Ir a Pompeia partindo de Roma não é muito
complicado. Primeiro você deve pegar um trem para Napoli e lá pegar um trem
regional até Pompeia. Eu fui seguindo as orientações de um blog e não teve erro
para encontrar o local onde comprar a passagem e o portão de embarque. O
problema foi saber qual trem pegar. Tive que pedir informação e foi assim que
eu conheci Kasia e Bogusia, mãe e filha da Polônia, com quem passei o dia
inteiro.
Junto com minhas novas amigas embarquei no trem e
seguimos até a “cidade perdida”.
Peguei um áudio guia para me orientar e seguimos...
A história de Pompeia e sua tragédia são contadas
há séculos, mas nada se compara à experiência de conhecer a cidade com seus
próprios olhos. O estado de conservação do lugar é impressionante, bem como a
história que a encerra e todos os ensinamentos sobre sua cultura e arquitetura.
É uma visita imperdível, se você assim como eu, curte história.
Foto: Katarzyna Dargacz |
Através das pesquisas arqueológicas, possíveis a
partir do sítio arqueológico, aprendemos muito sobre como viviam as pessoas
daquele lugar e, em uma visão mais ampla, as pessoas daquela era. As escavações
começaram em 1748 e continuam até hoje – inclusive no dia da minha visita
existiam vários arqueólogos trabalhando no sítio.
Os moradores de Pompeia não sabiam que a montanha
era na verdade uma bomba relógio, prestes a explodir. A última erupção do
vulcão havia acontecido a mais de 1.500 anos, então todos os sinais dados pelo
vulcão antes da erupção – que os mesmos alunos do Silva Jardim aprendem nas
aulas de geografia – foram ignorados por eles. Quando a catástrofe teve início,
as grandes nuvens de fumaça negra cobriram o céu e os moradores da cidade não
sabiam nem ao menos o que estava acontecendo. Segundo um dos únicos relatos
escritos sobre a tragédia, o de Plínio, o jovem, que viu tudo de uma distância
segura: “Eles achavam que não existiam mais Deuses e que o universo tinha
mergulhado na escuridão!”. Na cidade, ainda se encontram alguns locais onde as
pessoas tentaram se abrigar. Espécies de bunkers subterrâneos onde foram
encontrados diversos esqueletos humanos, carregando seus pertences mais
valiosos e lamparinas, que provavelmente os guiaram pela escuridão em busca da
salvação de suas vidas.
Foto: Katarzyna Dargacz |
Outro ponto certamente interessante são os moldes
de gesso que permitem que os visitantes vejam as expressões dos corpos
encontrados. Isso porque a chuva de cinza fina que cobriu o local aderiu às
formas dos corpos e roupas das vítimas, preservando o momento em que morreram.
Com uma técnica que utiliza gesso, desenvolvida por Giuseppe Fiorelli, diretor
de escavações entre 1860 e 1875, foi possível mantê-los intactos, como foram
encontrados pelos pesquisadores, até os dias de hoje.
Foto: Katarzyna Dargacz |
As pesquisas arqueológicas revelaram que a
sociedade pompeiana, como qualquer outra do Império romano, apresentava grandes
contrastes e diferenças de classe: os escravos e plebeus trabalhavam para os
patrícios e o sonho dos cativos, quando conseguiam a liberdade, era ganhar
dinheiro suficiente para comprar seu próprio escravo. Pompeia vivia basicamente
do comércio de azeite e do vinho que produzia. Sua localização estratégica,
entre o mar e a foz do rio Sarno, facilitava a exportação desses produtos para
cidades do Mediterrâneo. E assisti recentemente em um documentário da BBC de
Londres que, de acordo com os pertences encontrados com os corpos dos mortos, o
povo de Pompeia tinha conhecimento sobre os outros povos e culturas, que
ficavam do outro lado do mediterrâneo, em contraste com outras partes da Europa
naquela época.
As escavações mostraram também que os moradores de
Pompeia veneravam os deuses oficiais romanos, tanto que havia templos em
homenagem a Apolo, Júpiter e Vênus, a quem ofertavam orações e bens.
