Auschwitz - A dor de visitar o campo



Visitar Auschwitz foi, sem dúvidas, uma das experiências mais marcantes de minha vida. É claro que eu já tinha ouvido muitas histórias sobre o local, mas estar lá é completamente diferente.
Eu poderia escrever muito sobre o tema, o Holocausto sempre me despertou muito interesse e já estudei muito sobre o genocídio, já chorei muito debruçada em cima de livros, em uma tentativa inútil de entender como tudo isso foi possível de acontecer. Mas o texto de hoje não é uma aula de história, são apenas algumas reflexões sobre o que meus olhos viram.
Quando a gente dá um rosto para cada um daqueles números é impossível segurar o choro e a tristeza.
Auschwitz é imenso. Muito maior do que o centro da cidade onde nasci no Brasil, nesse campo de concentração, que era o maior dos nazistas, morriam mais de 10 mil pessoas por dia.
Cada uma dessas mortes está impregnada na energia que o lugar carrega.
Andar por Auschwitz acompanhada apenas pelo som dos passos dos outros visitantes é angustiante. Ninguém conversa, ninguém sorri, pois lá não existem motivos para isso.
Minha visita começou pelo campo Auschwitz 2, onde ficava a área destinada a mulheres e também às crianças. Sim, crianças, que na maioria das vezes já iam direto para as câmaras de gás. No pavilhão destinado a elas, uma pintura na parede para amenizar a dor. Amenizar a dor? Como se isso fosse possível. Diminuir a dor por terem suas famílias e vidas destruídas sem motivo algum?
No dia em que visitei o complexo, o termômetro marcava cerca de 1 grau, meu corpo protegido por quatro camadas de roupa ainda sentia frio. Dava para imaginar como se sentiam os prisioneiros com seus corpos fracos e frágeis vestindo apenas uma roupa feita por um frágil tecido. Os lagos congelados do local guardam as cinzas dos que não resistiram ao frio, a fome, às doenças ou morreram cruelmente dentro das câmaras de gás.
Indo para o Auschwitz 1 o coração que já estava apertado se juntou a um embrulho no estômago e ao sentimento de vergonha, por pensar que hoje ainda tem gente que usa uma suástica no braço, tendo orgulho de algo tão grotesco quanto o que aconteceu com essas pobres pessoas.
Nessa parte da visita é que de fato os números ganham faces, estampadas nas paredes e corredores.
Nessa parte da visita é que entramos em uma sala com mais de duas toneladas de cabelo humano, cortada da cabeça das mulheres mortas nas câmaras de gás e que depois eram vendidos para indústrias alemãs.
Nessa parte da visita é que nos deparamos com milhares de pares de sapatos esperando por seus donos.
Nessa parte da visita é que foi impossível para mim segurar as lágrimas.
No canto de uma das vitrinas me deparei com um par de sapato amarrados pelos cadarços. Seu dono na esperança de reencontrá-los amarrou um pé no outro com esmero, para que ele não estivesse misturado aos outros na sua volta.
Ele nunca voltou.
Meio milhão deles não voltaram para pegar seus sapatos.
Meio milhão que se juntou com os outros 5,5 milhões de judeus que morreram nesse período da história. Uma história tão atual que ainda pode ser contada por quem a viveu de perto.
Estar dentro de uma câmara de gás, mesmo que desativada também é uma experiência angustiante. Quanto sofrimento aquelas paredes testemunharam. Eles pensavam que estavam indo apenas para um banho, mas encontravam a morte vinda pelo Zyklon B que saía do teto e matava todos em poucos minutos. “A solução final para o problema judaico”.
A malas de Esther, Ruth, Erna, Marie, Jacob, Alan e tantos outros ainda estão lá, em uma espera eterna por seus donos. E nós ainda estamos aqui, esperando que essas histórias sirvam de exemplos para que atrocidades como essas nunca voltem a acontecer. Mas aparentemente o ser humano cegado por seu ego nunca aprende.






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1 Comentários

  1. Seus sentimentos de indignação são os mesmo a que os meus. Nunca visitei o lugar e não sei o que sentiria, mas já li livros, documentários e realmente nos perguntamos onde estava as pessoas ao redor do mundo que não socorreram ou fazeram algo a respeito. E como tantos milhões de soldados puderam compactuar com tamanha crueldade, desumanidade?
    Mais triste em saber que o país se ergueu e seguiu em fremte como se nada tivesse acontecido. E as pessoas envolvidas poucas foram punidas.

    Triste realidade!😢😢😢

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