The Darkness foi luz em nossas vidas


Quando voltei do meu mochilão em janeiro quase morri do coração quando, de madrugada abri a porta do meu quarto e encontrei uma bolinha de pelos preta se mexendo no chão. Ela mal tinha aberto os olhinhos, andava toda atrapalhadinha e mal latia. Eu não sabia se queria ter uma cachorra, ainda mais uma que chorava a noite inteira.
No dia seguinte João Marcelo me contou toda a história. Ele tinha a ganhado de um tio, disse que ela era bem novinha e que não ia crescer muito. O tempo foi passando e The Darkness – nome escolhido por João Marcelo e Henrique – desenvolveu hobbies estranhos, mas comuns entre os cachorros, como: fazer xixi em todos os tapetes da casa, roubar meus calçados e levar para rua, fugir de mim carregando meus pertences, ficar sempre grudada nos meus pés dificultando até mesmo minha locomoção e apesar disso tudo, começou a conquistar meu coração.
Ela era uma cachorra que talvez tivesse crise de identidade, primeiro pelo nome... que tinha gente que não conseguia falar ou simplesmente ignorava, como minha vó que ao ouvir o nome disse: “Eu vou chamar de Pretinha”, minha mãe as vezes chamava ela de Bruxinha e avacalhava com a ortografia do nome da bichinha, ainda no domingo me enviou uma foto delas tomando chimarrão com a legenda “De Darkes”. Tudo bem, ela atendia. 
Outro complexo da vida dela era os “parentescos”, João Marcelo dizia: “Vem com o pai, coisinha mais linda do pai”, minha mãe dizia: “Vem com a mãe, lindinhaa” se parasse por ai a cachorra já deveria estar confusa – como assim meu irmão e minha mãe eram os pais da cachorra? – mas não parava, o Felipe também se intitulava pai e semana passada recebi o convite para ser a mãe, João Marcelo até ficou triste quando recusei... ele disse que a Mãe – a nossa – tinha que ser a avó, já que ele era o pai. Resumo... eu fiquei como irmã da cachorra, me recusei a ficar como titia, é claro.
Há umas três semanas ela andou brincando com um sapo e ele a intoxicou, a cachorrinha quase morreu, não conseguia comer e ninguém sabia o que tinha acontecido, o veterinário disse que podia ser por causa de sapos, mas não garantia que ela fosse melhorar. A gente fez o tratamento, deu remédio de madrugada. Ela dormia comigo enquanto estava para morrer e eu rezava pra não acordar com ela morta ao meu lado. Tremia a noite inteira e eu chorava. Chorava por amar tanto aquele pobre bichinho que não conseguia nem falar o que estava sentindo. Ela melhorou e logo começou a recuperar o peso perdido.
Como todos lá de casa a “cachora” como era chamada pela Sophia se rendeu a culinária de nossa avó e estava engordando desde que começou a visita-la. Minha avó dizia que ela era uma ótima companhia, carinhosa, “chegadeira”, não deixava ninguém triste e é verdade a The Darkness, apesar do nome foi luz em nossas vidas.
Ela era vida em ebulição, sempre feliz, sempre saltitante, sempre encantando todo mundo la de casa. Ela aprendeu que a mãe Sandra não gostava dela fazendo as “caquinhas” dela nos tapetes e começou a fazer tudo isso na rua, aprendeu que a Cól não gostava de abrir a porta as 5:30 da manhã pra ela sair e começou a bater em outra porta, deixou de roubar as roupas que eu estava prestes a vestir e até mesmo os banhos, ela estava começando a aceitar que não tinha como evita-los.
Hoje ela escapou de casa, desceu, foi junto com o filho da mulher que trabalha lá em casa. Queria ver a vó, pois só a vó dava aquela carninha pra ela, que era muito mais gostosa do que a ração, mas ela se distraiu em um lixeiro que tem lá por perto e foi ai que apareceu um animal, muito mais irracional que ela e a atropelou. Por pura vontade.
Os vizinhos viram quando ele acelerou o carro e atropelou a nossa The Darkness quase em cima do meio fio. Queria apenas dizer que eu sei quem você é, sei qual seu carro, onde você trabalha e espero sinceramente que você sinta vergonha pelo que fez. Você foi um boçal e deve ser uma pessoa muito frustrada, por querer matar um animal que nunca tinha feito mal a ninguém. Tudo bem, ela não deveria estar na rua, mas mesmo que fosse um cachorro sem dono você não teria esse direito.
Donos ela tinha muitos, que hoje estão todos aos prantos. Ela era uma vira lata e a gente concorda que ela nem era tão bonita, tinha aquelas orelhas parecidas com morcego e agora que tinha descoberto as comidas da vó estava virando uma bolota, mas ela foi a melhor cachorra que já tivemos. O amor coberto de pelos. A escuridão mais radiante que já se viu.
Conquistou nossos corações, até mesmo o coração de pedra de Dona Sandra, que nunca nem tinha deixado um cachorro entrar na nossa casa e agora dividia a cama com a “cachora” muitas vezes ou o coração do Henrique, que fazia que não a amava, mas se derretia de amor por ela quando ninguém estava olhando.
O Lucas não mais terá alguém para dividir a bergamota depois do almoço, o Felipe não vai mais ter quem dar um beijinho quando chegar da faculdade, eu a vó e o João Marcelo não teremos mais a nossa cachorrinha pulante na hora do almoço e a mãe perdeu seu companheira de chimarrão.
Acidentes acontecem, mas o que aconteceu hoje não foi um acidente.

Querido amigo, vizinho de rua, obrigada por tirar parte da alegria de nossa casa. Nessa história só falei de um animal irracional, você, pois a The Darkness era cheia de amor e com certeza com um coração melhor do que o seu. 

Fotos com legendas que poderiam ter sido escritas por The Darkness:


Estudando com a Carol

Super feliz (SQN) com minha coleira

Sendo linda

Sorrindo. Quem se parece com um mocego é você, babaca! 

Fazendo uma das coisas que mais gosto na vida, comer o pé da Carol

Sendo linda desde filhotinho

Mimindo de ladinho

De boa depois de fazer xixi no tapete do quarto da Carol

Bom Dia, estava aqui dormindo com meu pai, em minha posição preferida para mimir

Dormindo no quarto da Carol, like a human

Mais uma mimidinha
Tomando um chimas com minha mãe e meu outro pai

Somos três princesas e como eu não consigo comer o pé da Carol agora, vou comer esse dedo magro mesmo

Hello!

Eu e Sophia brincando no jardim, antes de eu a atacar

Meu pai me obrigando a olhar pra foto

Na verdade eu acho a Sophia meio Felicia daquele desenho animado, mas a Carol sempre
me obriga a ser simpática com ela

Eu, meu pai e o Henrique, faltou só o Felipe, meu outro pai, a pessoa que eu mais amo no mundo

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