Thereza Wagner de Souza, tem 91 anos e nos
contagiou com sua alegria, força e vivacidade. Uma mulher que trabalhou na
lavoura, lavando roupa para fora, trabalhava de faxineira, tirando madeira do
mato com junta de boi, quebrando pedras e depois fazendo mais de 100 pães por
dia é a personagem do hoje do Histórias
de nossa gente.
Nasceu em Anitápolis e por conta de um vendaval e
uma forte chuva de pedras que destruiu a sua lavoura vieram morar aqui em
Alfredo Wagner.
Vamos conhecer a história de vida dessa mulher que
pode ser chamada de guerreira?
Como já mencionamos a família de Dona Thereza
morava em Anitápolis, os pais viviam da agricultura de subsistências e ambos
eram descendentes de alemães. O avô paterno veio da Alemanha, e naquele tempo
era proibido falar em alemão e até mesmo assinar o sobrenome, para evitar
problemas. A infância e juventude foi vivida na era Getúlio e era comum os
imigrantes e seus descendentes passarem por esse tipo de problema.
Ela estudou até a quarta série e como todos os
nossos entrevistados ela lembra com carinho do nome de sua professora: “Lucinha o nome da professora”. A educação
naquela época era diferente dos dias atuais “Ela tinha uma varinha, mas para mim ela era bem boazinha” era
comum que as professoras daquela época utilizarem varinhas ou outros “recursos”
do tipo, para manter a ordem dentro da sala. “Até que ninguém apanhava muito, mas naquele tempo tinha mais respeito”.
A escola era perto de sua casa e apesar do pouco tempo de estudo guardou e
utiliza as lições que aprendeu com a antiga mestre Lucinda, ainda relembra até
mesmo as tabuadas e sente saudades do tempo que levava flores para a professora
e lhe dizia versinhos.
Quando a juventude foi chegando, não se tinha muito
para fazer onde moravam – interior de Anitápolis – “Ah, tinha lá ou cá um baile”. Para se divertir existiam apenas alguns poucos
bailes e ir na “reza” todo domingo, ela recorda que quando a missa acabava
sempre tinham um tempinho para colocar o papo em dia com os amigos que moravam
mais distantes.
Fora isso tinham também os cordões de carnavais,
que deixaram saudade na memória de Dona Thereza, com suas marchinhas embalando
as tardes antes da quaresma.
Mesmo sendo escassos, foi em um baile que ela conheceu
o marido, Benoni Souza. Foi lá que trocaram os primeiros olhares e Benoni veio
falar com ela. “Naquele tempo não
beijava, nem pegava na mão, era sempre na frente do pai”. Com uma marcação
tão cerrada o jeito era logo casar. Após o matrimonio morou com o sogro e a
sogra até conseguirem construir uma casinha.
Foi em Anitápolis que nasceu a primeira filha do
casal, Dalci. A vida ia bem, eles já tinham sua casa, suas lavouras, mas um dia
uma grande tempestade fez com que o casal perdesse tudo o que já havia
conquistado. Não sobrando nada, a única saída era recomeçar a vida em um outro
lugar. O local escolhido foi Alfredo Wagner, então a família colocou tudo o que
sobrou em uma carroça e vieram para cá. O primeiro local que moraram foi no
Barracão, em uma das casinhas que o seu Tolda tinha para serem alugadas.
Para recomeçar é preciso garra e coragem e isso
Dona Thereza tinha de sobra. “Nada era
ruim pra mim”. Dona Thereza nunca teve medo do trabalho! Assim que chegaram
em Alfredo Wagner foi ajudar o marido a tirar madeira do mato. A madeira era o Sassafrás,
em nosso estado a partir da década de 40 muitas arvores foram derrubadas e
trituradas para se transformarem em óleo de Sassafrás ou “safrol”, na maioria das
vezes o óleo era vendido bruto para os Estados Unidos e lá era refinado e
ganhava as mais diversas finalidades, muitas delas medicinais. Esse era um
trabalho árduo e difícil, mas Thereza não se deixava abater. Após a árvore ser
derrubada, ela precisava ser retirada do mato e exigia muita força, para puxar
as árvores ajudada por uma junta de bois.
Como se retirar a madeira do mato não fosse o
suficiente, após essa atividade perder a força ela e o marido encontraram um
novo emprego: carregar e quebrar pedras. Duas novas pontes estavam sendo
construídas na cidade, uma que dava a acesso a comunidade do Caeté e outra que liga
o Barracão as comunidades as margens do Rio Itajaí do Sul – ponte do trevo.
Para isso precisavam de pedras para construir suas cabeceiras e Dona Thereza e
o marido fizeram esse serviço. “Como a
gente passava trabalho naquele tempo, né?”, diz dona Thereza sorrindo. A
obra foi bem feita e as pontes permanecem de pé até hoje.
