Uma conexão longa em Paris.
Paris, de gente grosseira, sem vontade nenhuma de ajudar.
Paris com sujeira e cheiro de xixi.
Seria minha primeira vez sozinha na Europa e é
óbvio que eu estava morrendo de medo. Eu queria sair do aeroporto e ver um
pouco mais da cidade que, apesar de sua gente mal-educada e seu cheiro, é
maravilhosa e tem uma história incrível que é claro que chamou minha atenção.
Mas eu teria coragem de sair do Charles de Gaulle sozinha e dar uma volta pelos
boulevards de Paris? Era uma pergunta que eu me fazia durante a viagem.
Chegando lá eu ainda não havia decidido, mas logo
no ônibus, saindo do avião até o aeroporto, eu conheci Fernanda e Fabrini, brasileiras
que também estavam por lá. Não conheciam a Torre e queriam vê-la de perto.
Fabrini me acompanharia, ela é de Tijucas, aqui pertinho de Alfredo e, além
disso, depois descobrimos que viemos na mesma fileira de bancos, junto com o
fedido – um homem muito fedorento que fez eu vir a viagem toda com a cara
virada para o corredor para tentar fugir da carniça dele – e o morto da fome –
que veio comendo uma pizza (sério!), uma pizza grande, com a caixa e tudo. Bem
porcalhão, limpando os dedos na tampa da caixa. Sim, eu me admiraria se meus
colegas de banco fossem normais, pois esse tipo de coisa sempre acontece
comigo.
Chegando em Paris, era a hora da verdade. Eu
conseguiria me comunicar com os franceses?
Para minha surpresa consegui e de quebra ainda
tirei a má impressão da capital francesa. Em dois meses será que eles ficaram
mais educados?
É claro que essa é uma pergunta que não pode ser
respondida, mas as pessoas que encontrei pelo caminho foram gentis e me
ajudaram quando preciso.
Sair do aeroporto foi fácil - quando aprendemos a
falar ERE B – mas, um pouco inseguras, entramos no metro e seguimos até o
Trocadero. Eu me senti muito adulta conseguindo chegar até lá.
Ver a torre novamente foi impressionante. Eu
lembrava da reação que tive ao contemplá-la, então prestei atenção em Fabbrini
e foi muito legal ver a reação dela ao colocar os olhos na torre pela primeira
vez. Realmente impressionante, eu deveria ter filmado.
Meus amigos que me desculpem, mas Paris, mesmo com todos os seus
defeitos, não é uma cidade que pode ser ignorada. A atmosfera, o estado de espírito,
tudo contribui para que qualquer tempo na cidade se torne uma experiência
única. Passeamos pelo trocadero e pelo Campo de Marte, o clima estava
agradável, não tinha como não desfrutar do passeio. Paris é elegante, imponente
e apaixonante. A má impressão se foi – nossa, ando muito fácil.
Agora sim, vi a torre – que faz aniversário junto
comigo e Eva Schneider – por todos os ângulos possíveis e posso afirmar que ela
exerce um enorme fascínio sobre mim.
Ela é o símbolo maior de Paris que se transformou
no símbolo da França inteira, onipresente na paisagem parisiense, a Torre
Eiffel foi repudiada pelos parisienses, desde a sua construção até meados do
século XX. Considerada como um objeto estranho que esmagava os outros
monumentos pela sua altura e corpulência metálica, ela só escapou da destruição
porque foi defendida pelos militares e cientistas. Ela serviu às primeiras
experiências do telégrafo sem fio, foi posto de observação militar durante a 1°
Guerra Mundial, captava as mensagens e vigiava os aviões durante manobras
militares, resistiu à Hitler - falando em Hitler, você já deve ter visto uma
foto dele no Trocadero, ostentando a dominação da cidade - e participou das festas da libertação de
Paris da ocupação alemã se transformando temporariamente em bordel militar para
os soldados americanos. A torre é muito mais do que um belo monumento, ela é
também testemunha da recente história de Paris.
Na volta, uma parada para admirar o rio mais
charmoso do mundo. O Sena é um dos grandes protagonistas de Paris! Aliás, sabia
que Paris só existe por causa do rio?! Ok, vou contar a história! Uma tribo
celta que se chamava Parisi estava navegando pelo rio e encontraram uma ilha.
Lá eles se instalaram e fundaram a cidade chamada Lutécia. Daí vieram os
romanos, conquistaram a ilha e começou a expansão de Paris, que é assim chamada
por causa da tribo! A ilha é hoje onde fica a catedral de Notre Dame.
Voltamos para o aero sem maiores problemas. Passei
umas 15 horas por lá, em companhia de Fabrini e depois com Ana Terra e Bolivar
– estava lendo O tempo e o vento. Meu voo era apenas as 7 da manhã do outro dia
e confesso que tive uma noite bastante desagradável no aeroporto. Não teve nada
daquilo de ir para o bar do aeroporto e um gato se oferecer para pagar um drink
enquanto vocês riem e conversam sobre aventuras ao redor do mundo. O negócio
foi dormir meio escondidinha, no chão frio e sujo do aero, enquanto mais gente
tentava fazer o mesmo. Graças a Deus, os raios de sol chegaram e eu finalmente
embarquei para Roma.
Voltar a Paris em menos de 3 meses nem nos meus
sonhos mais delirantes parecia real. Mas aconteceu, 23 horas serviram para eu deixar os
ressentimentos para lá, ver a cidade com outros olhos e declarar meu amor por
aquela torre.
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