As paredes dos bordéis são uma das atrações que
levam mais de 1 milhão de turistas anualmente às ruínas da cidade. A outra
grande atração fica por conta das casas, em sua maioria luxuosas e espaçosas,
todas com um jardim no meio. Por meio delas, pode-se reconstruir a típica casa
romana da classe média abastada ou rica.
Outra descoberta importante dos arqueólogos foram
os grafitos que se espalhavam por toda a cidade. Havia inscrições para todos os
gostos: desde os que anunciavam a troca de um amante por outro até citações.
Além disso, nos muros das casas, edifícios públicos e até nas sepulturas,
gravavam-se anúncios de combates de gladiadores e muita propaganda eleitoral.
Alguns grafites de Pompeia parecem anúncios de
prostituição, mas talvez sem as tentativas de difamar conhecidos. “Quem sentar
aqui deve ler isso antes de qualquer coisa: se quiser uma trepada, pergunta por
Ática. O preço é 16 asses”.
Os grafites também revelavam que existia amor em
Pompeia. Na parede de um bar um vizinho zomba do rapaz que não é correspondido
pela amada. “Sucesso, o tecelão, ama uma garçonete chamada Íris, que não gosta
dele; e quando mais ele implora, menos ela gosta”. Uma mensagem tenta consolar
uma mulher traída. “Agora a ira é recente, é necessário que passe o tempo.
Quando a dor for embora, acredita, o amor voltará”. Um viajante que passou por
Pompeia anotou no seu quarto, provavelmente antes de dormir: “Vibio Restituo
aqui dormiu sozinho e lembrou-se ardentemente de sua amada Urbana”. Na parede
de um teatro, um jovem suplica: “Se você conhece força do nosso amor, e a
natureza humana, tenha pena de mim, conceda-me os teus favores”.
Principais
atrações:
A Casa do
Fauno: Com 2.970 m2, é a maior e uma das mais impressionantes
residências de Pompeia. Foi construída no início do século 2 a.C. e,
posteriormente, passou por diversas reformas até chegar ao aspecto atual. No
centro do impluvium, espécie de tanque para juntar as águas pluviais, se ergue
uma réplica da estátua de bronze do Fauno, cuja original se encontra no Museu
Arqueológico Nacional de Nápoles. O Mosaico de Alexandre (outra réplica cuja
original está no museu), que representa a vitória de Alexandre Magno contra
Dario, rei da Pérsia, também pode ser visto ali.
Casa dos
Vettii: É uma das mais célebres e luxuosas residências de Pompeia. A
escavação cuidadosa preservou quase todos os afrescos de suas paredes, que são
o ponto alto da visita. A identidade dos moradores, dois ricos libertos, ficou
preservada em pichações feitas em períodos de campanha eleitoral na frente da
casa. Dois anéis contendo inscrições com seus nomes também foram encontrados.
Na grande domus, como eram chamadas as casas das ricas famílias romanas, um dos
aposentos se destaca por seus painéis de vermelho escuro com frisos com
pinturas de cupidos.
Villa dei
Misteri: Foi construída no século 2 a.C., em uma colina, de frente para o
mar e fora dos muros de Pompeia. É uma das mais de cem moradias descobertas na
área do Vesúvio, geralmente ligadas à exploração da agricultura, mas que também
serviam de refúgio para os endinheirados. Inclui um bairro residencial e uma
área para os empregados, ao lado dos locais onde se fazia vinho. Um dos pontos
altos da visita é o triclínio (espécie de sala de jantar), decorado com
afrescos que retratam ritos de iniciação nos mistérios do deus grego Dionísio e
das mulheres em sua vida de casada. É dessas pinturas que vem o nome do lugar.
Teatro
Grande: Construído no século 2. a.C. é inclinado e tem o formato de uma
ferradura - modelo de construção que permitia que o som se propagasse e fizesse
com que todos os presentes ouvissem o que era dito no palco, que ficava ao
centro, embaixo. Era dividido em três zonas, das quais a mais baixa (ima
cavea), coberta com mármore, era reservada para os cidadãos importantes da
cidade. Acomodava 5.000 pessoas. Não deixe de ver também o Teatro Pequeno e o
Quadripórtico dos Teatros (espécie de grande jardim onde os espectadores podiam
se reunir e se encontrar nos intervalos das apresentações), todos
próximos um do outro e parte do mesmo complexo.
