Personalidades: Antônio Carlos Thiesen - Tonico




8 de novembro de 1940

28 de junho de 2018


Antônio Carlos Thiesen Sobrinho nasceu em 8 de novembro de 1940, no centro da cidade de Alfredo Wagner, na casa de seus tios Talico e Julita, que era irmã de sua mãe Geni, e como Antônio Carlos era o primeiro de três filhos, ela se sentia segura o tendo junto a irmã. 

Geni e Antônio eram agricultores e açougueiros e moravam no Rio Engano, mas vieram para o centro para que Julita ajudasse com o bebê. Da infância, o pequeno Tonico sempre recordava que havia sido coroinha e bebia o vinho do padre escondido. Mas nem só de travessuras vivia o menino. Desde muito cedo, ele foi ensinado a trabalhar duro e com apenas oito anos ele pegava a carroça do pai e ia até a Catuíra para vender a carne da charqueada — como eram chamados os açougues antigamente — do pai e assim a família ter mais renda. Ele frequentava a escola Adventista da comunidade do Rio Engano, apesar de sempre ter sido católico.

Quando ele era pequeno, estava brincando com seus primos nas batatas à venda no comércio de seu avô, caiu e quebrou a perna. Esse acidente foi o principal motivo que fez o jovem Antônio Carlos abandonar a Marinha. Os problemas na perna e a necessidade de ajudar os pais em casa o fizeram voltar. Ainda morando no Rio Engano, ele aprendeu a profissão de Alfaiate com seu Ciro, mas as coisas não iam bem por lá e eles resolveram se mudar. 

A família de Antônio Carlos se mudou de vez para o Barracão. Como a família era tradicional no ramo da Charqueada, eles resolveram montar uma no centro da cidade também. A Charqueada do seu Tonho — como era chamado o pai de Antônio Carlos — ficava onde se encontra o prédio da CASAN de Alfredo Wagner, na Avenida Beira Rio.

O pai de Antônio Carlos adoeceu e ele resolveu mudar o ramo de comércio, abrindo uma verdureira e logo começando também a trabalhar na antiga CAFASC — que era um órgão do governo do Estado de Santa Catarina semelhante a CIDASC hoje em dia.

Foi mais ou menor por essa época que Antônio Carlos conheceu a mulher de sua vida. A sua companheira, que o acompanharia até o fim. Mulher forte e batalhadora, que passaria por todos os empecilhos que a vida traria ao seu lado, o ajudaria a se reerguer e, junto a ela, criariam uma linda família, sempre baseada em ajudar o próximo.

Os dois se conheceram na casa da tia Julita. A moça Marlene trabalhava na casa do casal Talico e Julita, e nunca irá esquecer do dia que chegou na cozinha e avistou aquele belo rapaz encostado na pia. Ela revela que ali mesmo, naquele instante, pensou “eu poderia me casar com esse rapaz”. Mas ela não acreditava que isso um dia se tornaria realidade, pois ela vinha de uma família pobre e parecia impossível que ele realmente se interessasse por ela. Porém, Antônio Carlos sentiu o mesmo pela moça e não demorou muito para pedi-la em namoro. A princípio, ela não acreditou, pensou que pudesse ser apenas gozação. Ela lembra que ele perguntou: “Você tem namorado?”, ao que ela respondeu: “Não tenho e nem quero ter”, evitando assim que ele falasse qualquer outra coisa. 

Marlene era filha de Júlio e Veneranda, um casal muito trabalhador e conhecido por todo mundo que morava no Barracão. O casal não era natural de Alfredo Wagner, ele havia vindo de Braço do Norte e sua esposa de Orleans. Júlio trabalhou na Laminadora, mas ficou conhecido mesmo por trabalhar como servente e na cantina do Silva Jardim. Todo mundo conhecia o sanduíche de pão com mortadela do seu Júlio; Veneranda, além de ser dona de casa, ainda vendia deliciosas cocadas e pé-de-moleque para complementar a renda da casa.

Antônio Carlos não estava preocupado se a moça tinha dinheiro ou não, e seguiu tentando, sem ter resultado, mas então uma amiga em comum abriu os olhos da moça e não demorou muito para começarem a namorar.

Namoraram por três anos e então, no dia 20 de outubro de 1962 eles se casaram. Ela com 20 anos e ele a poucos dias de completar 23. 

Dona Marlene relembra do casamento com nostalgia. Ela diz que eles nunca passaram um dia brigados, ou sem se falar. Foi uma vida devotada à igreja, à partilha e de muita luta. “Nós sempre estivemos juntos, nos altos e baixos, e sempre tivemos forca para arregaçar as mangas e trabalhar, reconstruir, recomeçar”. 

O marido a princípio trabalhava na CAFASC sendo convidado a ir trabalhar em Florianópolis, mas ele não queria deixar Alfredo Wagner. Ele trabalhou lá durante algum tempo, cerca de três meses, mas depois voltou, para trabalhar na recém-criada CASAN de Alfredo Wagner. 

