A Mota Gueta Scheidt Guckert nos conta um pouco de sua historia e casamento com o saudoso Aron Guckert

No dia 14 de novembro passei uma tarde agradável na companhia da família da Dona Gueta[1], mais conhecida como a Mota – não minha, mas de muita, muita gente. Durante a conversa, Dona Gueta me contou um pouco sobre a infância no Alto Rio Caeté, o casamento e como era a vida em outros tempos.
Geta Scheidt Guckert nasceu no dia 10 de outubro de 1936, filha de Evaldo Scheidt e Ana Heinz Scheidt. Ela era a mais velha de 6 filhos e muito cedo já teve a responsabilidade de ajudar no sustento da família. Quando tinha 13 anos seu pai faleceu e sua mãe estava grávida de seu irmão mais novo. Com a morte do pai, a mãe e aos filhos mais crescidos passaram a ser responsáveis de garantir o sustento da família.

Gueta, os irmãos, pais e avó materna

Dona Gueta recorda ainda que quando seu irmão mais novo tinha 8 meses, sua mãe precisou passar por uma cirurgia no útero. Esta cirurgia aconteceu em Ituporanga e durante o tempo que a mãe ficou hospitalizada, ela e o irmão de 12 anos cuidarem dos irmãos menores e ainda roçaram um pedaço de terra, por conta própria, para plantarem uma roça.
Todos na casa de Gueta falavam apenas Alemão, mas isso não era apenas na casa dos Scheidt, ela recorda que praticamente todo mundo no Caeté falava esse idioma, com exceção de algumas famílias, como era o caso da família do José Maria, seus vizinhos. Seu Evaldo falava um pouco de Português, mas como não teve tempo de ensinar aos filhos e quando estes entraram na escola tiveram um grande problema, pois eles só falavam em Alemão e a professora Dona Rute, apenas em Português. Mas esse era um problema comum, pois todo mundo entrava na escola sem nem conhecer o idioma da professora. Dona Gueta recorda que Rute passava a semana em sua casa e foi isso que ajudou ela e os irmãos a aprenderem mais rapidamente o Português.
O tempo na escola foi curto, apenas 1 ano, mas bastou para que ela aprendesse a fazer contas, ler e escrever, além de aprender a falar o Português. Ela teve que sair da escola para ajudar a mãe em casa.
Eles plantavam batata, milho, feijão, trigo, criavam algumas galinhas, porcos e gado leiteiro, faziam queijos, chimias... O trigo virava farinha na Tafona do Seu Guilherme Schaffer que morava ali próximo, os grãos de café também tinham que ser torrados, bater o feijão, o milho... a carne, na maioria das vezes de porco era frita e guardada dentro de uma lata de banha, não existia luz elétrica, os banhos eram tomados em gamelas ou no arroio que existia perto da casa, os fogões eram tocados a lenha e as noites iluminadas por lampiões a querosene,  era uma vida difícil, de muito trabalho e desde criança já se aprendia a arregaçar as mangas e trabalhar junto com os pais. No natal sempre tinha um pão de milho, bolachas, mas isso era apenas em datas especiais, no dia a dia o pão era feito de milho, carah e batata doce.
Gueta e Aron se conhecem
A vida ia passando e em uma das festas da igreja Dona Gueta conheceu Aron. Aron Guckert nasceu no dia 05 de outubro de 1933 e era filho de Pedro Guckert e Emila Berger Guckert, também morava no Caeté, próximo ao Morro Redondo. Logo que se conheceram, se gostaram e começaram a namorar. O namoro durou dois anos e no dia 28 de maio de 1954 eles se casaram. Do casamento nasceram 8 filhos e o início da vida a dois foi em uma casa construída com a madeira serrada a mão, direto da mata. A casa da família ficava próxima a casa da mãe de Gueta.
Dos 8 filhos do casal, 7 deles nasceram no Caeté e com ajuda de uma parteira. A parteira era dona Meta Schlemper, que morava no Rio Adaga. Quando Gueta via que a hora do parto estava chegando, Aron pegava um cavalo e ia “atoda” em busca da parteira. Eram momentos de agonia até que ele voltasse com a ajuda. Gueta lembra que o primeiro parto foi o mais difícil, pela dor e também pela expectativa de não saber direito como tudo acontecia.
Casamento de Gueta e Aron
Os filhos relembram que a gravidez naquela época não era anunciada como nos dias de hoje, muitas vezes eles só sabiam que teriam um irmãozinho ao desconfiarem, por terem que ir dormir na casa da Mota – Mota e Fata ou Mutter e Vater usando a grafia correta em Alemão, significa mãe e pai, porém comumente aqui em Alfredo Wagner se usa as expressões citadas para se referirem a avó e avô, que em Alemão são oma e opa.
A família trabalhou muito e prosperou, aumentando suas terras e adquirindo outras coisas, entre elas um Jeep. Foi o primeiro Jeep do Caeté e com ele seu Aron ajudava muita gente. Foram muito doentes e grávidas que seu Aron ajudou.
Os filhos e a esposa lembram que não importava se era noite ou dia, se chovia ou o que fosse, se alguém precisasse ele sempre ajudava. Como naquela época não existiam pontes, o Jeep tinha que atravessar algumas vezes o rio até chegar ao Barracão. Para atravessá-lo ele entrava de ré, para evitar que a água molhasse o motor. Nessas viagens, seu Aron acumulou algumas boas histórias, como a de uma vez que ficou preso no rio, com o carro encalhado e precisou de ajuda para retirá-lo. Tem também a história da grávida que quase teve o bebe dentro de seu carro. Ela precisava ir até Bom Retiro para ter o bebê, a viagem durava cerca de 1 hora e meia, e no meio do caminho – na Lomba Alta – a mulher entrou em trabalho de parto, fazendo com que seu Aron parasse em uma casa em busca de ajuda, a senhora teve o bebe ali mesmo, deixando seu Aron bastante nervoso.
Alguns dos filhos do casal
Nem sempre as pessoas tinham como pagar para Seu Aron leva-las até os locais e geralmente davam uma galinha, um porco, algo em troca. Os filhos riem, lembrando que o carro do pai mais parecia uma ambulância, levando todos que precisavam em busca de ajuda. Esse foi um dos motivos pelo grande número de afilhados, 19 no total, fora os inúmeros casamentos que Dona Gueta e Seu Aron foram padrinhos.
Em 1968 resolveram sair do Caeté, em busca de uma vida com mais conforto. Seu Aron tinha começado a sofrer do coração e queria se afastar um pouco do trabalho mais forçado, mas não conseguiu ficar longe da roça, que era uma de suas paixões, ele dizia que queria morrer na roça.
Vieram morar na Águas Frias e “tinha até luz elétrica, pena que a gente não tinha nada para colocar nas tomadas” (sic). A família ganhou um membro, essa nascida em um hospital e, então, os netos começaram a chegar.