Após finalizarem a obra de construção das
cabeceiras das pontes, dona Thereza teve a ideia de começar a fazer pão para
vender. A iniciativa deu certo e ela chegava a vender mais de 100 pães por dia!
Era o tempo em que a Camargo Correia estava trabalhando aqui e também o início
das máquinas de cebola, então além de vender nas casas, ela tinha compromisso
com essas empresas.
Então se você pensou que após parar de quebrar
pedras o trabalho diminuiu, você se enganou! Fazer tantos pães assim por dia
não era um trabalho fácil... Dona
Thereza acordava as 2 horas da manhã, para começar a amassar o pão e aquecer os
fornos, que a princípio eram a lenha. “Nem
dormia direito, dava aquela vontade de levantar”. Eram muitas fornadas por
dia. No forno a lenha cabiam 50 pães, depois vieram os fornos elétricos e
nesses cabiam 20 pães, mas mesmo assim o trabalho era bem menor. Ela lembra dos
amigos que ajudavam a quebrar lenha “A
sorte é que eu tinha muito amigo, aqui no Ita, o Agnaldo, o Papagaio, que
rachavam lenha pra mim. O Cleber! Essa noite ainda lembrei dele, coitado,
quanta “lenhinha” ele rachou para mim”. Muito meninos trabalhavam para
entregar os pães de Dona Thereza e ela também relembra deles com muito carinho.
Dona Thereza vendeu pães durante décadas, mas
acabou parando a produção após a morte do marido, porém após muitos pedidos para
que ela retomasse a produção ela passou a receita para a nora Eliane, que hoje
ainda mantém a tradição e marca “Pão da Dona Thereza” no mercado.
Quem vê a alegria de nossa entrevistada não imagina
por tudo o que ela passou na vida, não foi apenas um recomeço em sua vida, na
vinda de Anitápolis para Alfredo Wagner, mas muitos... As enchentes eram
frequentes naquela época, a água entrava pela Beira Rio – onde a família mora
até hoje – e a violência das águas ia levando tudo o que encontrava pela frente.
Em uma das piores cheias a enchente levou tudo o que ela tinha, todo o estoque
de trigo, formas, moveis, fazendo com que ela e os vizinhos dias depois ainda
estivessem atrás de suas coisas. A única forma foi recomeçar do zero, mais uma
vez. “O que eu ia fazer? Tinha que
recomeçar”. Ela relembra que na ocasião o marido não queria deixar a casa,
mas retiraram ele. Nessa enchente eles perderam quase tudo, a água estragou
tudo o que tinham dentro de casa. E ela fala com orgulho que conseguiu. Eles
não tinham nem formas, nem onde assar os pães quando a água baixou, mas como
sempre Dona Thereza conseguiu.
A matriarca da família é fonte de amor aos três
filhos – Dalci, Celso e Vitor – aos 11 netos e aos oitos bisnetos, mas além
disso ela é inspiração para todos nós alfredenses.
Ela já não ouve mais a gaita do marido, que se
calou a alguns anos, mas se sente uma pessoa abençoada por ter a família por
perto e muitos amigos “não posso nem
sair na rua”, diz ela ao se referir a quantidade de gente conhecida que
encontra ao sair de casa. Em breve dona Thereza completará 92 anos, mantendo os
mesmos hábitos, de ir dormir cedo – por volta das 5:30 -, acordar cedo também,
cultivar a fé e trabalhar, pois mesmo com essa idade ela ainda não decidiu
parar, ela ainda engraxa as formas para a nora assar os pães e cuidando do
quintal.
“Meu remédio é trabalhar”,não toma
nenhum tipo de remédio “Tomo só café e
água” e Vez ou outra ela confessa que coloca uma colherzinha de cachaça no
café... talvez seja esse o segredo de sua alegria ou a certeza de que construiu
uma bela história.
Não conseguimos sair de lá sem
tomar um cafezinho, cheio de amor e sabor.
3 Comentários
Quanta luta, quanta garra dos "mais velhos", quanta bravura das gentes que construíram o Brasil. Abç à dona Thereza, Carol.
ResponderExcluirMeu Deus, que coisa querida, cresci na casa deles, tenho uma estimação por Dia.Tereza, minha segunda mãe, que Deus lhe dê muita saúde, parabéns carol, vocês sao demais
ResponderExcluirShow de bola a história desta guerreira e exemplo de pessoa que é a dona Thereza, eu acredito que o esforço, dignidade, simplicidade e o amor daquela época, ainda podem salvar o futuro dos jovens atuais, os acordando para a vida realmente. Dona Thereza seja sempre abençoada, pessoas como a senhora são fontes de inspiração, obrigado de coração por compartilhar a sua história.
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