Nessa mesma época, em 1979, eles abriram o Bar e Restaurante Detalhes, que seria um ícone da juventude dos anos 80 na cidade de Alfredo Wagner. O bar, localizado no centro da cidade, onde hoje se encontra o prédio da família, atraia todo tipo de público e ficou em funcionamento até o ano de 1989. A lanchonete Detalhes está entre as memórias de muita gente que viveu em Alfredo Wagner durante essa época, uma época agitada que vivia a fervorosa chegada da Camargo Corrêa ao município.

Além disso, foi a oportunidade de mostrar que Marlene havia herdado os dotes culinários da mãe Veneranda e do pai Júlio. Com o restaurante, eles também realizavam jantas para eventos como casamentos, eventos de cunho político, confraternizações de instituições como o Banco do Brasil etc. Dona Marlene lembra com saudosismo também dos frequentadores ilustres da lanchonete, tais como: Amado Batista, Irmãs Galvão, Sílvio Brito, Perla, Cacau Menezes, deputados, governadores e até mesmo a seleção Brasileira e a seleção Francesa de Voleibol, que jantavam lá toda vez que jogavam no Ginásio Rogerão, que havia sido inaugurado há pouco tempo. 

Nesse mesmo período, seu Antônio Carlos era vereador. Ele teve uma intensa carreira política no município, ele foi eleito em três mandatos: de 1969-1973, de 1977-1982 e de 1983-1988. Como vereador, ao longo dos 12 anos em que atuou, foi presidente da câmara em seis oportunidades, nos anos de 70, 71, 79, 80, 85 e 86. Além da carreira política, seu Antônio Carlos foi muito ativo em outros setores da comunidade, como na presidência da Comissão da Igreja Católica, sócio fundador do Lions Clube, por muitos mandatos presidente da Sociedade Recreativa União Clube e teve uma atuação marcante na presidência da Fundação Médico Assistencial do Trabalhador Rural (hospital de Alfredo Wagner). Sua vida foi marcada por ações em favor da comunidade.

A família relembra que ele ajudou na construção da igreja, em 1965. Ele ainda era jovem e durante muitos dias puxou pedras do rio para fazer a fundação do prédio. Além disso, como vereador, ele ajudou na construção das capelas do interior do município, construídas na época em que Padre Alfons era o padre da paróquia da cidade. Além disso, ele sempre arrematava a primeira dança dos salões da igreja, ou o bolo, ou qualquer outra coisa que estava sendo leiloada para ajudar a comunidade. E, um fato interessante, ele nunca ficava com o objeto arrematado, sempre o doava para alguém.

Além da política, sua grande paixão, Antônio Carlos ainda tinha outros hobbies, como jogar futebol — basta olhar fotos antigas de times de futebol do antigo Barracão e o seu Antônio Carlos sempre é encontrado nelas. Além disso, quando jovem, ele gostava muito de cachorros e de caçar pelas redondezas do Rio Engano. 

Do casamento com Marlene, uma grande família nasceu, são cinco filhos — um falecido —, 11 netos, cinco bisnetos e um trineto, que infelizmente ele não teve a oportunidade de conhecer. 

Antônio Carlos tinha muito amor pelos netos, principalmente quando eles eram pequenos. Mas a neta Marciani relembra que seu avô foi um grande amigo e conselheiro em sua adolescência e vida adulta. Ela escolheu a faculdade de Serviço Social por conta da semelhança com o avô e por ele pensar que ela se daria bem nessa área, por notar nela o altruísmo que via em si mesmo. 

Seu Tonico, como também era conhecido, tinha uma filosofia “O que a mão direita faz, a mão esquerda não precisa saber” por isso ele ajudava os outros e não fazia questão de que isso fosse conhecido pela comunidade. Dona Marlene conta que, depois de sua morte, muitas pessoas foram conversar com ela, dizendo que o marido tinha os ajudado, das mais diferentes formas. 

Ele sempre ensinou a família a ajudar o seu semelhante e não eram raras as vezes que a família tinha desconhecidos a mesa para a refeição. Muita gente ele avistava na rodoviária sem ter comida ou outros vinham o procurar, sabendo que ele não negaria ajuda. 

Muitas vezes ele tirou dinheiro do próprio bolso para pagar dívidas do hospital. Como todos sabemos, não é de hoje que o hospital de Alfredo Wagner passa por dificuldades e mesmo diante de tantos problemas, seu Antônio Carlos não negou ser mais uma vez o seu presidente. Foi estando na presidência do hospital que ele veio a falecer no dia 28 de junho de 2018, em um ataque cardíaco enquanto resolvia coisas do hospital. 

Ele se foi, mas seu legado permanece. Sua família continua andando conforme seus ensinamentos e guardando com orgulho a sua memória. 


Informações repassadas por:

Marlene Wessler Thiesen

Sandra Maria Thiesen Maciel

Marciani Maciel

Marcela Maciel Scheidt

Biografia presente no livro "Histórias da Nossa gente"
das autoras: Carol Pereira e Manuella Mariani 



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