Visitar Nápoles nunca esteve em meus planos mas, como Pompeia estava no
roteiro, Nápoles veio como um bônus e achei uma experiência legal. Apesar de
não ter conhecido os maiores pontos turísticos da cidade, a visita me fez
conhecer o seu povo e a maneira como o napolitano vive.
Cheguei até a cidade de trem, por um caminho L-I-N-D-O
entre as montanhas verdes e o mar Mediterrâneo. A única coisa que eu sabia da
cidade é que lá que se inventou a pizza, a margherita – o que já era importante
– pois é um dos sabores mais populares de toda a Itália, mas nem de longe
passava a ideia de tudo o que a cidade representa.
Eu li em algum lugar que Nápoles é uma espécie de Rio de Janeiro
italiana, pela mistura de beleza natural e caos. Ao invés de Pão de Açúcar, os
napolitanos veem ao longe o Vesúvio; e, no lugar dos comandos dos morros, eles
têm a Camorra, organização similar à Máfia siciliana. A princípio eu não
entendi bem a referência, mas bastou eu sair da estação de trem para
compreender.
Ela é uma das cidades mais antigas da
Itália, já existia desde 2.000 a.C. A história explica o tecido urbano, o
tecido social muito complexo e a riqueza artística impressionante. Lá, além do
italiano, se fala o napolitano que é mais que um dialeto, é considerado um
idioma, reconhecido pela UNESCO devido a sua complexidade estrutural. Apesar de
toda essa riqueza histórica e cultural, a cidade é também um belo exemplo do
caos. Ruas imundas, o trânsito incompreensível, milhões de vendedores de bolsas
e tênis de marca – falsificados – pela rua, gente berrando, carros estacionados
na contramão, em cima de calçadas, pessoas jogando água suja pela janela de
seus apartamentos. Lá a vida pulsa descompassada, apesar de sua beleza cênica incontestável!
Eu estava com Kasia e Bogusia – as polonesas que conheci
em Pompeia – e no caminho da estação até o hotel eu já tive essa amostra do
caos da cidade. Minhas amigas polonesas estavam impressionadas, nunca tinham
visto um trânsito daqueles – lembra muito o trânsito de Ciudad del Este. A bem
da verdade, era assustador. O som das buzinas, os vendedores nos abordando,
gente discutindo aos berros pela rua. Mas, segurei minha bolsa junto ao corpo e
fui. No caminho, Bogusia queria que eu experimentasse um bolinho de arroz e
queijo que ela tinha comido no dia anterior, comprado em uma barraquinha de
rua. Como dizer não a minha anfitriã? Aceitei! Compramos um capuccino e fomos
para o hotel. Lá comemos e Bogusia queria que eu conhecesse o Mercado de rua –
outra experiência antropológica.
Pense na caricatura mais exagerada de italianos. Sim,
falando alto e fazendo aquele gesto da Nair Bello com a mão. Bem carcamano. Pois
é, todos os vendedores eram os mais caricatos possíveis. Ali eu de fato me
senti na Itália. Artesanato, legumes, frutas, peixes, linguiça, morcilha,
queijos, vinhos, produtos de higiene pessoal, roupa, crianças correndo e
brincando, crianças roubando doces de barracas, carrinhos de comida, muitas
pessoas e motos dividindo o espaço apertado e se movimentando. Se me permitem
mais uma comparação, é a versão italiana da 25 de março, só que com ainda mais
barulho e lixo.
Apesar do caos, o mercado é um festival de cores e minhas amigas
polonesas se encantavam com toda aquela diversidade e qualidade das frutas e verduras.
Me contaram que quando chegam na Polônia os produtos já não tem a mesma
qualidade. Compramos tomates, clementinas, linguiças, queijos e vinhos. Vimos
de longes um castelo bem bonito, fomos chacoteadas por algumas crianças,
discutimos preço com donos de barracas – vale lembrar que a gente não falava
italiano e eles não falavam inglês, foi engraçado – e quase fomos atropeladas 3 vezes por uma
italiana de cerca de 150 kg em cima de uma Bis furiosa. Loucura, loucura,
loucura!
Voltei para o hotel particularmente realizada, pois foi de fato uma
experiência única na Itália. Conheci alguns aspectos singulares de uma das
culturas mais ricas do planeta. Foi a beleza junto ao caos.
No hotel abrimos nosso vinho de 1 euro, nosso salame e passamos horas
conversando sobre os mais diversos assuntos. Segunda Guerra, Cinema, família,
política... tudo isso em meio a muitas risadas por causa do nosso vocabulário
limitado e da minha inaptidão com o polonês e delas com o português.
Eu havia passado o dia inteiro com elas, parte em Pompeia – onde
visitamos as ruínas, igreja na parte nova da cidade e comemos uma pizza
deliciosa por apenas 1,20 euros. A Bogusia cuidou de mim como uma mãezona, me
deu frutas, água. Depois, em Nápoles, fez questão que eu conhecesse tudo o que
elas gostaram no dia anterior. Ela disse que estava cuidando de mim como
gostaria que as pessoas cuidassem da Kasia – que é superdivertida e
comunicativa – quando ela vai viajar.
Ela era muito parecida com a minha vó gente, impossível eu não amar.
Quando deu a hora do meu trem, elas me levaram para a estação. Eu tenho
certeza que Nápoles tem muito mais a oferecer do que a parte que eu vi. Sei que
a cidade é linda, cheia de museus, história e uma cultura maravilhosa. Dessa
vez, conheci apenas o caos, mas a cidade ficou mesmo marcada por ter sido nela
que conheci duas das pessoas mais bacanas e de bom coração da viagem. Nápoles
foi especial.
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