Casal e os filhos nos anos 90

Seu Aron foi um grande fata, daqueles atenciosos, brincalhões, que gostava de dançar com os netos pequenos. Como fata ele conquistava o amor até de netos que não eram de sangue, era adorado por todos e por isso o dia 7 de janeiro de 1999 foi um dia muito triste para muita gente.
Seu Aron realizou sua vontade, aquela de morrer na roça. Um ataque do coração tirou sua vida, quando ele estava trabalhando na roça de um terreno que a família tinha adquirido no Rio Adaga.
Seu Aron se foi, mais deixou uma família linda, que guarda com orgulho os ensinamentos e as histórias deixadas pelo homem que os ensinou a trabalhar, a amar e a viver uma vida de bem.
A Mota Gueta continua forte, com uma memória de dar inveja a muitos e uma alegria de viver contagiante.
No mês passado ela completou 80 anos de vida e reuniu toda a família para uma grande comemoração: foram filhos, netos e bisnetos que se reuniram para comemorar a vida dessa grande mulher que desde cedo aprendeu a trabalhar e lutar pela família.





[1] Nome escrito conforme pronúncia em Português.

Mais algumas fotos de família:

Aron quando jovem
Aron, pais e irmão

Casamento da irmã de Gueta

Gueta e Aron

Gueta e Aron
Gueta e amigas

Casamento na casa de Gueta e Aron

Batizado de uma neta
Primeira comunhão

Casal Gueta e Aron em uma festa

Casal com um mais um neto

Aron com pais, irmãos e cunhados (as) e esposa

Foto de casamento na praça da cidade

Amigos da juventude

Filhos e netas
Dona Gueta no dia da comemoração de seus 80 anos
Mota Gueta com seus filhos

Mota Gueta com seus netos

Mota Gueta com seus bisnetos

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