desisto de vocês, e sempre vai haver uma canção cantando tudo de nós, cantando tudo de mim.
A cada madrugada, a virada que aprendemos a fazer, porque nos foi dado viver ao mesmo tempo, nesse tempo, nessa era.
Na era Kid Abelha, a banda que fala pela minha alma e que mudou minha vida.

Carol Pereira

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1 Comentários

  1. Carol, simplesmente lindo demais. Há alguns anos, eu tinha o mesmo pensamento. Nunca achei que outras pessoas sentiam o mesmo que eu. Somos únicos! Bjs

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