Quando estávamos realizando o levantamento histórico da
comunidade da Barra da Jararaca – Arnópolis – entrei em contato com a senhora Alciria
Helena da Cunha Kirst para colher algumas informações, ela prontamente se dispôs
a ajudar e me enviou um material riquíssimo que faz com que possamos ter noção
de como era a comunidade da Barra da Jararaca.
Os textos de autoria de Dona Alcíria são ricos em detalhes e
fazem você você viajar até a extinta comunidade.
Na Barra (como
era chamada a Vila) não havia eletricidade. Somente no casarão da Sociedade
Colonizadora Catarinense, que ficava a 200 metros da Vila e também na residência
do seu Chico Machado, um comerciante que morava a dois quilômetros distantes da
Vila em um local chamado Rio Engano. A maioria dos moradores possuía lampião e
lamparina, que funcionavam com querosene, mas as velas ainda eram muito usadas.
Não existia água
encanada; a água era retirada de olhos d´águas, nascentes que corriam das
montanhas abaixo. Até a água do rio era utilizada na época, pois não existia
poluição. A água era armazenada em grandes vasilhames para uso diário. As
roupas eram lavadas diretamente no rio; com isso se tornava muito difícil para
realizar as tarefas diárias, principalmente no inverno e com os dias chuvosos.
Era um vilarejo muito bonito, com suas casas todas construídas em madeira e
muitas em estilo colonial. A maioria das residências possuía belos jardins
floridos com os mais diversos tipos de flores, sendo os mais usados na região
devido ao clima propício: amor-perfeito, cravo, margaridas brancas, camélia e
copo de leite, tornando assim nosso vilarejo muito bonito e alegre.
Era comum também
cada residência possuir sua horta e seu belo pomar de frutas para o próprio
consumo. As frutas mais cultivadas eram: laranja, bergamota, pêra, pêssego,
limão, etc.
Na agricultura eram
cultivados: a batatinha inglesa, o feijão, o milho, a abóbora e o arroz. O
arroz e o milho eram levados ao moinho rural do Sr. Frederico Rolla que ficava
no Rio Engano, para que fossem beneficiados. Muitas vezes o pagamento era feito
com troca de mercadorias.
Como não havia
energia elétrica costumava-se fazer lingüiça e charque quando um animal era
abatido; parte do animal era vendida para os vizinhos.
Os meios de
transporte da comunidade eram: charretes, carroças, carruagem ou “carro de
molas”, carro de boi, cavalos e bicicletas. Com tudo isso, se tornava bem
difícil na hora em que surgia uma doença ou um acidente no trabalho ou no lar.
Lembro que eu mesma, com meus seis anos, sofri um acidente ao cair do carro de
mola e bati a cabeça na roda da carroça que estava parada ao lado. Socorro só
tínhamos na localidade de Rio Bonito, distante uns seis quilômetros. Na
residência do Sr. Carlos Thisen havia um farmacêutico que atendia a todos os
moradores da região. Ainda se fazia o uso dos produtos oferecidos pela natureza.
Chás e homeopatias eram fornecidos pelo Sr. Paulo Schlichting que morava no
casarão da Sociedade Colonizadora Catarinense. Tínhamos ainda na Vila o Armazém
de propriedade do seu Alberto Probst, onde se comprava farinha de trigo, açúcar
refinado, sal, querosene para iluminação, alguns tecidos, meias, caramelos,
lápis, borracha, um ou outro perfume, ratoeiras, arame farpado, penicos,
louças, panelas, talheres, velas, etc.
Havia também o dormitório
do seu Benjamin Andersen e um Cemitério que ficava numa elevação ao lado
esquerdo no final da Vila, em direção a Alfredo Wagner; barbearia, alfaiataria,
um salão para festas, casas de pequeno comércio, e a escola. Esta comunidade
era habitada por homens e mulheres trabalhadores, honestos e dignos. Na época todo negócio era feito verbalmente e
o compromisso era cumprido a risca.
Vamos conhecer mais sobre a comunidade?
Obs: Todas as fotos que aparecem nos textos pertencem ao acervo pessoal da família de Dona Alcíria.
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