Fórum:
Construído no século 2 a.C., era o coração da cidade. Nessa grande praça,
localizada na esquina das principais ruas de Pompeia, se debatiam as questões
políticas, administrativas e comerciais da cidade.
O local era fechado para carros e ladeado por
importantes edifícios religiosos, políticos e econômicos. Ao norte, o Fórum é
fechado pelos Arcos Honorários, originalmente revestidos de mármore e que eram
dedicados à família real. Eles estavam dispostos em cada um dos lados do Templo
de Júpiter, outro destaque do local, construído também no século 2 a.C. Com uma
grande escadaria e colunas, tinha em seu interior uma estátua de Júpiter, cuja
cabeça foi encontrada durante as escavações.
Anfiteatro:
Construído em cerca de 70 a.C., é uma das construções mais antigas e bem
preservadas de Pompeia. O edifício foi concebido para combate de gladiadores e
tinha capacidade para 20 mil espectadores, o equivalente a toda a população da
cidade. O auditório é dividido em três áreas: o cavea ima (primeira fila), para
os cidadãos importantes, a mídia e a soma, mais elevados, para os outros. No
eixo principal da arena ficava a passagem pela qual adentravam os participantes
das lutas. Do outro lado estava o local por onde se retiravam os corpos dos
mortos ou os feridos. Aproveite e visite também o Ginásio Grande, que fica logo
ao lado, e era reservado aos exercícios de ginástica promovidos por associações
juvenis de Pompeia.
Templo de
Apolo: É um dos mais antigos santuários de Pompeia, como atestado pela
decoração arquitetônica sobrevivente datada de 575-550 a.C., embora o arranjo
atual seja século 2 a.C. Possui um pórtico com colunas jônicas e o chão é
coberto de um tipo de pedra policromada que imita desenhos de cubos em
perspectiva. Nas laterais, estão as réplicas das estátuas de Apolo e Diana,
retratados como arqueiros (os originais estão no Museu Arqueológico Nacional).
O altar ao pé da escada é 80 a.C. A Basílica, que fica próxima, também vale uma
visita.
Termas:
Nem todos os habitantes da cidade possuíam água em casa, por isso as termas
tinham grande importância para a população de Pompeia. Além de uma necessidade,
elas também eram um evento social. Ali, eles se encontravam com amigos,
conversavam e estabeleciam contatos políticos. Homens e mulheres tinham áreas
separadas. As termas de Stabia são as maiores e mais antigas da cidade, do
século 2 a.C. Parada obrigatória, elas ainda exibem a refinada decoração com
motivos figurativos e mitológicos, feita pouco antes da erupção de 79 d.C. Ali
também é possível ver alguns corpos dos mortos na erupção. Bem preservadas, as
termas do Fórum são as segundas maiores da cidade e datam de 80 a.C., também
merecendo uma espiada.
Lupanário:
Lupa, que em latim significa prostituta, dá nome a esse local que é um dos mais
bem organizados dos muitos bordéis de Pompeia. Ele é o único construído com essa
função específica – os outros constituíam-se apenas de uma cama no andar
superior de alguma loja. São cinco quartos e uma latrina no piso térreo e mais
cinco quartos no andar superior. O destaque fica por conta das camas do bordel:
cada quarto tem a sua, feita em alvenaria originalmente coberta por um colchão.
Outro ponto interessante são as pinturas que retratam diferentes posições
sexuais e que adornam todo o bordel. As prostitutas eram escravas e seus
rendimentos iam todos para o cafetão. A marca de uma moeda de 72 d.C., gravada
em uma argamassa do edifício, demonstra que ele é de um dos últimos períodos da
cidade.
O jardim dos
mortos: Neste extenso espaço, onde atualmente há um vinhedo, se encontram
os corpos de algumas das vítimas da erupção de 79 d.C. Os formatos de seus
corpos e rostos no momento da morte foram preservados por uma técnica com gesso
desenvolvida por Giuseppe Fiorelli, diretor de escavações de Pompeia entre 1860
e 1875.
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