Projeto: O Caminho de Arzão


Brasil Colônia, século XVII:

Com a fundação da vilas de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco (1658), Nossa Senhora do Desterro (1673) e Santo Antônio dos Anjos da Laguna (1676) a Coroa Portuguesa estabeleceu uma base econômica no litoral, e assim, passou a dispor de opções para a expansão de novos territórios.

Brasil Colônia, século XVIII:

No planalto serrano, às margens do Caminho das Tropas[1], fazendas de criação de gado começaram a surgir. A primeira tentativa de criar um povoado no planalto serrano da Capitania de São Paulo foi em 1766, comandada por Antônio Correa Pinto. A fundação da vila de Nossa Senhora dos Prazeres das Lagens ocorreu em 1771.
A partir da fundação da vila de Lages, formou-se uma importante base econômica entre o litoral e o planalto: agricultura e pecuária, respectivamente. Com a base econômica estabelecida, fazia-se importante abrir uma estrada que ligasse Desterro à Lages.
Então, o Governador da Capitania de Santa Catarina, ordenou, em 1776, que o Tenente José Luiz Marinho, chefiando um grupo de desbravadores, iniciassem a abertura de uma estrada em direção ao planalto. E assim o fez, desbravando pela primeira vez o planalto serrano paulista.
Com a invasão de Desterro pelos espanhóis em 1777, ficou ainda mais evidenciado a importância da abertura e implantação de novas estradas que ligassem as vilas do interior com as do litoral, não só mais por questões mercantis, mas também por questões civis. Mas, devido ao falecimento do Tenente Marinho, as explorações e a abertura da estrada foram paralisadas.
Somente dez anos depois tratou-se de iniciar os trabalhos para reabertura da estrada. Então, os Alferes Antônio José da Costa e Antonio Marques de Arzão ficaram incumbidos de estudarem o terreno e refazerem a picada para a abertura da estrada.
Em 1787, Antonio José da Costa refez o trajeto, e mais tarde, Antonio Marques de Arzão foi incumbido de encurtar o traçado marcado por Antonio José da Costa. Após esse minucioso trabalho, os serviços iniciaram em 14 de Novembro de 1788 e foram concluídos em 6 de Dezembro de 1790. O caminho aberto passava pelo Morro do Trombudo[2], local onde a Capitania de Santa Catarina se limitava com a de São Paulo. Para se chegar até a vila de Lages faltavam ainda cerca de 100 km.
O curso original da Estrada Desterro-Lages partia de São José de Terra Firme, margeando o Rio Maruim, passando por São Pedro de Alcântara e Angelina. Estendia-se da Boa Vista até o Chapadão das Demoras, via Faxinal Preto. De lá, descia na Catuíra, passando pelo Pinguirito, cruzando, então, a encosta do Morro do Costão do Frade[3]. Esse local, sombrio e úmido, tornava o tráfego muito difícil, sendo que constantemente as carroças atolavam no barro. Assim, em 1792, a Coroa Portuguesa ordenou que Arzão comandasse o calçamento daquele trecho. O trabalho foi executado com mão de obra escrava. O resultado foram aproximadamente seis quilômetros de estrada calçada.
Ficou interessado em conhecer mais sobre “O CAMINHO DE ARZÃO”? O descobrimento dos Campos de Bom Retiro? Afinal, quem era Antonio Marques de Arzão? Saber mais sobre a construção da CALÇADA DE PEDRAS? Ou sobre a Colônia Militar de Santa Tereza, na Catuíra?
O PROJETO tem como intuito, resgatar a trajetória de Antonio Marques de Arzão, de Desterro à Lages, em especial o que cerca a construção da Calçada de Pedras, datada do final do século XVIII. O projeto irá nos permitir conhecer e compreender a importância daquela obra, tanto para o desenvolvimento de Bom Retiro, como para o desenvolvimento do Planalto Serrano e por consequência, do Estado de Santa Catarina.
Pode parecer estranho, mas a ideia do PROJETO surgiu depois de vermos que atualmente, músicas sem conteúdo algum, prendem mais a atenção de uma criança ou de um jovem do que a nossa HISTÓRIA, nossa CULTURA. E saber que, em nossas escolas, nem se quer é citado a rica história que nosso município traz ao longo desses 225 anos de descobrimento e 93 anos de emancipação política.
O projeto está engatinhando, onde pesquisas em mapas antigos, trabalhos acadêmicos, livros, conversas e pesquisa de campo se fazem presente.
Mas a cada dia a ideia ganha corpo e novas descobertas são encontradas, o que torna ainda mais desafiador e incrível o processo de criação desse projeto.

por Thiago Lins




[1] O chamado Caminho das Tropas foi uma antiga via terrestre que ligava Viamão, no Rio Grande do Sul à Sorocaba, em São Paulo, passando por Santa Catarina e Paraná. Esse caminho foi aberto em 1732, por Cristóvão Pereira de Abreu.
[2] No cume do Morro do Trombudo, no dia 12 de Abril de 1791, Antônio Marques de Arzão afixou um marco de madeira delimitando os limites das Províncias de Santa Catarina e São Paulo.
[3] O Morro do Costão do Frade, fica localizado na comunidade que leva o mesmo nome, e nele, é possível visualizar uma rocha com uma formação muito interessante. Ela representa o formato de um Frade. Ainda, durante o século XVIII, foi parada para descanso de Padres Jesuítas, que se escondiam naquele local, transportando ouro e outros objetos de valor.  

MORRO DO TROMBUDO – Foto Thiago Lins O local é histórico pois em 12/04/1791 o Capitão Antonio Marques de Arzão juntamente com o Alferes Antonio José da Costa, afixou um marco de madeira (hoje existe um marco geodésico) delimitando as Províncias de Santa Catarina e São Paulo. Atualmente, o marco serve como divisas entre as cidades de Bom Retiro (sentido oeste) e Alfredo Wagner (sentido leste).


MORRO DO TROMBUDO – Foto Dario Lins

CALÇADA DE PEDRAS – Fotos Thiago Lins
CALÇADA DE PEDRAS – Fotos Thiago Lins A Calçada foi construída por escravos, num percurso com cerca de 6 km em meio a mata. Um patrimônio histórico nacional, com mais de 200 anos.

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